sexta-feira, 22 de maio de 2020

a melhor escola do mundo

2. escreva sobre a memória mais feliz da sua infância.

da primeira a quarta série, eu estudei numa escola construtivista.

na época eu achava tudo normal, considerando que aquela era a minha realidade e eu sequer sabia que dava pra ser de outra forma, mas hoje eu vejo como essa foi uma experiência diferenciada, incrível e completamente rica! muito do que eu aprendi ali se reflete em quem eu sou hoje.

a escola era toda aberta, muitas das nossas atividades eram feitas ao ar livre e as salas tinham paredes de vidro. assim a gente conseguia ver e interagir com as outras classes, inclusive algumas aulas eram dadas pra turmas diferentes ao mesmo tempo.

seguindo a dinâmica proposta pelo construtivismo, as turmas eram super pequenas. que eu me lembre, a maior delas devia ter, no máximo, umas 12 crianças. vários dos meus colegas tinham algum tipo de deficiência física ou intelectual e isso era absolutamente corriqueiro pra gente, não lembro de nenhum caso de criança sendo discriminada por não se encaixar em qualquer tipo de padrão. claro que os professoram davam uma atenção maior pra esses alunos, atendendo às necessidades de cada um, mas não era algo que se destacasse de forma ruim aos olhos dos colegas. sendo assim, fazer dupla com uma criança com síndrome de down, autista ou cadeirante não era uma questão pra nenhum dos alunos. era comum.

quando eu tava na quarta série, tinha uma menina autista na minha turma, a fernanda. eu não faço a menor ideia de onde ela se encaixa no espectro, o que eu sei é que às vezes ela sentia muita dificuldade de se envolver nas atividades em grupo e obedecer as instruções. daí teve esse dia que a gente tava no parquinho no intervalo das aulas e, quando acabou, a fernanda se recusou a sair de onde ela estava. a professora não conseguiu convencê-la a voltar pra classe e a ela ficou parada, agachada no meio do pátio, gritando e chorando. não lembro se por iniciativa própria ou a pedido da professora, mas eu fui lá falar com ela. nós eramos bem amigas. me agachei junto, conversei e estendi a mão. voltei pra sala na companhia da fernanda, de mãos dadas com ela. e foi uma cena normal pra todo mundo, ninguém achou esquisito. uma colega passou por um momento difícil, a outra ajudou, seguimos o baile.

além disso, todas as atividades eram voltadas pra fazer o aluno pensar e criar. fiz mosaico na parede da escola, montei casinha com tijolo feito de caixa de leite (a gente reciclava tudo), plantei couve e depois não apenas colhi como fiz recheio de esfirra com as folhas, me vesti de palhaço numa apresentação com temática circense pra escola toda assistir... e também tive a liberdade de dizer não quando me recusei a apresentar uma peça de teatro, porque tinha vergonha demais e não tava me sentindo confortável. em vez de me obrigar a atuar senão eu ficaria sem nota (nós não fazíamos provas, as avaliações eram diferentes), a professora me ofereceu o cargo de assistente de palco. cumpri minha tarefa e fui avaliada como todos os outros, sem precisar sofrer nenhum trauma pra isso.

os alunos eram incentivados a se expressar o tempo todo e isso já começava com o uniforme. existiam umas seis cores diferentes de camiseta (vermelha, amarela, verde, branca...) e a criança podia usar a que quisesse. era tudo divertido demais! na maior parte do tempo eu nem sentia que tava indo lá pra aprender, por mais que a gente tivesse o tempo todo desenvolvendo as nossas habilidades e conhecendo coisas novas.

e a escola era toda verde, cheia de arbustos com flores coloridas, várias árvores, inclusive uma jabuticabeira incrível que era o meu lugar preferido. também tinha um tanque com peixes e tartarugas, uns coelhos e uns jabutis. e a gente aprendia principalmente a respeitar o espaço dos bichinhos, não tinha essa de sair pegando no colo ou dar comida fora de hora. nossa relação com a natureza era muito bonita, interagir com ela fazia parte da educação que a gente recebia.

ai, gente...

é isso. eu podia ficar aqui por horas tecendo elogios pra esse lugar incrível, que tinha uma equipe 10/10 (e eu imagino que ainda tenha, porque a diretora é a mesma até hoje e ela é maravilhosa), mas vou parar por aqui antes que eu fique mais nostálgica e saudosa do que já tô.

fico feliz demais quando penso em tudo o que eu vivi nessa escola. agradeço aos meus pais do fundo do coração por terem me proporcionado essa vivência (e sei que não foi fácil, foi preciso muito planejamento e organização da parte deles). se eu tiver como bancar, faço questão de proporcionar algo assim pras minhas crias no futuro. 🌟

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