sábado, 8 de julho de 2017

aplicando a técnica da surdez seletiva

eu poderia real abrir uma categoria aqui só pra registrar os diálogos surreais que eu tenho com os meus colegas de trabalho. o pessoal é legal, eu gosto deles, mas pra sobreviver naquela empresa eu preciso abstrair pelo menos uns 70% do conteúdo das conversas senão eu fico louca. é bem naquela vibe "sorri e acena", sabe? não dá, não consigo. fico concordando com a cabeça e de vez em quando dou umas risadas, mas sem realmente ouvir o que tão me falando, porque aquelas pessoas falam cada absurdo que nem parece de verdade.

só pra contextualizar, eu trabalho numa escola num bairro de gente rica. interpretem essa informação como quiserem.

tem uma moça que trabalha comigo (que será chamada mais pra frente de pessoa B) que mora praticamente na esquina da escola, é muito perto mesmo. e ela é a rainha das pérolas, a moça realmente fala umas coisas que eu fico absurdada. daí que a gente tava falando de uma aluna em específico que quer correr com o curso e vive pedindo pra fazer mais e mais lições, mesmo que a gente tente convencer a bonita de que esse não é o melhor jeito de levar os estudos dela etc etc etc. eis que ela foi viajar e levou uma quantidade absurda de tarefas pra fazer nesse período. quando ela voltou pras aulas, disse que não conseguiu fazer tudo (cê jura, linda? pena que ninguém te avisou, né!!!). a moça aproveitou pra abrir o coração e dizer que a vida dela ficou muito corrida na viagem, porque tinha que fazer tudo sozinha e o marido não prestava nem pra ajudar a cuidar das filhas (aquela velha história bem conhecida da gente né, de pai que não faz o mínimo porque a nossa sociedade patriarcal ensinou pra ele que é assim mesmo) e o único momento que ela tinha pra fazer as tarefas era antes de dormir. a maioria das lições foram feitas entre 23h e meia noite. 

eu não vou muito com a cara dessa aluna, mas fiquei sentida com esse desabafo. empatia, né, mores? você vê uma pessoa passando por uma situação complicada e você faz o que? isso mesmo, você se solidariza com ela. a menos que você seja escroto, aí você acha bom que o outro tenha se ferrado. POIS BEM. aí é que vem o diálogo surreal.

pessoa A: gente, e a aluna x, ela não conseguiu mesmo fazer tudo aquilo de lição, né? a gente bem que avisou
eu: nossa, mas ela disse que tava fazendo tudo sozinha nesses tempos, fiquei até mal pelos horários das lições. teve umas que ela fez de madrugada quase!
pessoa B: mas bem feito né, ninguém mandou
eu: tudo bem, ela levou muita coisa, mas a mulher disse que não tinha tempo pra ela, que o marido não fazia nada, nem olhava pras crianças pra ajudar. e ele é o pai, né
pessoa B: é, mas ele trabalha, não tem mesmo que ficar olhando filho
eu: grande bosta, né? como se a mulher não tivesse nada pra fazer da vida dela além de criar as crianças
pessoa B: e empregada, ela não tem não? deu férias pra todo mundo? bem feito

(só um pequeno adendo: a pessoa B tem filhos.)

daí ficou um climão, porque eu olhei pra ela assim 😨, e a pessoa B continuou tentando justificar o que tava dizendo, mas eu basicamente tampei os ouvidos e preferi ignorar o resto da conversa. 

SURREAL ter que escutar da colega de trabalho em pleno 2017 que quem cria é a mãe e o pai tá certíssimo em não fazer porra nenhuma. sem falar da parte da empregada, né? aí eu fiquei sem palavras. que a deusa me dê força pra continuar nessa luta, porque fácil não tá!

2 comentários:

  1. nossa, quando eu trabalhava na antiga empresa eu escutava comentários machistas o TEMPO TODO. isso de mulheres formadas e pós graduadas e com um cargo muito melhor que o meu (o que prova que estudo não adianta quando a pessoa é ignorante né?) e eu tinha que abstrair, desligar o cérebro e só concordar, né, pior situação

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    1. é horrível isso! a gente se sente tão impotente, né? quase que escorre uma lagriminha de desespero nessas horas.. hahaha

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