quinta-feira, 25 de agosto de 2016

fotos antigas, liberdade e amor

aqui em casa tem uma caixa enorme repleta de álbuns antigos, com fotos desde a época em que meus pais eram novinhos até a minha infância. uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida é ver essas fotos. por mais que eu já tenha praticamente decorado até a ordem em que elas aparecem dentro dos álbuns, a sensação é sempre maravilhosa. me transporto pra dentro das imagens, revivo lembranças há muito esquecidas, invento histórias pros momentos que eu não vivi... me dá um calorzinho no peito, fico transbordando de sentimentos bons.

da última vez que eu olhei essas fotos, fiz isso com um carinho ainda maior: separei as mais especiais. com o meu celular, tirei fotos das minhas escolhidas. sendo assim, agora elas estão sempre comigo, ao alcance da minha mão. quando eu quiser matar as saudades, independente de onde eu estiver, mesmo que seja muito longe da caixa, elas estão pertinho de mim.

analisando esse monte de foto antiga, deu pra concluir algumas coisas a respeito da minha família: meus pais tiveram péssimos cortes de cabelo, meu pai usava umas roupas muito estilosas, minha mãe era absolutamente linda, meu irmão foi uma criança muito fofa e eu, em alguns momentos, parecia um menininho.

gente, sério, olha isso:


parece muito um rapaz, mas eu juro que sou eu. por muitos anos eu olhei pra essa foto e fiquei seriamente na dúvida. precisei da confirmação da minha mãe pra finalmente conseguir aceitar que essa criança com cara de sono e cabelo bagunçado era euzinha mesmo e não algum primo, ou outro alguém simplesmente muito parecido comigo.



aparentemente meus pais não eram desses que só podiam vestir a filha menina com roupas cor de rosa, lacinho no cabelo e vestidinho com estampa de flor. por mais que minha mãe gostasse sim dessa história de me vestir igual bonequinha (eu tinha uma chupeta de cada cor pra combinar com os meus mais variados looks ^^), meus pais tinham plena consciência de que, antes de qualquer coisa, eu era uma criança. usava boné em vez de chapéu com babadinho, ficava sem camiseta em vez de usar a parte de cima do biquíni (até porque não há a menor necessidade de uma criança de 2 anos cobrir os peitinho, né? sem contar que deve incomodar pra cacete) etc etc etc. 



daí eu cresci e quis usar um pijama comprido e listrado de azul marinho e branco, não uma camisola lilás com o desenho de alguma princesa (nada contra, inclusive gosto muito ainda hoje, só não era minha vibe na época). e eu também quis um patinete verde, mesmo que a moça da loja tenha falado que essa cor era ~de menino~, porque verde é uma das minhas cores preferidas. meu pai não tentou me convencer a comprar o vermelho cereja - o famigerado ~de menina~ - porque ele me respeitava como uma pessoinha que já podia tomar as próprias decisões sobre a cor dos brinquedos. além disso, ele sabia muito bem que uma coisa não tinha absolutamente nada a ver com a outra. se eu queria o verde, era esse que eu ia ganhar. dane-se a moça da loja e o patinete feminino.  

mesmo que eu já tenha escutado coisas como "você é menina, tem que ajudar sua mãe a arrumar a mesa", aqui em casa as coisas sempre foram bem equilibradas. meu irmão tinha que lavar a louça todo dia, não se safou dessa tarefa só porque era homem. apesar de tudo, cresci num ambiente em que sempre me senti muito a vontade pra falar, fazer e usar o tipo de roupa que eu quisesse. minha família tá longe de ser perfeita, mas seria absurdamente maravilhoso se mais pais por aí fossem iguais aos meus. vendo essas fotos antigas eu percebi o quanto eu sou privilegiada por sempre ter sido tão amada e respeitada por esses dois, que sempre me deram toda a liberdade possível pra ser quem eu sou. por mais clichê que isso seja, não dá pra negar que eu devo a eles tudo o que eu sou hoje. 

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