sábado, 10 de julho de 2021

saí pra comer pastel e olha no que deu

eu não sei comprar por comprar.

além do fato de ser mão de vaca e não gastar dinheiro à toa, eu não vejo sentido em consumir sem necessidade. sabe a alegria que a gente sente depois de fazer uma compra? então, eu não sei. fico feliz por ter em mãos algo que eu queria, não pelo ato de comprar em si.

o que significa que eu uso as coisas até o limite do aceitável. camiseta de 15 anos atrás, mas que ainda serve e não tá rasgada? tenho e uso, pro horror da minha mãe. se ainda tá inteiro e servindo pro seu propósito, não vejo motivo pra substituir. só troquei de celular quando o meu inchou e precisei colocar DUREX pra segurar o bichinho no lugar. só comprei armação de óculos nova quando a minha quebrou pela segunda vez (da primeira, mandei arrumar). só me desfiz do chinelo quando já tava perigoso de andar com ele na rua de tão desgastada que tava a sola... e por aí vai.

daí que a última vez que eu comprei um tênis pra me exercitar foi em 2013. fui pro intercâmbio e não levei o que eu tinha, mas chegando lá me matriculei na academia (pois é) e precisei caçar um tênis adequado. imagina o mico eu chegando pra correr na esteira usando vans, pelo amor de diós. fui na loja e simplesmente escolhi o mais barato, nem olhei os outros. pra minha sorte, era bonitinho! obviamente não era muito confortável, mas dava conta do recado.

sigo com esse tênis bonitinho, mas ordinário no armário até hoje, porém na casa de mamãe. quando me mudei, não peguei o que não ia precisar usar tão cedo, o que significa que os sapatos de salto e o tênis de fazer exercício ficaram pra trás. ah, isso porque desisti dessa história de academia. sou do time ioga, pilates e ballet fitness, então meu exercício em casa eu faço descalça :)

dito isso, vamos ao causo do dia. 

tempos atrás, meu namorado descobriu uma feira de rua que vende um pastel bom pra caramba. ele trouxe um pra mim, comi, fiquei impactada: bem melhor do que o pastel da feira aqui do bairro, que já é bem gostoso. o primeiro problema é que essa feira que ele descobriu é de sexta. o segundo problema é que fica longe daqui e, pra piorar nossa situ, a gente não tem carro. isso significa que não dá pra ir antes de começar a trabalhar (quem compra pastel 9 da manhã, gente?) e muito menos na hora do almoço. então, depois de experimentar o pastel novo, restou apenas a vontade de comer de novo e a expectativa de poder ir até lá quando a vida permitisse.

até que são paulo nos agraciou com o feriado de 9 de julho, em plena sexta feira, e a gente decidiu que o passeio do dia seria ir comprar o tal pastel! a vida da pessoa que segue em isolamento social, meus amigos... ir a pé em feira de rua vira diversão.

eu sabia onde era a feira, mas como não conheço direito a região aqui e não tenho a menor noção espacial, não consegui perceber exatamente a distância entre minha casinha e o pastel. o boy falou "ah, é meio longe, tipo meia hora daqui...". beleza. 30 minutos andando, não tá nem fazendo muito calor, bora! vesti uma roupa confortável, prendi o cabelo, coloquei uma máscara n95 que não incomoda no ossinho do nariz e partiu. 

mas, como eu disse, não tenho um tênis adequado pra isso, né. o que significa que... 🥁... eu fui de all star.

pois é, mores. era o que tinha. quando eu vim pra cá, trouxe três tênis: um all star branco bonitinho e relativamente novo, um keds preto que eu só uso com aquelas meias que não aparecem e um vans de 2012 já tão destroçado que, recentemente, eu cedi pro meu namorado usar de apoio pra cadeira. imagina a situ do tênis. por incrível que pareça, o all star era a opção mais confortável.

enfim. saímos de casa 11h da manhã. solzinho quente gostosinho contrastando com o vento gelado, meu clima preferido. fomos andando num ritmo normal, nem correndo nem devagar demais (não tenho paciência), conversando, descobrindo lugares novos pelo caminho etc e tal. 

vou falar pra vocês que, pela primeira vez em vários dias, eu me senti viva. não só sobrevivendo e seguindo em frente por não ter outra opção. fiquei de coração quentinho e feliz de verdade por estar de mãos dadas com o menino que eu gosto, andando por ruas desconhecidas, indo atrás de um pastel de carne seca com queijo. coisa boa a vitamina d agindo no corpo, né, menina?

depois dos "30 minutinhos andando", a gente ainda não tava nem perto de chegar na feira. sem contar que erramos o caminho, entramos na rua errada e tivemos que dar umas voltas a mais, o que fez o percurso aumentar. mas ninguém tava com pressa, era feriado, só alegria. aliás, eu parecia criança deslumbrada chegando num parque temático pela primeira vez, tamanha a empolgação. (dá pra perceber que ainda estamos levando a sério a recomendação de ficar em casa pra evitar o contágio?)

pois finalmente chegamos na bendita feira depois de uma hora andando. e sem cansaço nem falta de ar, mesmo de máscara durante todo o trajeto. ah, sem incômodo nenhum nos pezinhos também!! nem parecia que eu tava usando o pior tênis possível pra essa empreitada. é inacreditável tanta coisa boa ao mesmo tempo, eu até desconfio. 

