sábado, 10 de julho de 2021

saí pra comer pastel e olha no que deu

eu não sei comprar por comprar.

além do fato de ser mão de vaca e não gastar dinheiro à toa, eu não vejo sentido em consumir sem necessidade. sabe a alegria que a gente sente depois de fazer uma compra? então, eu não sei. fico feliz por ter em mãos algo que eu queria, não pelo ato de comprar em si.

o que significa que eu uso as coisas até o limite do aceitável. camiseta de 15 anos atrás, mas que ainda serve e não tá rasgada? tenho e uso, pro horror da minha mãe. se ainda tá inteiro e servindo pro seu propósito, não vejo motivo pra substituir. só troquei de celular quando o meu inchou e precisei colocar DUREX pra segurar o bichinho no lugar. só comprei armação de óculos nova quando a minha quebrou pela segunda vez (da primeira, mandei arrumar). só me desfiz do chinelo quando já tava perigoso de andar com ele na rua de tão desgastada que tava a sola... e por aí vai.

daí que a última vez que eu comprei um tênis pra me exercitar foi em 2013. fui pro intercâmbio e não levei o que eu tinha, mas chegando lá me matriculei na academia (pois é) e precisei caçar um tênis adequado. imagina o mico eu chegando pra correr na esteira usando vans, pelo amor de diós. fui na loja e simplesmente escolhi o mais barato, nem olhei os outros. pra minha sorte, era bonitinho! obviamente não era muito confortável, mas dava conta do recado.

sigo com esse tênis bonitinho, mas ordinário no armário até hoje, porém na casa de mamãe. quando me mudei, não peguei o que não ia precisar usar tão cedo, o que significa que os sapatos de salto e o tênis de fazer exercício ficaram pra trás. ah, isso porque desisti dessa história de academia. sou do time ioga, pilates e ballet fitness, então meu exercício em casa eu faço descalça :)

dito isso, vamos ao causo do dia. 

tempos atrás, meu namorado descobriu uma feira de rua que vende um pastel bom pra caramba. ele trouxe um pra mim, comi, fiquei impactada: bem melhor do que o pastel da feira aqui do bairro, que já é bem gostoso. o primeiro problema é que essa feira que ele descobriu é de sexta. o segundo problema é que fica longe daqui e, pra piorar nossa situ, a gente não tem carro. isso significa que não dá pra ir antes de começar a trabalhar (quem compra pastel 9 da manhã, gente?) e muito menos na hora do almoço. então, depois de experimentar o pastel novo, restou apenas a vontade de comer de novo e a expectativa de poder ir até lá quando a vida permitisse.

até que são paulo nos agraciou com o feriado de 9 de julho, em plena sexta feira, e a gente decidiu que o passeio do dia seria ir comprar o tal pastel! a vida da pessoa que segue em isolamento social, meus amigos... ir a pé em feira de rua vira diversão.

eu sabia onde era a feira, mas como não conheço direito a região aqui e não tenho a menor noção espacial, não consegui perceber exatamente a distância entre minha casinha e o pastel. o boy falou "ah, é meio longe, tipo meia hora daqui...". beleza. 30 minutos andando, não tá nem fazendo muito calor, bora! vesti uma roupa confortável, prendi o cabelo, coloquei uma máscara n95 que não incomoda no ossinho do nariz e partiu. 

mas, como eu disse, não tenho um tênis adequado pra isso, né. o que significa que... 🥁... eu fui de all star.

pois é, mores. era o que tinha. quando eu vim pra cá, trouxe três tênis: um all star branco bonitinho e relativamente novo, um keds preto que eu só uso com aquelas meias que não aparecem e um vans de 2012 já tão destroçado que, recentemente, eu cedi pro meu namorado usar de apoio pra cadeira. imagina a situ do tênis. por incrível que pareça, o all star era a opção mais confortável.

enfim. saímos de casa 11h da manhã. solzinho quente gostosinho contrastando com o vento gelado, meu clima preferido. fomos andando num ritmo normal, nem correndo nem devagar demais (não tenho paciência), conversando, descobrindo lugares novos pelo caminho etc e tal. 

vou falar pra vocês que, pela primeira vez em vários dias, eu me senti viva. não só sobrevivendo e seguindo em frente por não ter outra opção. fiquei de coração quentinho e feliz de verdade por estar de mãos dadas com o menino que eu gosto, andando por ruas desconhecidas, indo atrás de um pastel de carne seca com queijo. coisa boa a vitamina d agindo no corpo, né, menina?

depois dos "30 minutinhos andando", a gente ainda não tava nem perto de chegar na feira. sem contar que erramos o caminho, entramos na rua errada e tivemos que dar umas voltas a mais, o que fez o percurso aumentar. mas ninguém tava com pressa, era feriado, só alegria. aliás, eu parecia criança deslumbrada chegando num parque temático pela primeira vez, tamanha a empolgação. (dá pra perceber que ainda estamos levando a sério a recomendação de ficar em casa pra evitar o contágio?)

pois finalmente chegamos na bendita feira depois de uma hora andando. e sem cansaço nem falta de ar, mesmo de máscara durante todo o trajeto. ah, sem incômodo nenhum nos pezinhos também!! nem parecia que eu tava usando o pior tênis possível pra essa empreitada. é inacreditável tanta coisa boa ao mesmo tempo, eu até desconfio. 

daí comemos o pastel com caldo de cana (porque a gente não é besta) e, bom, hora de voltar pra casa. mas com o estômago cheio bateu um soninho... e o calcanhar finalmente começou a reclamar... e o sol tava um pouquinho mais quente, então o rosto tava meio sufocado na máscara... mas vamo que vamo que ainda tem 1h de caminhada pela frente!

em determinado momento, com dor em todos os cantos dos pés, cheguei a pensar se não valia a pena terminar o trajeto descalça. "é óbvio que não, para de ser maluca, você não é nem doida!" foi minha resposta depois de dois segundos pensando no assunto. mas que deu vontade, deu. e o mais esquisito é que em momento algum eu cogitei pedir um uber, achei mais plausível andar descalça EM SÃO PAULO do que entrar no carro alheio na pandemia kkkkkk #momentos 

às 13h40, chegamos em casa exaustos, morrendo de sede, mas muito felizes! e já com fome de novo depois dos 4,5 km percorridos pra voltar... :)

mas enquanto a gente andava, conversando sobre nossas férias que estão por vir, começamos a pensar pra quais lugares poderíamos ir a pé, seguindo esse mesmo esquema. a gente começou a sonhar meio alto, escolhendo uns destinos ainda mais longe. e foi ali que eu concluí que tava na hora de comprar um tênis decente pra isso. o que tá na casa da minha mãe provavelmente também me machucaria depois de uma hora andando, não tinha mais como evitar.

no dia seguinte (hoje, no caso), por causa do exercício, acordei com dor na panturrilha e na bunda. e, por causa do tênis, no calcanhar e na ponta dos dedos. precisei ir ao mercado e... 🥁... usei o all star de novo. como eu disse, única opção. foi a gota d'água.

daí que eu respirei fundo, liguei o computador e comprei DOIS tênis novos. depois dessa ousadia, o próximo agora só em 2030!