terça-feira, 19 de maio de 2015

2. o causador de discórdias

eu resolvi colocar em palavras tudo o que eu jamais pensei em te dizer - ou melhor, resolvi tentar fazer isso, né. tudo ainda é tão sem pé nem cabeça que nem as frases eu consigo formar com muita clareza... eu posso afirmar poucas coisas a respeito de toda essa história. pra ser mais exata, eu tenho certeza a respeito de apenas três pontos. aqui vão eles:

1) sua chegada foi tão abrupta quanto a sua ida. chegou do nada, sem mais nem menos, e foi entrando sem nem pedir licença. quando eu me dei conta, você já tinha lugar cativo por aqui. o processo foi rápido, né? bizarro pensar nisso. em questão de dias parecia que a gente já se conhecia há anos. que sintonia maluca foi aquela que a gente descobriu que dividia? eram tantas coisas em comum que você, mais de uma vez, chegou a afirmar que eu era a sua versão de saias. eu já devia ter desconfiado que aquilo não estava certo, nem saias eu usava, afinal de contas. mas realmente era incrível o quanto a gente se dava bem. e era mais incrível ainda quando você me dizia, com todas as letras, que confiava em mim de um jeito único. todo mundo ouvia suas histórias malucas e engraçadas sobre coisas legais, mas só eu recebia pedidos de socorro quando as coisas ficavam feias. e eu me sentia aliviada em saber que também podia correr pra você quando precisava de uma força extra. no total, foram uns bons três anos de amizade. bem pouco perto do que tudo prometia, né? mas acontece que nesse meio tempo, as coisas mudaram muito entre nós dois. passamos de amigos pra algo que eu nunca soube nomear. e foi tudo tão rápido e tão intenso que às vezes eu nem lembro que também foi desgastante pra caramba. eu ficava tão confusa! agora lembrei que você é de gêmeos e, sério, isso explica muita coisa... esclarece inclusive o fato de eu ter me cansado de você e ter decidido que não, pra mim não dava mais, foi mal. e aí você sumiu do nada, sem mais nem menos, e foi saindo sem nem me dar um tchau. 

2) apesar de tudo, sempre houve um carinho imenso entre nós dois. desde sempre, até o final. amor mesmo eu não sei, pelo menos não aquele amor romântico entre duas pessoas. mas carinho, ah, esse sim! daqueles que me faziam criar coragem de falar ao telefone (mesmo que com a barriga revirando de vergonha). daqueles que te faziam me abraçar por longos minutos e ainda ficar querendo mais. daqueles que nos permitiam dividir uma barra de chocolate juntos enquanto você me explicava o funcionamento e as regras de algum esporte que eu confesso que não entendo até hoje - péssimo professor, hein? mas na época eu jurei que tinha entendido, só pra você sorrir pra mim.

3) ninguém nunca causou tanto desentendimento entre duas pessoas quanto você. nós dois discutimos poucas vezes. umas duas, três no máximo. briga mesmo nunca teve nenhuma. mas você sabe muito bem em quantas confusões já me meteu, né? nunca antes na história desse país duas pessoas brigaram tanto pelo mesmo motivo quanto aconteceu depois que você apareceu. era a coisa mais cansativa do universo passar todos os dias pelas mesmas discussões, ouvir sempre as mesmas ladainhas, responder sempre as mesmas besteiras. eu poderia ter resolvido esse problema de um modo muito simples: parar de falar com você (se eu soubesse que um dia você sumiria tão de repente, talvez eu tivesse feito isso). mas nunca sequer cogitei essa possibilidade, não me parecia cabível fazer isso com a gente. hoje em dia eu não falo com você e nem com quem brigava comigo por sua causa, olha só como as coisas mudam. os dois foram embora, mas as memórias da encheção de saco continuam aqui comigo.  