daí comemos o pastel com caldo de cana (porque a gente não é besta) e, bom, hora de voltar pra casa. mas com o estômago cheio bateu um soninho... e o calcanhar finalmente começou a reclamar... e o sol tava um pouquinho mais quente, então o rosto tava meio sufocado na máscara... mas vamo que vamo que ainda tem 1h de caminhada pela frente!

em determinado momento, com dor em todos os cantos dos pés, cheguei a pensar se não valia a pena terminar o trajeto descalça. "é óbvio que não, para de ser maluca, você não é nem doida!" foi minha resposta depois de dois segundos pensando no assunto. mas que deu vontade, deu. e o mais esquisito é que em momento algum eu cogitei pedir um uber, achei mais plausível andar descalça EM SÃO PAULO do que entrar no carro alheio na pandemia kkkkkk #momentos 

às 13h40, chegamos em casa exaustos, morrendo de sede, mas muito felizes! e já com fome de novo depois dos 4,5 km percorridos pra voltar... :)

mas enquanto a gente andava, conversando sobre nossas férias que estão por vir, começamos a pensar pra quais lugares poderíamos ir a pé, seguindo esse mesmo esquema. a gente começou a sonhar meio alto, escolhendo uns destinos ainda mais longe. e foi ali que eu concluí que tava na hora de comprar um tênis decente pra isso. o que tá na casa da minha mãe provavelmente também me machucaria depois de uma hora andando, não tinha mais como evitar.

no dia seguinte (hoje, no caso), por causa do exercício, acordei com dor na panturrilha e na bunda. e, por causa do tênis, no calcanhar e na ponta dos dedos. precisei ir ao mercado e... 🥁... usei o all star de novo. como eu disse, única opção. foi a gota d'água.

daí que eu respirei fundo, liguei o computador e comprei DOIS tênis novos. depois dessa ousadia, o próximo agora só em 2030!

sábado, 22 de maio de 2021

perdi o timing

por mais que eu não tenha mais a disciplina, a força de vontade e o tempo necessários pra continuar atualizando esse cantinho com a frequência que eu gostaria, continuo tentando.

pode até ser um esforço pequeno, não nego, mas não larguei mão não. escrevo no meu caderninho todas as minhas ideias pra post, até começo alguns, inclusive fico pensando durante o dia no que vou escrever, aí chega na hora e: não sai nada. 

abro a página em branco decidida a postar, olho pro teclado e fico travada. já fiz muita autoanálise sobre isso, se eu fizesse terapia com certeza seria tema de sessão... como que pode eu simplesmente não conseguir fazer algo que eu QUERO fazer? qualquer mini motivo já é justificativa suficiente pra eu abandonar o rascunho pra lá e fingir que ele nunca nem existiu, mas sigo com vontade de superar esse bloqueio. até porque, ainda que eu não coloque nada no papel, continuo escrevendo dentro da minha cabeça.

principalmente quando tô tomando banho, que é sempre o meu momento preferido do dia. água bem quente (minha pele que lute), de preferência com a luz baixa e sabonete cheiroso. escrevo post, crônica, conto, carta de amor. dependendo do grau de inspiração, sai até romance calhamaço. mas não tiro nem uma mísera ideia de dentro da minha mente, fica tudo aqui, inacabado, misturado, juntando pó e teia de aranha dentro dessa cabecinha confusa e cansada.

às vezes até me arrisco a começar, escrevo um parágrafo, penso até no título! e paro de novo.

por exemplo: minha mãe faz aniversário em janeiro. esse ano a comemoração foi diferente de todas as anteriores. papai e mamãe vieram almoçar aqui em casa (privilégio demais a aniversariante ir até você, né? eu sei ♡), o cardápio foi pastel da feira da rua de cima. decoramos a parede branca da sala com fotos, pisca-pisca e bilhetinho escrito com marca-texto em folha de caderno, porque era o que tinha. foi um dia importante e eu quis muito registrar isso aqui, só que não consegui. comecei o post, mas depois de três meses sem sair do lugar eu até excluí o rascunho. já tinha passado tempo demais.

também teve a vez em que o boy e eu nos demos um fim de semana especial, inspirado no treat yo self day de parks and recreation. deixei de lado meu maior traço de personalidade (que é ser mão de vaca) e me permiti comprar coisas gostosas - e caras! - no mercado. foi uma sensação incrível e a gente se divertiu até na parte chata, higienizando e guardando as compras. me senti muito feliz, de um jeito que não me sentia há dias. quis registrar, o post tava pronto na minha cabeça, daqueles grandões em que eu dou voltas e voltas antes de efetivamente falar o que quero, mas nunca consegui criar coragem pra escrever. os dias foram passando, a euforia do momento morreu e parece que falar sobre isso perdeu o sentido. mais uma vez, perdi o timing.

