sábado, 27 de agosto de 2016

a famigerada história das mochilas - parte 2

* no post de ontem eu contei a primeira parte dessa história louca. se você não leu ainda, clica aqui e confere o começo do causo antes de ler a continuação e o desfecho ;)

bom, como eu tinha dito: a coisa descambou quando a professora da outra classe descobriu que o menino deveria estar lá, porém não estava. nós sequer pensamos no professor da outra classe quando arquitetamos o nosso plano brilhante, nossa única preocupação era o professor da nossa própria classe. por mais óbvio que isso fosse, não passou pela nossa cabeça que o problema maior estaria do lado de lá. e nós não tínhamos como saber, porque estávamos com a porta da classe fechada, mas os inspetores já estavam todos sob aviso, todos procurando o menino desaparecido.

ou seja, quando ele saiu da sala e correu em direção ao banheiro, ele sequer chegou lá. o coitado foi interceptado no meio do caminho. nós, as pessoas da minha classe, nem saímos no corredor nesse intervalo de aula, pra evitar ao máximo qualquer tipo de problema. na nossa ingênua mentalidade, dava pra escapar ileso dessa aventura. ninguém nem cogitou que o menino receberia algum tipo de punição por ter desaparecido durante uma aula. mas nós obviamente estávamos bem enganados quanto a isso...

tava todo mundo um tantinho nervoso com a situação, mas como aparentemente estava tudo sob controle, a gente seguiu em frente como se nada tivesse acontecido. até que, no meio da aula seguinte, a diretora e a coordenadora da escola apareceram. eu até prendi a respiração por alguns segundos, porque não sabia como reagir, mas mantive a pose de quem não tinha nada a esconder (como eu disse, eu sou bem cara de pau quando a situação pede).

num primeiro momento, elas entraram unicamente pra convocar dois amigos meus, que faziam parte do meu grupinho, pra ter uma conversa em particular na sala delas. foi aí que eu entrei em desespero. quando eu vi os dois saindo por aquela porta, um buraco abriu no meio do meu estômago e eu quase fui sugada lá pra dentro. mesmo sem saber exatamente o motivo deles terem sido chamados, eu sabia que era porque a culpa tinha caído sobre eles. fiquei muito nervosa, quis ir atrás, enfim, eu não conseguia acreditar que meus amigos seriam punidos por uma coisa que eu também tinha feito. o sentimento de culpa não era por ter participado dessa bobagem, era por ter permitido que os meus amigos recebessem o ~castigo~ sozinhos.

depois de um tempo eles subiram de volta pra classe e contaram pra gente que o tal do menino que cabulou a aula realmente tinha jogado a culpa em cima deles dois, mas que elas não acreditaram que aquilo tudo tinha sido feito só por duas pessoas. quando a coordenadora reapareceu, ela tava acompanhada da professora que percebeu o sumiço do menino. era a professora de português, a minha preferida. eu quase me senti arrependida quando vi a cara dela de decepção, mas no fundo eu ainda tava me sentindo muito feliz por ter conseguido distrair o professor de geografia a ponto do menino escapar da nossa classe sem impedimentos.

a professora de português perguntou quem mais tinha participado do episódio das mochilas, porque ela também não comprou a ideia de que só dois meninos fossem os responsáveis. só eu e mais duas ou três pessoas levantamos a mão. todos os outros trinta alunos, que haviam cedido as suas mochilas e se divertiram tanto quanto nós, fingiram que não sabiam de nada. a professora perguntou de novo, mas ninguém mais se manifestou. ela disse que tinha certeza absoluta que todo mundo que tava ali tinha participado, que seria impossível alguém não ter visto o que aconteceu numa sala daquele tamanho, e deu a entender que admirava nossa coragem por ter admitido. o sorriso de triunfo apareceu instantaneamente no meu rosto, mesmo sabendo que algum tipo de punição ainda estava por vir.

quando o castigo chegou, eu mal acreditei. provavelmente a coordenação deve ter sugerido algo mais rígido, mas a professora de português teve uma outra ideia (ela foi quem se sentiu pessoalmente atingida pela nossa ~traquinagem~, enquanto o professor de geografia NUNCA se manifestou a respeito). a professora pediu pra cada um daqueles que levantaram a mão escrever uma redação (!) contando como se sentiu (!) ao fazer o que nós tínhamos feito. nossa pena por ter soterrado o menino da outra sala por cinquenta minutos foi fazer um textinho sobre os nossos sentimentos. ESSE FOI O CASTIGO MAIS DE BUENAS DA MINHA VIDA TODA. pra resumir a minha redação, eu disse que tinha consciência de que foi uma atitude errada, mas que não estava arrependida, porque ninguém tinha se machucado e a gente tava só brincando. também disse que me senti feliz enquanto a coisa acontecia e que depois me senti brava pra cacete, porque o menino tava tirando o corpo fora e querendo jogar a culpa toda pra cima dos outros, como se ele não tivesse sido o centro da coisa toda.

quanto à punição do próprio menino das mochilas, ele teve que dar a aula de português que ele perdeu HAHAHAHA a professora juntou as duas classes e o coitado foi lá na frente explicar pra nós o conteúdo que ele não teve, porque infelizmente inventou de ficar escondido na sala da frente. foi apenas maravilhoso.

eu já não era muito fã desse ser humano antes do tal acontecido, mas depois disso eu peguei uma antipatia tão grande pelo rapaz que eu desviava o meu caminho só pra não precisar cruzar com ele. caso o menino não tivesse tentado ~incriminar~ os meus amigos, ele poderia finalmente ter sido incluído no nosso grupinho de uma vez por todas. como ele foi cuzão, eu nunca fui capaz de parar de sentir vontade de socar a cara dele.

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