era uma vez um menino que não sabia contar histórias. por mais que ele tentasse, leandro se embolava todo. ainda que as lembranças viessem pra ele com facilidade, as ideias se aglomeravam em sua mente e ficava quase impossível de por em palavras aquilo que ele estava pensando. o maior problema é que, quando a dificuldade chegava, ele se recusava a tentar.
- gente, deixa eu contar uma história... foi assim, um dia eu tava lá naquele lugar e, de repente, chegou uma moça. aí aconteceu uma coisa e... ah não, deixa pra lá.
- fala, leandro, a gente tá escutando.
- não quero mais. não rolou, não vou contar.
no começo, os amigos insistiam. pediam pra que ele não desistisse, tentavam até chantageá-lo para, quem sabe assim, escutarem a história. depois de um tempo, todos foram aprendendo a lidar com a falta de traquejo do menino em relação às narrativas. leandro empacava e não havia nada a fazer a respeito. a solução encontrada pelo grupo para resolver esse probleminha foi bem simples. já que o garoto não queria contar, eles inventariam. o menino dava a deixa, introduzia o assunto e, ao se calar, era obrigado a dar risada das mais absurdas continuações que surgiam. seus amigos eram bem criativos, isso ele não podia negar. além disso, as histórias costumavam ficar muito mais interessantes - e improváveis - nessas versões inventadas. será que o real motivo de leandro não era esse: ouvir da boca dos outros um final diferente pras suas próprias histórias?