isso sem falar no desafio de escrita que eu me propus a fazer, ainda que com menos rigidez do que o desafio realmente pede. comecei há mais de um ano e dá até vergonha de falar que ainda não passei do número quatro. os 30 dias de escrita evoluíram pra mais de 365... não nem sei o que falar da falta de timing desse aqui, sinceramente. e eu juro que comecei empolgada, achei mesmo que fosse dar continuidade. 

tem tanta história que eu queria contar... mesmo que ninguém leia, mesmo que depois eu pense que poderia ter escrito melhor etc. etc. etc. 

parece que ultimamente eu só consigo fazer as coisas por obrigação. tenho que trabalhar, tenho que fazer exercício, tenho que cozinhar e por aí vai. mas não tenho que escrever na internet. faço isso porque gosto, não porque preciso fazer. aí vou passando pra trás na listinha de tarefas e, quando vejo, ficou tão distante que já perdeu o propósito.

mas como sou muito disciplinada e responsável, no fim do mês eu volto aqui pra contar sobre os livros de maio. ai, ai... 🤡

sábado, 21 de novembro de 2020

a boa filha a casa torna

 4. escreva sobre sua família.


desde que eu passei a morar com o boy, no comecinho de agosto, eu só fui pra casa dos meus pais uma vez, no dia dos pais.

eles vieram aqui visitar a gente umas três vezes nesse meio tempo, mas o inverso é mais complicado. não temos carro e não faz muito sentido pra mim pegar metrô e trem no meio de uma pandemia sendo que eles vêm até aqui de bom grado, sabe? ainda mais considerando que a linha rubi, também conhecida como a pior linha de trem da cidade de sp, é tão insalubre que, possivelmente, foi lá onde o coronavírus nasceu...

até que chegou o dia da eleição e eu não pude mais fugir, precisei encarar mais essa aventura correndo riscos sanitários. nós ainda votamos lá por aqueles lados, bem pertinho de onde nossos pais moram, então foi a oportunidade perfeita pra apertar o número 50 na urna e visitar a família.

fomos pra lá no sábado no fim da tarde e já fizemos o serviço completo: jantamos com os pais do namorado, depois fomos dormir nos meus pais.

chegamos tarde lá em casa, já era umas 23h. pensei que meu pai estivesse dormindo (ele é desses que acorda 5 da manhã sem necessidade alguma e às 20h já tá cochilando enquanto finge que tá vendo o jornal), mas o bichinho tava lá, firme e forte, acordadaço esperando a gente chegar. inclusive usando roupa normal, e não pijama, porque era uma ocasião especial e ele tinha que estar vestido de forma decente. vê se eu aguento isso? kkkk

minha mãe é muito carinhosa, não perde a oportunidade de dizer que ama e de encostar na gente. ela gosta de abraço, de beijo, de deitar junto pra ver tv ou conversar. então com ela é tudo mais fácil: diz sem problema algum que tá com saudade, chora quando revê e me recebe de pijama, porque não faz sentido ficar de outra forma no sofá de casa me esperando tão tarde da noite. já o meu pai não é desses que demonstra afeto de um jeito tão claro. ele faz o que for por você, não mede esforços jamais, mas não é do time que encosta muito ou que diz abertamente o que sente. 

porém todas as vezes que a gente se encontrou desde agosto, ele me abraçou forte de um jeito que nunca tinha feito antes. papai só dava abraços em dias importantes: aniversário, natal, formatura... não num dia qualquer. agora, todo reencontro é especial. tão especial que ele, que tinha mesmo acordado 5h da manhã, dormiu de tarde só pra conseguir ficar acordado até mais tarde com a gente.

aliás, ficamos todos conversando até depois das 2 da manhã. a saudade faz coisas impressionantes.

no dia seguinte, meus pais (que foram votar de manhãzinha, numa escola que fica literalmente do outro lado da rua!) nos agraciaram com uma mesa de café da manhã de hotel. isso porque tomar café junto, principalmente de domingo de manhã, era uma das nossas tradições familiares. sentávamos à mesa do café umas 9 e pouco e ficávamos, de preferência, até perto do meio dia, comendo bem devagar. quer dizer... quem chegava essa hora era eu e minha mãe, né. meu pai já tinha tomado café há tempos, mas continuava ali com a gente, fazendo companhia e beliscando uma coisa ou outra (até porque, se você come um pão com manteiga às 6h, às 10h já tá na hora de comer de novo). a gente comentava o que tivesse passando na tv e falava sobre bobagem e assunto sério, tudo ao mesmo tempo. nos nossos cafés de domingo tinha desde discussão filosófica e política até história engraçada de fazer chorar de rir. a família é eclética, se a gente tá junto não tem tempo ruim.

semana que vem, no segundo turno da votação, o reencontro vai ter um charme a mais: meu irmão também estará presente. ele mora em outro estado, a última vez que a gente se encontrou esse ano foi em janeiro. meus pais tinham marcado de ir na casa dele em março, mas a pandemia aconteceu e os planos foram todos por água abaixo. agora, quase um ano inteiro depois, nós quatro estaremos novamente sentados juntos ao redor da mesa.

imagina se meus pais já não tão contando os segundos igual criança em véspera de excursão na escola... ♡


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pra ler os posts anteriores do desafio dos 30 dias, clica aqui!