nossos caminhos seguiram por direções praticamente opostas e, vou ser sincera com você, não sinto nenhum pesar nisso. aceitei (com um tantinho de dificuldade) que assim seria melhor pra todo mundo. pra mim, principalmente. você me ajudou muito a não cair quando eu mais precisei e eu te agradeço imensamente por isso, mas te agradeço mais ainda por ter entendido que realmente não tinha mais nada a ver. não sei mesmo como você tá, como anda a sua vida, ou qualquer outra coisa do tipo. mas ó, espero que você esteja muito feliz. e que tenha se encontrado, finalmente. segue em paz, sempre!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

the amazing boat party

eu perdi umas oportunidades lá no meu intercâmbio. a maioria delas relacionadas a conhecer lugares diferentes e ir a festas/eventos. os motivos não cabem aqui - e nem são da conta de ninguém, na verdade - mas imaginem então o quanto eu fiquei feliz quando eu fiquei sabendo que a escola em que eu estudava ia dar uma Festa Muito Louca:D


o motivo da festa era o aniversário da escola. todos os anos eles comemoram da mesma forma: com um "esquenta" (entre aspas, porque não necessariamente rola bebida haha) com umas brincadeiras e tal, pra deixar o pessoal mais entrosado, em algum salão grande pra comportar todo mundo (no ano em que eu estive presente, alugaram o andar de cima do hard rock café) e depois, todos juntos, de metrô, eles levam a galera até o píer. a festa oficial de comemoração é num barco!! ele dá uma volta completa e a gente vê a cidade sob diferentes ângulos e presencia o céu mudando de cor muitas e muitas vezes... <3


isso já vai fazer dois anos (pqp, como o tempo voa!), então é óbvio que a maioria das minhas memórias já se perdeu. mas algumas coisas foram realmente bem marcantes, por mais bobinhas que elas possam parecer. foi nessa festa que eu comecei, de verdade, a ser amiga do francês mais chato feat. maravilhoso do planeta. foi nessa festa que meu amigo japonês de quase 30 anos fumou maconha pela primeira vez (e ele achou o máximo, digassi di passagi). foi nessa festa que o meu professor ficou tão bêbado que deixou minha amiga passar batom cor-de-rosa nele. foi nessa festa que uma intercambista asiática fez alguma besteira (não consigo lembrar o que foi ;~), levou bronca quando foi pega e chorou horrorres. foi nessa festa que eu e os outros brasileiros rimos bastantão dos gringos cantando e dançando "ai se eu te pego". foi nessa festa que eu vi um pôr do sol tão lindo que entra no top 5 da minha vidinha. foi nessa festa que eu me senti absurdamente abençoada e privilegiada por poder vivenciar aquilo tudo.


eu gostei muito desse dia! fui pega de surpresa, não fazia ideia de que a escola proporcionaria algo assim pros alunos. mas o que me deixou mais feliz foi a ideia de ter participado de algo diferente, que eu nunca tinha feito antes (no caso, uma festa dentro de um barco em movimento), e que eu teria poucas chances reais de fazer se estivesse no brasil. ah, canadá... que saudades de você e de tudo o que eu vivi por aí! já disse antes, mas não canso de repetir: um dia eu volto! fica esperando por mim!

um dia em toronto
(e suas diferentes cores, nuances e tons)



