quinta-feira, 23 de outubro de 2014

parece que não, mas eu sei que vai

"vai passar e eu nem vou perceber. vai mudar. vai mudar, vai mudar, vai mudar. e acabar."

tudo muda, tudo passa, tudo acaba. por mais que isso me doa e eu tenha dificuldades sérias em absorver essa informação, eu sei, bem lá no fundo, que as coisas não são eternas. o fim chega, mais cedo ou mais tarde. seja a coisa boa ou ruim. o que me alivia é saber que nada que é dolorido vai durar pra sempre, por mais que o sofrimento faça o tempo passar se arrastando. quando a gente menos perceber, já era. pronto, acabou. mas pensar que algo bom, algo feliz, também tem esse mesmo fim me dá uns arrepios na espinha. prefiro pensar que as situações é que não são eternas, que tudo está em constante mudança. logo, o que hoje é pode amanhã já não ser mais. e que, mesmo mudado, pode continuar sendo bom da mesma forma. ou melhor, de outra forma. mas sendo positivo ainda assim. 
jamais perder a esperança e jamais esquecer que, mesmo efêmeras, as coisas podem e devem sempre ser aproveitadas da melhor maneira possível. até o que for ruim.

* nota mental: ler isso aqui sempre que eu começar a esquecer. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

insustentável leveza

uma das maiores descobertas da minha vida foi constatar que: quem coloca o peso nas coisas sou eu. logo, quem alastra o meu próprio sofrimento sou eu também. dar muita importância pra algo que não precisa, criar expectativas irreais, levar tudo muito a sério, enxergar algo que não existe. isso tudo vem da gente e só a gente é capaz de controlar. se você esperava uma determinada atitude de alguém e essa pessoa agiu de forma diferente, a culpa não é só dela. é sua também, que cismou que o outro devia agir de acordo com aquilo que você ansiava, por exemplo. a gente NÃO. PO. DE. idealizar certas coisas, porque nossas expectativas dificilmente serão atingidas e só quem tem a perder somos nós mesmos. não podemos controlar os outros, não podemos controlar o mundo. às vezes é difícil controlar nossas próprias ações - quanto aos sentimentos, nem se fale - quem dirá então o resto das pessoas.
por mais que isso já esteja claramente estabelecido na minha mente, nem sempre eu consigo colocar em prática com muito êxito. mas desde que eu parei de ver o mundo com tanta dureza, desde que eu tirei de mim uns 200 quilos de peso desnecessário que habitava o meu ser, a minha vida tá relativamente bem mais simples. eu não vejo mais só o lado ruim, eu não acho mais que o universo conspira contra mim (muito pelo contrário!), eu não sofro mais por coisas que não significam tanto apesar de ainda sofrer incessavelmente por aquilo que o meu inconsciente julga merecedor de tal ato... , eu consigo enxergar mais o lado do outro e deixar o meu ego maluco pra lá. e tudo isso tá sendo essencial pra que a minha felicidade nunca vá embora. tô aprendendo a viver de forma mais leve, valorizando aquilo que me deixa bem e jogando fora o que for capaz de acabar com esse sentimento tranquilo que eu ando trazendo dentro de mim. ainda tenho um caminho imenso pra percorrer, mas posso garantir que o final da estrada vai compensar toda a caminhada. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

