sexta-feira, 26 de agosto de 2016

a famigerada história das mochilas - parte 1

quando eu tava escrevendo esse post aqui, fiquei lembrando do turbilhão de acontecimentos da época da escola e me deu vontade de contar uma outra história, que é absolutamente absurda e que provavelmente é uma das minhas preferidas da vida, daquelas que eu guardo com muito carinho na memória e no fundo do coração. dá um pouquinho de vergonha também, mas preciso admitir que o sentimento que prevalece é a saudade desse momento maravilhoso (sem falar do orgulho que eu ainda sinto dessa nossa imbecilidade juvenil bem sucedida).

na oitava série (que eu infelizmente já era obrigada a chamar de nono ano, pro meu desgosto), lá nos longínquos anos de 2009, eu tava 100% focada em dar risada com os meus amigos, matar aulas, fazer guerrinha de papel e comer uns salgadinhos no intervalo. prestar atenção nas aulas, estudar pras provas e tirar nota eram as menores das minhas preocupações. no caso, eu não me preocupava com essas coisas de jeito nenhum. sabia que dava pra continuar passando de ano tranquilamente, com várias notas azuis no boletim, mesmo sem realmente me esforçar pra isso. foi o ano em que eu mais fiz bobagem, o ano em que eu mais me diverti.

o dia mais emocionante foi, de longe, o dia das mochilas. o mais estapafúrdio, também, porque até hoje eu me pergunto como é que nosso plano funcionou - ou quase.

tudo começou no intervalo das aulas. meus amigos e eu estávamos sentados numa mesa na cantina, como num dia qualquer. até que tocou o sinal, indicando que tava na hora de voltar pra sala, e alguém disse que não queria ir pra aula, que queria continuar por ali. tinha um menino de outra classe que às vezes andava com a gente, mas ninguém gostava muito do cara. quando ele disse que também mataria aula, nós desistimos. numa vibe bem "se ele vai ficar, eu não quero. prefiro ver aula de geografia" (nós tínhamos 14 anos, era todo mundo meio escroto).

mesmo que a gente já tivesse se decidido a subir pra aula, mesmo que ninguém tivesse dado bola pra ele, o menino insistiu bastante, provavelmente porque queria dar uma de transgressor. pra ver se o bendito parava de encher o saco, alguém sugeriu que ele matasse aula sozinho mesmo. o menino se animou, mas pediu ajuda pra escolher um lugar pra onde ir. algum ser abençoado (talvez eu mesma, vai saber?) sugeriu que ele ficasse escondido na nossa classe (lembrando que ele era da outra) durante essa aula, porque já tinha passado um pouquinho do horário e seria difícil ele conseguir escapar dos inspetores. por incrível que pareça, ele achou que era uma boa ideia.

aí nós tínhamos um grande problema em mãos: onde esconder um menino que era de outra de outra classe? ele não podia simplesmente sentar ali no meio da gente, qualquer professor perceberia instantaneamente. não consigo lembrar quem foi o ser iluminado que surgiu com a solução, mas é uma pessoa que sinceramente merece palmas. alguém sugeriu que o menino sentasse no chão atrás de uma das carteiras e que a gente colocasse todas as nossas mochilas em cima dele, pra esconder o rapaz. E ELE ACEITOU SE SUBMETER A ISSO. não sei se a imagem ficou muito clara, mas vou tentar explicar melhor: o menino sentou no chão no vão entre duas carteiras e se encolheu ao máximo. então a gente colocou uma cacetada de mochila em cima dele, tipo umas vinte (ou mais, provavelmente) e fez tipo uma barricada, porém com ele escondido ali embaixo. era tipo isso, só que com mochilas no lugar dos sacos:

(vamos ignorar o contexto da imagem da cima e qualquer outra coisa nela que não seja a barricada em si, fazendo o favor!)

a aula tinha duração de CINQUENTA MINUTOS. e o menino ficou lá embaixo soterrado esse tempo todo. eu nunca entendi se ele realmente tava de boa, se ele tava com medo demais de sair de lá antes da hora certa e ferrar tudo, ou se ele só não queria ser o estraga prazeres da vez. de qualquer forma, o coitado ficou lá sem reclamar, sentadinho, soterrado. e às vezes dava pra ver uns fiozinhos de cabelo escapando pelo meio das mochilas, dava pra ver a barricada subindo e descendo conforme ele respirava. eu tava tão nervosa com essa situação toda que não conseguia parar de rir. mas não era uma risada gostosa, natural, de quem tá se divertindo. era aquela risada de quem tá absurdada demais com a situação pra conseguir ter outra reação, foi uma das coisas mais surreais que eu já vi na vida. 

bom, passados os infinitos cinquenta minutos, a aula acabou. aí a gente precisou dar um jeito de tirar o menino dali sem o professor perceber, o que me parecia completamente impossível, porque a sala não era tão grande assim e o professor obviamente ia ver uma pessoa saindo de dentro de uma montanha de mochilas. eu sou bem cara de pau, então fui a escolhida pra ir conversar com o professor e tentar prender a atenção do cara enquanto o coitado fugia de fininho. fui lá com a minha apostila tirar alguma dúvida qualquer, que eu inventei na hora mesmo, e o homem ficou tão feliz com o meu suposto interesse na matéria que o plano funcionou. MANO, o menino conseguiu sair da sala e correr pro banheiro sem o professor perceber absolutamente nada! eu ainda não consigo acreditar que o cara não percebeu, continuo achando que ele simplesmente preferiu evitar a fadiga de lidar com essa situação e deixou a bomba estourar na mão de outra pessoa.

o menino finalmente saiu da sala e correu na direção do banheiro, tudo conforme o plano. o problema é que a professora que estava dando aula na sala dele sabia que ele tava sumido. a mulher fez a chamada e, quando perguntou por ele e não obteve resposta, as pessoas contaram que ele não tinha voltado do intervalo. foi aí que a coisa descambou...


* como essa história é longa e esse post já tá enorme e eu preciso facilitar o meu próprio lado nesse bendito desafio de 01 texto por dia, deixo a continuação pro post de amanhã. ;)

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