segunda-feira, 11 de maio de 2015

sinuosamente

meu coração anda tão apertadinho nesses últimos dias. e a garganta, ah, a garganta... essa aí nem se fala. de vez em quando tá que chega a doer. mas o problema mesmo são os olhos. esses eu não tô conseguindo controlar. eu me esforço, conto até dez, tento pensar em outras coisas. mas não há o que eu faça, meus olhos insistem em derramar lagriminhas inoportunas. são poucas, normalmente uma só. aquela filha única, que dá tchau sem olhar pra trás, e sai rolando pela minha bochecha antes que eu consiga contê-la. os motivos são muitos, mas se eu for reparar bem, parece que não há motivo algum. é uma palavra dita fora de hora, um silêncio que não devia existir, um pensamento meio torto. um não, vários. o que mais se encontra por aqui são pensamentos que chegam sem avisar, me pegam desprevenida e causam um desassossego chato na alma, uma tristeza levinha que não tá me dando folga. eu sou responsável pela maioria das coisas que me tiram do eixo - normalmente, minha imaginação cria motivos e possibilidades que não necessariamente são reais e eu fico maluquinha. eu sei que tudo não passa de invenção, eu sei que não há absolutamente nenhuma prova de que as coisas que se passam pela minha mente são verdadeiras. mas nada disso me impede de sentir um turbilhão de coisas que me esmagam o peito. ê, carência incessável que não larga do meu pé! tenho certeza de que a culpa disso é toda sua! se bem que, no fundo, a culpa é mesmo minha. eu digo que é dela pra me livrar do peso na consciência, pra fingir que não sei como consertar essa situação. só que a teoria é fácil demais se comparada à prática. por mais que eu tente, ainda não consigo largar a carência pra trás e preencher sozinha todo o meu vazio. já caminhei bastante, mas o caminho é muito longo. tô tão longe da metade que mal consigo vislumbrar o fim do túnel.

(o texto já tem um tempinho, mas agora faz tanto sentido quanto na época em que eu escrevi.)

sábado, 9 de maio de 2015

1. a intercambista que sente falta das sopas

eu descobri, por meio do blog da Analu, o 1001 pessoas que conheci antes do fim do mundo. eu sempre quis escrever posts que serviriam como cartas que eu jamais enviarei pras pessoas, mas eu só pensava naqueles com quem eu tenho um relacionamento maior. aí eu vi essa moça que escreve sobre qualquer um que tenha passado pela vida dela de forma minimamente significativa e me inspirei pra fazer mais ou menos a mesma coisa. e hoje eu tô dando início à brincadeira :)

***

ela, a escolhida pra abrir a nova coluna do blog, eu conheci simplesmente por obrigação. um professor da faculdade pediu pra formarmos grupos e entrevistarmos algum gringo que falasse português. meus colegas de grupo conheciam essa moça e perguntaram se ela podia ser a nossa entrevistada. ela aceitou. só que, de início, achei que a menina tivesse desistido de participar: marcamos num ponto de encontro e ela não apareceu. depois encontramos a coitada perdida pelos corredores confusos da faculdade. tava tudo bem.

a intenção era a moça falar por, pelo menos, 20 minutos corridos. precisávamos da gravação pra concluir o trabalho. ela começou tímida, falando o que parecia estar mais ou menos programado antecipadamente  na cabeça dela. contou da relação que tinha com a nossa universidade, disse que não sabia que seria tão difícil andar de ônibus e nem que ficaria fácil tão rápido de se entender com o metrô. também contou das diferenças do brasil e da colômbia, seu país de origem. no final das contas a conversa teve quase 1 hora de duração. e a intercambista lá, se esforçando pra dar sempre o melhor do seu português.

ai, a menina é uma graça, muito fofinha mesmo. mas o que me impressionou - e me deixou orgulhosa, até - foi descobrir que ela, no alto de seus 22 anos, sabe 4 idiomas e tá estudando mais 2. isso é o que eu quero pra minha vida, encher meu cérebro de informações e regras de diferentes línguas! e eu vi que é possível fazer isso mesmo com a pouca idade, é só a gente se empenhar e não desistir no primeiro "futuro do subjuntivo que eu não consigo entender quando usar" (palavras da própria intercambista).

moça, você é incrível! quero ser tão boa quanto você quando eu crescer. tomara que você consiga conhecer foz do iguaçu e manaus. tomara que seu namorado consiga arrumar um emprego logo. tomara que você continue estudando idiomas e consiga conciliar seus horários pra poder, finalmente, aprender alemão. sério, eu tô torcendo por você! :)