(kkkkkkk não sei nem se eu posso continuar chamando de desafio, sendo que tô cumprindo assim, sem nem 01 pingo de vergonha na cara... mas é o que temos pra hoje ¯\_(ツ)_/¯)

sábado, 22 de agosto de 2020

home, sweet, home

no começo de agosto, saí da casa dos meus pais e passei a morar com o boy.

a gente namora há quase sete anos, já faz um tempão que falamos de morar juntos, mas nunca era a hora certa. "nossos salários não são bons o suficiente, podemos esperar mais um pouco, o imóvel precisa obrigatoriamente ficar num lugar assim ou assado", etc etc etc. porém agora, no meio de uma pandemia, depois de vários meses sem nos encontrarmos, decidimos encarar de frente essa próxima etapa. finalmente juntamos as escovas de dente.

viemos parar do outro lado da cidade, num bairro gostosinho e perto de tudo, numa rua sem saída e super tranquila! o apto não é grande e tá meio mal cuidado, mas era o que cabia no bolso. e vai ficar bonitinho (aliás, já tá ficando!), a gente só precisa se esforçar um pouco pra isso hehe

por aqui, as coisas estão tomando forma aos poucos. compra um eletrodoméstico aqui, um móvel ali, um negocinho acolá... agora até que já temos bastante coisa, mas chegamos só com fogão e geladeira na cozinha (gente, que caro geladeira, né? eu hein), nossas escrivaninhas pra gente conseguir trabalhar, duas cadeiras usadas dessas universitárias que meu pai arrumou e uns móveis que eu trouxe do meu quarto.

aliás, o boy e meu pai que desmontaram meu guarda-roupa pra transportar até aqui. pra montar, os dois contaram com a ajuda do meu cunhado. eu desacreditei do sucesso dessa empreitada, mas deu tão certo que até me surpreendi. não ficou 100%, até porque o bichinho já não era da melhor qualidade, mas ficou o melhor possível :)

passamos os primeiros cinco dias dormindo num colchão de solteiro no chão, esperando o novo chegar. o plano era dormir num inflável de casal, mas não rolou - tava sem a tampa que fecha o buraco por onde enche de ar. por sorte trouxemos esse aí de plano b, que na verdade era pra servir como sofá. e por mais sorte ainda tava um frio lascado nesses dias, porque seria inviável dormir tão juntinhos se tivesse calor. depois que o colchão de casal chegou a qualidade do sono melhorou de forma incalculável, mas ainda faltava a cama - que só chegou uma semana depois do colchão. se quiséssemos receber os dois juntos, só 14 dias depois da nossa chegada na casinha nova. melhor dormir no colchão de casal, mesmo no chão, do que passar duas semanas dividindo o colchãozinho que a gente trouxe.

demoramos um pouco pra ter o armário da cozinha (vou contar essa saga em outro post), então usamos umas caixas pra fazer uma despensa improvisada. cozinhar tava sendo um desafio. além de não termos espaço pra apoiar as coisas, também passamos alguns dias sem panelas, sobrevivendo com duas frigideiras e a panela de pressão. enquanto isso, como a sala tava vazia (só compramos sofá, mesa e cadeiras no fim de semana passado), ela foi eleita o cômodo oficial da bagunça. tudo o que ainda não tinha lugar definido ficava jogado por lá. tava um caos, meio desesperador mesmo, mas ainda assim dava um quentinho no coração de saber que aquela bagunça toda ficava na nossa casinha.

tá sendo incrível essa experiência de viver sob o mesmo teto que a minha pessoa preferida no mundo.

claro que sinto saudade de quando eu acordava e meu pai já tinha feito o café (e eu gastava bem menos dinheiro), mas dormir e acordar todo dia ao lado desse cara tá fazendo valer a pena demais os perrengues chiques que a gente passa todo dia!

em tempos normais, estaríamos aproveitando tudo o que o bairro novo tem pra oferecer - inclusive pegar metrô e descer na avenida paulista depois de três estações. por enquanto, o que a gente conhece se resume a: mercado, padaria, farmácia e a feira da rua de cima. como não dá pra passear, o que a gente tem feito é experimentar os restaurantes da região que fazem delivery. já tá sendo um bom começo ♡

domingo, 3 de maio de 2020

açaí e sorvete de frutas vermelhas

dia desses minha amiga bia postou no twitter sobre um desafio de escrita (tá nos destaques!) que ela ia encarar. quem tá por aqui há tempos talvez se lembre que lá nos longínquos anos de 2015 e 2016 eu participei do BEDA (blog everyday in august), postando todos os dias do mês de agosto durante dois anos seguidos. em 2015 foi divertido, mas em 2016 foi tão sofrido que eu prometi nunca mais cair nessa cilada outra vez. e aqui estamos nós... querendo beber da água que eu disse que nunca mais beberia. vou jogar mais essa pra conta da quarentena! 

mas dessa vez a coisa vai ser diferente, porque em 2020 quem manda no desafio sou eu. tô rebelde, não quero saber de seguir regras. vou fazer do meu jeitinho, TENTANDO seguir pelo menos a ordem dos temas propostos sem pular nenhum, mas vou postar na frequência que eu bem entender. e não necessariamente vou escrever sobre a minha vida, quero usar o tema como fonte de inspiração só. pode ser que venha um relato autobiográfico, mas pode ser que venha um conto de ficção, vai saber! ah, também vou desistir sem medo de ser feliz quando eu não tiver mais afim, porque não sou obrigada a nada. dito isso, vamos lá! :)