a graciosidade da princesa

ela era uma princesa, mas nem sempre gostava de agir como tal. sua doçura e seu carisma estavam sempre lá, intrínsecos em sua personalidade. mas às vezes ela se sentia cansada de suas obrigações como princesa e desejava intensamente ter uns dias de descanso.
por uma grande e inesperada coincidência, o destino um dia lhe sorriu e a princesa se viu em uma situação nova e animadora. poderia, finalmente, fugir de sua realidade e viver tal qual uma moça comum por 48 horas. lá, bem longe de seu reino, em terras que ela ainda não conhecia, conheceria pessoas que talvez nem soubessem de sua existência.
viajou de carruagem, acompanhada por um servo (termo esse que a princesa, aliás, não gostava. para ela, seus ajudantes eram todos considerados seus amigos). deixou pra trás suas roupas chiques, seus sapatos novos e, principalmente, a sua coroa. usando um vestido simples e o cabelo em trança, ela podia facilmente se confundir com os moradores daquela pequena e distante cidade. 
após muito caminhar na companhia de seu fiel escudeiro, conhecendo todas as vielas floridas e os simples estabelecimentos comerciais do vilarejo, eles acabaram por encontrar um local muito acolhedor para o jantar. logo na entrada, foram recebidos por um jovem muito simpático que os conduziu até aquela conhecida como "a melhor mesa da casa". o garçom, de alma naturalmente solícita, percebeu de pronto que os dois eram forasteiros. apesar de tentarem ao máximo se portar como moradores locais, o jovem viu instantaneamente que algo neles era diferente. se apressou a lhes explicar quais eram os pratos da noite e, ainda, qual deles era o seu predileto. a princesa acatou a sugestão e sentiu-se satisfeitíssima após tomar duas vasilhas da sopa de batatas que o garçom tanto elogiara. após a refeição, os dois se demoraram pelo menos quarenta minutos ainda sentados, apreciando aquela atmosfera caseira e aconchegante que, além de tudo, contava com um grupo de animados senhores que tocavam diversos instrumentos musicais e cantavam uma música nunca antes ouvida pela princesa.
quando finalmente decidiram se levantar e pagar pelos serviços a eles prestados, o garçom se dirigiu novamente aos dois e disse, discretamente, que gostaria de falar com a princesa a sós. seu servo, sabendo do risco que aquilo representava, prontamente disse que não poderia permitir. então a moça, sempre sorrindo, disse que não havia o menor problema em deixar que seu "amigo" escutasse aquela conversa. um tanto encabulado, o garçom os acompanhou até o lado de fora do estabelecimento e, criando uma faísca de coragem, disse em um volume quase inaudível: "você é uma princesa, não é?".
espantados, a menina e o servo trocaram olhares nervosos. para o garçom, aquela reação valia mais do que um "sim". ainda nervosa, ela quis saber o que em sua atitude a denunciara. com uma expressão de encantamento estampada em sua face, o garçom respondeu que ela era graciosa demais para ser uma moça comum, que tudo nela tinha traços de princesa. desde os cabelos despretensiosamente arrumados ao sorriso que nunca deixava o seu rosto. 
sentindo-se levemente envergonhada, as bochechas dela adquiriram tom avermelhado muito evidente, o que só reforçou ainda mais essa tal delicadeza que o jovem acabara de descrever. agradecendo o elogio e pedindo ao garçom que guardasse a sete chaves o seu segredo, ela se despediu. disse também que gostaria muito de retornar o mais breve possível para vivenciar outra experiência tão agradável quanto aquela.

o que fez com que a princesa pudesse viver essa aventura é secundário e, portanto, não cabe ser contado nessa história. o que importa é que, desde então, sua percepção do mundo - e de si própria - nunca mais fora a mesma. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

sempre com muito amor

beijos, mordidas, suspiros, carícias. sentimento forte e mútuo. minhas unhas percorrem as suas costas, te deixando com incontáveis marcas. essas, inclusive, combinam perfeitamente com a vermelhidão da minha cintura depois de você me apertar. nossos dedos se enlaçam automaticamente. quando eu me dou conta, minha mão foi de encontro à sua sem que eu tivesse que pensar em fazer isso. meu pescoço serve de refúgio pro seu rosto. você me abraça com tamanha força que a única mensagem que isso me passa é você querendo me dizer, silenciosamente, "por favor, não me solta nunca mais". fica tranquilo, te soltar não faz parte de nenhum dos meus infinitos planos pro futuro. você faz parte de todos eles.

"duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam.
formando um terceiro tom"
(Carlos Drummond de Andrade)