segunda-feira, 8 de outubro de 2018

tempos sombrios

quatro anos atrás, em outubro de 2014, eu vim aqui por causa das eleições pra presidente. não pra comentar o resultado, mas sim as consequências dele: racismo e xenofobia a torto e a direito. mal sabia eu que na eleição seguinte a coisa teria degringolado de forma tão assustadora.

como vocês estão se sentindo com a corrida presidencial desse ano? eu tô em pedaços.

por muito tempo eu fiquei em estado de negação, não conseguia acreditar que a onda bozonazista tivesse realmente crescendo no brasil. cheguei a conversar com amigas e, enquanto elas expressavam preocupação quanto a isso, eu falava belíssima que "não é possível uma coisa dessa, magina, não pode ser". só que não apenas podia, como era mesmo. o negócio tava rolando bem na frente do meu nariz, ao meu redor, com gente conhecida, e eu lá desacreditando.

acho que eu confiei demais no bom senso e no tal amor pelo próximo que todo mundo diz sentir. bobinha, né? fico até envergonhada de ter duvidado da capacidade de ser ruim que as pessoas têm.

e o que me deixa mais estarrecida é que enquanto eu tô aqui reavaliando o meu posicionamento nos meses anteriores (e o de agora também, não dá pra perder nunca a autocrítica), a galera continua enchendo a boca pra gritar discurso de ódio e incitar violência. pelo fim da corrupção, pelo bem da família, pra preservar os valores de deus. mas com arma na mão, com sangue nos olhos e investindo dinheiro em cemitério e não em presídio (!). porque bandido bom é bandido morto. porque negro bom é pobre e isolado na periferia. porque gay e lésbica não é bom nunca, mas se tiver que existir que seja bem longe da vista. porque mulher boa é aquela que não questiona e só obedece.

"a esquerda é doente, vai transformar nosso país tropical tão abençoado por deus numa ditadura comunista. a única ditadura que a gente quer é aquela que vem com golpe militar, quando o pessoal era torturado e sumia de vez. que mané direitos iguais pra todo mundo, tá doido que eu vou querer preto e viado no mesmo patamar que eu? mete bala nesse tipo de gente."

me dói o coração ver pessoas do meu convívio alinhadas com esse discurso. ainda que não seja por mal, que a escolha por aquele que não deve ser nomeado tenha sido bem intencionada, pensando em mudar os rumos do país e trazer segurança.

segurança eu só não sei pra quem, porque pra mim não é. jamais vou me sentir tranquila vendo tanta gente com medo, sem saber o que esperar do dia de amanhã. ter medo da esquerda porque acha que vai perder dinheiro e patrimônio me parece risível perto de ter medo da extrema-direita que ameaça a vida da gente...

mas pra não terminar isso aqui com tom de lamentação, fica uma pontinha de esperança. já diria albus dumbledore: happiness can be found even in the darkest of times, if one only remembers to turn on the light.

que a gente nunca se esqueça de acender as luzes! nem que, a princípio, a sua luz seja uma única faísca.

às vezes a minha luz apaga e eu acho muito difícil de reacender, de recuperar a fé. mas sigo tentando. não dá pra desistir. não agora que a gente já chegou tão longe. e não ainda, porque falta um caminho muito longo pra gente percorrer.

seguimos juntos, porque assim somos mais fortes. <3

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