✽✽✽

1. escreva sobre o seu primeiro amor.

já fazia 6 anos que aline e rafael moravam no mesmo condomínio, o village das andorinhas, a poucas casas de distância um do outro.

com muito esforço, os pais de rafinha conseguiram comprar o sobrado de número 52 antes mesmo de ele nascer. quando rafael tinha nove anos, aline mudou-se para o village. ele a viu pela primeira vez numa quarta-feira à tarde. em frente ao sobrado 48, havia um casal de adultos e uma menina baixinha, usando vestido roxo e tênis laranja. ele ficou curioso - será que aquela família se mudaria para lá? suzy, a mãe de rafael, acenou para os novos vizinhos. ele também sorriu e acenou, mas a menina era tímida: escondeu-se atrás da mãe e ficou espiando enquanto ele entrava em casa.

a princípio, aline tentou passar despercebida. a menina estava apavorada com a ideia de conhecer tantas pessoas novas! mas em poucas semanas esse cenário mudou: ela conquistou tranquilamente o seu espaço em meio às outras crianças do condomínio. assim como todo mundo, rafael ficou muito feliz por tê-la ali. lica era a melhor jogadora de queimada do village todinho!

durante anos os dois encontraram-se quase todas as tardes. junto com os outros amigos, formavam um grupo de dez crianças que estavam sempre juntas. rafinha ensinou aline a andar de bicicleta - e correu desesperado pra acudir quando ela caiu e ralou o joelho. mas lica não se deixou abalar! limpou as lágrimas e tentou de novo e de novo, até conseguir. as amigas bateram palmas e gritaram de alegria quando ela finalmente pedalou sozinha, sem as rodinhas da bike, e sem perder o equilíbrio nenhuma vez. aline largou a bicicleta no chão e correu pra abraçar rafael, como forma de agradecimento. tantos anos depois, ambos ainda tinham esse momento guardado na memória com muito carinho.

com o passar do tempo, o grupo de amigos mudou. algumas crianças foram embora do village, outras chegaram... mas lica e rafinha continuaram lá, juntos, mais amigos do que nunca. na sétima série, rafael ficou de recuperação em geografia. aline passou uma semana ajudando-o a estudar todos os dias, o que garantiu a ele uma nota 8.5! como recompensa, lica ganhou um pote enorme de açaí com leite condensado, morango e granola. ela ficou tão feliz que só se lembrou de oferecer quando faltavam pouquíssimas colheradas pra acabar. rafinha até queria sim, mas preferiu deixar tudo pra ela. dava gosto de ver a menina sorrindo daquela forma, ele não quis correr o risco de estragar o momento.

agora faltavam poucos meses pro aniversário de 15 anos de aline. ela não quis ganhar uma festa, preferiu viajar. na semana do seu aniversário, lica e seus pais iriam para um hotel no rio de janeiro. ainda que essa não fosse a sua viagem dos sonhos, a menina estava muito feliz. aline passava horas planejando a viagem e pesquisando passeios diferentes, ela estava muito empolgada! a avó paterna de rafael era do rio de janeiro, o menino já havia passado as férias muitas vezes nas praias cariocas. por isso, rafinha fez questão de dar a ela todas as dicas possíveis. no seu roteiro da viagem, registrado num caderno antigo, aline escreveu de caneta vermelha, no alto da página: "não deixar de conhecer a sorveteria preferida do rafa!!!".

um dia antes de viajar, a menina estava tão ansiosa que não conseguia se distrair. ela pegou o celular e mandou uma mensagem de texto pra rafael, perguntando se podia ir na casa dele jogar video game. rafinha demorou sete minutos pra responder. ela já estava impaciente, mas sorriu ao ver a resposta: "corre, estamos te esperando", acompanhada de uma foto do controle do video game e um balde de pipoca. sem perder tempo, aline calçou o primeiro chinelo que encontrou pelo caminho e deixou um bilhete escrito às pressas na mesa da sala: "tô no rafa, volto mais tarde. se precisar, me liguem!". quando chegou na casa 52, rafinha já estava esperando na porta.

foi uma tarde muito divertida! enquanto jogavam, os dois conversaram sobre vários assuntos, não apenas sobre a viagem. como sempre, com seu jeito mais tranquilo, rafael conseguiu fazer aline se distrair e relaxar. aliás, sempre que ela se sentia muito nervosa, era ele quem a ajudava a se acalmar. de noite, ao abraçá-lo na hora da despedida, lica lembrou-se do abraço que eles haviam trocado há tantos anos, quando ela aprendera a pedalar. naquele momento, seu sentimento de gratidão era o mesmo. antes de dormir, rafinha mandou uma mensagem desejando boa viagem. "não esquece, o sorvete de frutas vermelhas é o mais gostoso", ele escreveu. aline com certeza se lembraria disso.

