sexta-feira, 6 de novembro de 2020

escritório, o retorno

desde que o brasil parou por causa da pandemia e a empresa onde eu trabalho decretou sistema de home office pra todo mundo, lá na metade de março, eu não tinha mais andado de transporte público. sequer sabia onde tava meu bilhete único, já que não existia a menor possibilidade de eu entrar num ônibus com janela que não abre no meio de uma crise sanitária. 

além disso, também fazia sete meses que eu não tinha contato direto, pessoalmente, por horas seguidas, com nenhum outro ser humano que não fosse da minha família. o máximo de interação que eu tive com as pessoas nesse tempo foi dar bom dia, boa tarde e boa noite pros porteiros, pros caixas do mercado, pros entregadores...

mas essa realidade mudou agora no fim de outubro, quando tive que trabalhar presencialmente no escritório da empresa por uma semana.

alguns setores saíram do home office lá em julho, num sistema de rodízio, com as pessoas indo só alguns dias da semana. mas minha equipe continuava firme e forte no trabalho remoto. inclusive ficou combinado que o meu setor seria o último a voltar de vez, só quando não houvesse mais nenhum tipo de restrição do governo. 

até que a empresa resolveu contratar estagiários e os planos mudaram um tantinho.

foi decidido que três tradutoras, eu inclusa, teriam um estagiário pra ajudar, pra trabalhar juntinho e dar o suporte necessário quando a carga de trabalho ultrapassasse limites normais - o que acontece com uma frequência mais alta do que seria considerado saudável, já que tem dia que o meu namorado precisa me lembrar de parar de trabalhar pra ir ao banheiro ou beber água. enfim.

nós participamos do processo seletivo dessas pessoinhas e, então, também ficamos responsáveis pelo treinamento delas. considerando a complexidade do trabalho e a quantidade de coisa que precisaríamos ensinar, seria absolutamente inviável fazer esse treinamento estilo ead. pra dar certo e evitar os erros do passado (quando os estagiários não tinham a preparação adequada e, obviamente, não davam conta do trabalho), foi decidido que nós três, agraciadas com a ajuda extra das estagiárias, nos revezaríamos indo até a empresa pra conduzir pessoalmente esse período de capacitação.

fiquei um pouco desesperada quando soube que precisaria ir. a ideia de encarar o metrô no meio da pandemia e passar oito horas por dia dividindo meu espaço com outras pessoas me deixou de estômago revirado. sem contar que eu mal sei direito o que tô fazendo no trabalho, vivo pedindo ajuda, imagina treinar uma pessoa do zero, pelo amor de deus!!! mas ninguém me perguntou se eu tava de acordo, simplesmente fui avisada que o esquema seria esse e ponto final. é claro que não sou doida e aprecio demais minha carteira assinada pois tenho contas a pagar, então eu teria falado sim de qualquer forma...

quando chegou o dia, engoli o pavor, respirei fundo embaixo da máscara e só fui. acho mais fácil lidar com essas coisas como se eu não tivesse escolha.

agora meu caminho de casa até o trabalho consiste em andar 1 km numa subida íngreme e desnivelada, pegar o metrô e descer dali duas estações. se tudo correr bem, em menos de 30 min tô batendo o ponto no escritório. tirando o coração descompassado de nervoso, a única coisa que atrapalhou meu percurso foi o fato de que meu pé torcido ainda não tá 100%. e em alguns dias choveu. mas os cinco minutos dentro do vagão não foram o suficiente pra atacar a ansiedade e eu cismar que peguei covid, então menos mal.

chegando no escritório, eu descobri que, por incrível que pareça, eu tava com saudade de trabalhar com pessoas ao meu redor. mesmo que o barulho desconcentre e eu produza mais estando na minha casa, é uma sensação gostosa se sentir parte da equipe de verdade. as coisas fluem mais fácil quando você pode simplesmente encostar na mesa de alguém pra tirar uma dúvida, sem precisar fazer chamada de vídeo ou mandar 15 mensagens até tudo se esclarecer. e não me senti tão sufocada quanto pensei que me sentiria, porque só tinha eu na minha área, então o distanciamento foi cumprido com sucesso.

quanto ao treinamento, finalmente conheci as estagiárias pessoalmente. três bonitinhas, quero ser amiga de todas! :) meus métodos não são os mais ortodoxos, ensino tudo no freestyle, nem sempre consigo seguir o que planejei, mas foi bom demais relembrar meus tempos de teacher. me sinto realizada de verdade quando percebo que consegui passar o conhecimento pra frente e que a pessoa instruída se sente à vontade o suficiente pra me abordar e tirar dúvidas, mostrar o trabalho, questionar. e me sinto mais realizada ainda de saber que tô evitando repetir os erros cometidos durante o meu treinamento. nada de deixar a pessoa nova no escuro, sem ter fonte pra consultar, sem ter espaço pra pedir ajuda. minha missão pessoal nessa empresa é, além de fazer um bom trabalho, tornar o ambiente mais acolhedor. às vezes acho que minha contribuição maior é essa, inclusive.

na semana do dia 16 vou ter que ir de novo. dessa vez, com menos frio no estômago e um pouco mais feliz: a gente vai ter o feriado do dia 20 de novembro, minha semana por lá será mais curta 🥳

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