aline voltou pra casa num sábado à tarde. quando chegou no condomínio, três amigas já estavam à sua espera. as meninas ajudaram-na a descarregar as bagagens do carro e foram convidadas por patrícia, a mãe de aline, a entrar em casa. juntas, enquanto conversavam sobre todas as novidades dessa última semana, as quatro adolescentes desfizeram a mala de aline, separaram as roupas para lavar e guardaram tudo o que precisava ser guardado. quando aline foi tomar banho, bianca correu até a sala para conversar com a mãe da amiga. enquanto isso, carol mandou mensagem pra rafael e tati foi até o salão de festas do condomínio. assim que o chuveiro foi fechado, bianca voltou para o quarto de aline e ficou conversando com carol como se nada tivesse acontecido. quando lica percebeu que tati não estava mais ali, estranhou. as meninas inventaram uma desculpa qualquer e convenceram aline a acompanhá-las até o parquinho do condomínio. ela não queria ir, sentia-se cansada da viagem e preferia ficar em casa. mas até mesmo os seus pais insistiram para que ela fosse se divertir e matar a saudade dos outros amigos, então ela aceitou o convite.

bianca e carol estavam agindo de maneira esquisita, mas como aline não conseguiu encontrar nenhum motivo pra isso, preferiu deixar pra lá. assim que passaram em frente ao parquinho, aline perguntou se elas não iam parar. carol respondeu prontamente que iam até a casa de tati, perto do salão de festas, para ver se a amiga podia sair novamente. quando elas estavam a pouquíssimos passos da porta do salão, as luzes se acenderam e, em uníssono, diversas pessoas gritaram "PARABÉNS, LICA!". aline levou um susto tão grande que quase tropeçou. com um misto de vergonha, alegria e irritação por ter sido enganada, ela começou a chorar. as amigas correram para abraçá-la - inclusive tati, que foi quem acendeu a luz do salão de festas.

os pais de lica, que sabiam da surpresa desde antes mesmo da viagem acontecer, também apareceram. visivelmente emocionados, eles abraçaram os amigos da filha, agradeceram a demonstração de carinho, disseram para aline aproveitar a festa sem hora pra voltar pra casa e foram embora. quando conseguiu conter as lágrimas e conversar com os amigos, lica descobriu que a ideia toda havia sido de rafael. ele e bianca combinaram os detalhes com os pais de aline e organizaram, junto com os outros amigos do grupo, essa festinha surpresa. "eu sei que você não queria uma festa normal, mas não dava pra gente deixar essa oportunidade passar", ele disse. aline sentiu seu coração bater mais forte. rafael puxou-a para um abraço e, dessa vez, foi diferente de tudo o que ela já havia sentido antes. até o perfume que ele sempre usava parecia mais cheiroso. lica sentiu as bochechas arderem.

já passava das dez horas da noite quando o grupo começou a arrumar o salão para ir embora. aos poucos, os amigos foram se despedindo e voltando para suas casas. quando tati percebeu que restavam apenas cinco pessoas ali, disse para bianca e carol que elas precisavam deixar lica e rafael sozinhos. "é hoje, gente, eu tenho certeza! rafinha precisa tomar uma atitude de uma vez por todas!". ao passar por rafael, carol lançou-lhe um olhar que dizia claramente pra ele não perder aquela oportunidade. assim que ficaram sozinhos, rafael respirou fundo. "lica", ele chamou. aline olhou pra ele com uma ansiedade quase palpável. seu estômago estava retorcido, como se houvesse uma família de borboletas morando ali dentro.

"vamos conversar lá fora?", rafael perguntou. eles apagaram as luzes, trancaram a porta do salão e  foram para o parquinho. sentaram-se lado a lado, um em cada balança. por regra do condomínio, maiores de 12 anos não poderiam ficar ali, mas eles sabiam que ninguém fiscalizava depois das 22h00. lica  pensava nisso enquanto olhava para os próprios pés, tentando controlar o nervosismo, quando percebeu que rafael a encarava. com muito esforço, ela o encarou de volta. por mais que sempre tivesse se sentido completamente à vontade ao lado dele, aquela era uma situação completamente nova. aline sequer entendia tudo o que estava sentindo. assim que percebeu que ele iria falar alguma coisa, por impulso, ela falou antes: "o sorvete de frutas vermelhas foi o melhor que eu já comi". rafinha começou a rir.

- eu tô há dez minutos criando coragem pra falar uma coisa séria e, quando eu finalmente consigo, você me diz uma coisa dessa. aline do céu!

- o que foi? - ela perguntou, querendo rir, porém um tanto constrangida. suas bochechas estavam queimando novamente. por sorte, a luz da lua não era forte o suficiente para iluminá-la naquele momento. - desculpa... o que você ia falar?

- você jura que não sabe? - rafael queria rir, mas dessa vez era de nervoso. ele estava olhando fixamente dentro dos olhos dela. eram os olhos mais lindos que ele já tinha visto, apesar do seu tom de castanho completamente comum.

sem dizer nada, aline caminhou até um banco de madeira e chamou-o para sentar-se ali junto com ela. o coração de rafinha batia tão forte que ele tinha certeza que aline podia escutá-lo. sentados de frente um para o outro, em silêncio, eles encararam-se por alguns segundos. lica estava muito ansiosa, ela ainda não se sentia pronta para ouvir o que quer que rafael tivesse a dizer. mas ela sentia que queria a mesma coisa que ele. sendo assim, a menina inclinou-se alguns centímetros para frente, chegando mais perto de rafael. "desde quando?", ela perguntou. rafinha abriu um sorriso, o que fez o coração de aline saltar até a boca. "acho que desde sempre... mas no dia que você comeu todo o açaí depois de eu passar na prova de geografia foi que eu tive certeza", ele respondeu. aline gargalhou, essa resposta foi muito melhor do que ela estava esperando! sem pensar muito, ela fechou os olhos e projetou o corpo para frente, encostando os seus lábios nos dele.

esse não foi o primeiro beijo de nenhum dos dois, mas com certeza foi o mais especial até o momento. aline percebeu que rafinha sempre havia sido mais do que um amigo. por mais que não tivesse identificado isso antes, ela realmente também gostava dele de um jeito diferente. eles ficaram juntos ali no parquinho por mais uns quarenta minutos, conversando, dando risada e trocando beijos e abraços. rafael não queria se separar, mas aline estava caindo de sono. ela precisava mesmo descansar depois de um dia tão intenso. caminharam de mãos dadas até a casa 48, onde lica morava, e despediram-se com um selinho tímido. antes de dormir, ainda trocaram algumas mensagens de texto. rafael adormeceu com um sorriso de orelha a orelha pensando na última mensagem que ela enviara. "amo açaí e sorvete de frutas vermelhas, mas prefiro você. boa noite, a gente se vê amanhã! ❤️".

sábado, 28 de março de 2020

você assistiu errado, tenta de novo!

em 2017, a pixar lançou o filme viva - a vida é uma festa, que gira em torno de uma família mexicana e da celebração do día de los muertos.


miguel, o menininho com o violão, briga com a família por querer seguir seu sonho de ser músico e acaba indo parar no mundo dos mortos. como consequência, depois de sair quase tudo errado, miguelito faz com que sua família seja ainda mais unida do que antes.

esse filme é INCRÍVEL!! a história é linda, é muito divertido, tem músicas ótimas, as personagens são maravilhosas (frida kahlo tá no filme!) e é tudo tão colorido!!!!

poucas coisas na vida me fazem tão feliz quanto essa cena aqui:


é de encher os olhos mesmo, muito bonito de assistir! e é emocionante pra caramba, o filme tem umas cenas de deixar a gente com lágrima nos olhos. pra coroar essa belezinha, a mensagem no final é super positiva! mas aparentemente nem todo mundo concorda com essa minha afirmação...

se você não assistiu ainda e não quiser ler spoilers, eu sugiro que você pare por aqui. e sugiro com ainda mais insistência que você assista a esse filme pra ontem porque ele é, de longe, um dos meus preferidos da vida inteira ♡

segundo a crença mexicana, o día de los muertos é quando as almas voltam "pro mundo dos vivos" pra visitar seus entes queridos. as famílias montam um altar com as fotos dos falecidos, flores, comidas e outros objetos que representem quem já morreu. (se eu tiver falando bobagem, please, me corrijam!) não sei até que ponto o filme é fiel à cultura mexicana e à essa celebração, então pra evitar falar alguma coisa errada vou me basear unicamente na história que a pixar tá contando.

no filme, pra um morto conseguir atravessar a ponte pro mundo dos vivos e visitar a família, a foto dele precisa estar nesse altar. sem a foto, a passagem dele é barrada. além disso, pra que esse morto não desapareça pra sempre, ele não pode ser esquecido no mundo dos vivos. ou seja, a lembrança dele do lado de cá é o que faz ele continuar existindo do lado de lá. pois muito que bem.

já no mundo dos mortos, depois de mil encontros, desencontros e reviravoltas, miguel conhece seu tataravô e descobre que, se não voltar urgente pro mundo dos vivos, o tataravô vai sumir. isso porque a única pessoa da família que ainda tinha lembranças dele era filha, que é a bisavó do miguel, e ela já tava bem velhinha e perdendo a memória.

contando com a ajuda de todos os familiares no mundo dos mortos, miguelito consegue retornar e é aí que a gente tem a cena mais emocionante do filme. com um violão, contrariando todas as regras da família no mundo dos vivos, ele canta pra bisavó a música que o tataravô compôs pra ela. assim, ele reacende a memória da véinha, que volta a lembrar do pai dela com mais força. e a bisavó chora. e o miguel chora. e os outros familiares (que não queriam que ele tivesse cantado) choram. e você que tá assistindo chora MUITO.


a princípio, parece uma cena meio angustiante, porque se todo mundo tá chorando então a coisa é triste. mas a consequência disso é que o tataravô não foi esquecido e, portanto, não desapareceu. ou seja: FICOU TUDO BEM. daí o tempo passa, a bisavó também falece e a gente vê pai e filha juntos, se abraçando e sorrindo, no mundo dos mortos. miguel colocou a foto do tataravô no altar, então dessa vez todos os familiares falecidos conseguem atravessar a ponte pra comemorar essa data ao lado da família. eles dançam, cantam, brincam, dão risada... o filme termina feliz!

na minha perspectiva, um dos pontos do filme é mostrar que essa é uma data positiva, que é uma forma muito bonita de celebrar a vida de quem já partiu e de manter viva a lembrança daqueles que já não estão mais aqui. mas teve muita gente falando que era uma das histórias mais tristes que a pixar já tinha feito, que não tinha condição de rever etc etc etc.

você aí que ficou tão impactado com a cena emocionante a ponto de não conseguir perceber a mensagem positiva que o filme deixa, vamo assistir de novo? garanto que você não vai se arrepender!

eu assisti pela primeira vez em 2018, achei incrível e amei cada segundo. fiquei bem sentida com a história, mas de um jeito bom. me emocionei com a determinação do miguel e achei linda a forma como a família dele volta a se entender depois de tanto tempo, sem contar no sorrisinho que eu abri quando vi que, no final do filme, ele tava lá bem pleno tocando seu violão. mês passado eu assisti de novo e gostei mais ainda! terminei de ver muito mais feliz do que eu tava antes de começar.

se você ficou triste quando viu, tenta mais uma vez. essa belezinha merece! ♡

sábado, 18 de janeiro de 2020

sorrir pra não chorar

2019 foi o ano em que eu perdi as esperanças.

parei de acreditar que as coisas iriam melhorar em algum momento próximo e aceitei que tava tudo ruim mesmo, que não ia acontecer um milagre divino pra resolver todos os problemas do mundo. a vida ficou cinza, mas pelo menos não me frustrei muito (só um pouco). 

o cenário político nacional foi horroroso, teve incêndio matando adolescente, incêndio destruindo floresta, prédio desabando, lama consumindo uma cidade inteira, 200 casos novos de feminicídio por dia, racismo a torto e a direito... e isso só no brasil, sem considerar que o mundo inteiro tava em colapso.

antes de sair de casa pra trabalhar eu já tava mal humorada. não tem como ser feliz vendo esse monte de notícia ruim às 7h da manhã.


depois de tomar meu café com gostinho de desespero, eu tinha que pegar um ônibus, o trem e o metrô pra cruzar a cidade e passar 8h do meu dia dentro de um escritório, embaixo de um ar condicionado da sibéria que me dava dor de cabeça todos os dias, quase sem ver a luz do sol - porque a claridade na tela do computador atrapalha a vista, claro. e ganhando pouco, como já era de se esperar.

se tudo corresse bem, meu trajeto de casa até o trabalho - e vice-versa - durava 1h15. como isso raramente acontecia (bem-vindo à cidade de são paulo!), normalmente eu passava quase 3h/dia só nesse ir e vir. não há bom humor que aguente esse tempo todo em pé, num transporte caro, precário e lotado, ouvindo que a água gelada tá 2 reais e tendo que dar licença pra pastor maluco pregar gritando na orelha de todo mundo. socorro.

daí que eu perdi a vontade de fazer as coisas. basicamente, eu tava seguindo em frente porque não tinha outra opção. fiquei triste, desanimada, desacreditando de tudo. a vida tava pesada, ficou difícil mesmo. em 2019 eu só reclamei. quando alguma coisa boa acontecia, eu era a pessoa que falava (ou pelo menos pensava, quando não dava pra externalizar) "tá, MAS...". sabe? tava foda.

e eu tentava evitar ser uma pessoa horrível e ranzinza, então fazia piada e sorria o tempo todo. fingia que tava tudo bem, mas na verdade eu queria gritar.

ninguém merece viver assim, pelo amor da deusa. então pra 2020 eu quero - e preciso - tentar ver as coisas pelo lado do copo meio cheio. ou pelo menos ver que o copo tá pela metade, sem focar necessariamente no fato de ele estar meio vazio.

o problema é que 2020 mal começou e já tá uma desgraça MAIOR do que o ano passado. aí fica complicado demais pra uma pobre mortal tentar encontrar positividade no meio desse mar de horror que a gente tá vivendo. me sinto até mal de tentar ficar feliz quando tá tudo dando tão errado. e o mais bizarro é que, aparentemente, as coisas não vão melhorar mesmo. daqui pra frente é só ladeira a baixo.

mas como não posso me afundar mais nas bad vibes (e pra não dizer que não tentei!!), vou tentar ser mais grata pelo que eu tenho, pelo que acontece de bom na minha vida e na vida das pessoas que eu amo. quero tentar recobrar um tantinho da fé nas pessoas, que eu perdi completamente. quero sentir coisas positivas - e me agarrar nisso - quando eu ver alguém fazendo algo de bom por outra pessoa ou pelo planeta... enfim. essas coisas que a gente costuma esquecer rápido porque tá muito ocupado prestando atenção nos absurdos que acontecem o tempo inteiro.


essa mudança de atitude não vai transformar o mundo, mas vai deixar minha vida mais fácil. e, consequentemente, se eu tiver menos negativa, também vai facilitar a vida de quem convive comigo. e é um primeiro passo, né? se eu tiver bem, posso contribuir mais, ajudar mais. já diria minha mãe: "se eu mudar, tudo ao meu redor mudará também". nem que seja só um tiquinho.