quarta-feira, 30 de agosto de 2017

memória olfativa e seus mistérios

as adversidades da vida acabaram me afastando da minha madrinha, já faz muitos anos que a gente não tem contato uma com a outra. as lembranças que me restam da época em que passamos juntas são bem pontuais, já me esqueci de muita coisa (por exemplo, lembro de estar passando a novela o cravo e a rosa em um dia em que eu estava na casa dela, mas já não sei mais o que fizemos além de ver tv). eu não consigo mais lembrar de quase nada. nem do som da voz dela, nem de como ela estava vestida da última vez em que a gente se viu. nada.

até que esses dias a memória dela voltou nítida pra mim. sem mais nem menos, a imagem da minha madrinha brotou na minha mente assim que uma aluna sentou do meu lado. a princípio eu não entendi. elas não se parecem fisicamente, não têm o mesmo nome, a mulher nem falou nada que pudesse ser relacionado à minha madrinha. mas ainda assim a lembrança dela me atingiu em cheio.

a única coisa que eu consegui pensar foi que o cheiro de cigarro que a aluna exalava devia ser o mesmo da minha madrinha. e eu nem sabia que ela fumava (minha mãe confirmou que sim).

as bifurcações pelo caminho nos fizeram andar pra lugares diferentes (não a culpo por ter se distanciado e nem me culpo por ter aceitado isso tão bem), mas pelo visto ela continua comigo. fiquei feliz de constatar que ainda guardo um pedacinho dela tão presente dentro de mim - mesmo que ele esteja relacionado ao cheiro do cigarro, algo que eu não suporto.

madinha: onde quer que você esteja, espero que esteja bem. <3

quarta-feira, 26 de julho de 2017

eu caí no golpe do instagram

convenhamos que já faz muito tempo que eu tô na internet né, gente (não que fosse tudo mato quando eu cheguei, mas ainda era um lugar relativamente em construção). então me custa um pouco admitir que eu caí no golpe mais ridiculamente detectável de todos os que existem nessa famigerada rede mundial de computadores: o da vida perfeitamente feliz.

não é de hoje que a gente sabe que não dá pra confiar em tudo que a gente vê online, ainda mais no instagram. mas mesmo assim eu me deixei enganar. o twitter tá aí pra gente reclamar da vida, o facebook é um lixão a céu aberto, mas o instagram é uma desgraça!!! porque ali ninguém posta foto feia, ninguém coloca a parte ruim. é só comida gostosa, roupa bonita, role legal, viagem.. 

e que quantidade absurda de viagem, hein? eu fico com a impressão de que sou a única pessoa da história do brasil que tá em casa, absolutamente todas as outras tão viajando e se divertindo e conhecendo um monte de lugar lindo enquanto eu tô presa nessa rotina bosta de trabalho. 

só que a parte bizarra é que EU SEI que a vida de ninguém é assim tão maravilhosa. eu mesma só posto no instagram o que eu considero legal, não coloco foto minha em pé no ônibus às 20h30 chorando de fome. tem foto minha e do boy cheios de amor, tem selfie bonita de quando a autoestima tava alta, tem foto antiga de quando eu tava pagando de gatinha na praia. mas foto minha perdendo mais de uma hora no banco pra resolver um problema com o cartão é claro que não vai ter. a regra implícita do instagram é que ali a gente só expõe a parte boa.

e ainda assim, mesmo tendo plena consciência disso, eu fico mal vendo as fotos. mesmo que o meu próprio feed só tenha a parte bacana. parece que a vida de todo mundo é muito mais legal, muito mais interessante, muito mais divertida. a galera tá dando role na europa, tá conhecendo o brasil, tá indo pra restaurante caro. e eu tô na mesa do trabalho rolando as fotos e curtindo todas (todas mesmo, sou dessas que dá like indiscriminadamente) com aquele sentimento amargo de "não é possível que só eu tenha essa vidinha mais ou menos". 

já diria o ditado: todo mundo vê as pinga que eu bebo, mas não vê os tombo que eu levo. o problema é que, nesse momento, o que eu sinto é que só eu levo tombo. parece que a vida das pessoas só tem a parte da pinga. 

quarta-feira, 19 de julho de 2017

sobre o que realmente importa

eu sou 100% meninas que não conseguem viver o presente e ficam pensando incessantemente sobre o futuro (ansiedade né, que coisa boa), então é óbvio que eu já tenho um milhão de planos - e que eu não tenho necessariamente a pretensão de colocar todos eles em prática, porque sou ansiosa mas não sou tão trouxa assim e já me basta de decepção nessa vida. 

daí que eu separo esses planos em algumas categorias. tipo: "meta de vida", "seria muito legal mesmo se de repente isso acontecesse em algum momento", "farei quando terminar a faculdade", "quero antes dos 30", e coisa e tal.

um dos meus planos pra um futuro de preferência próximo (digamos que a categoria desse seja "o mais rápido possível mas tudo bem se for daqui a alguns anos a vida é assim mesmo") é pegar minha mochilinha, dar a mão pro boy e caçar um cantinho pra chamar de nosso em algum lugar longínquo desse mundão de meu deus. e na verdade nem precisa ser tão longínquo assim, ali no uruguai eu já me dou por satisfeita, mas o plano é que o nosso cantinho se encontre em terras estrangeiras. 

preciso fazer um adendo pra dizer que amo d+ a minha terrinha, então mesmo querendo muito ir morar fora (porque afinal de contas o mundo é muito grande e não tem a menor graça passar a vida inteira no mesmo lugarzinho sendo que tem tanta coisa incrível pra ver por aí) eu pretendo voltar obviamente pois brasilzão véio de guerra melhor país de todos apesar dos apesares etc etc etc.

eis que eu e o digníssimo senhor boy estávamos conversando sobre como seria a nossa vida morando em outro país e começamos a pensar em coisas sérias, tipo como a gente ia fazer pra pagar as contas, que tipo de visto a gente ia precisar pra entrar nesse tal outro país e ficar morando lá ("mas será que já dá pra entrar com visto de trabalho sem ter um trabalho antes???"), esse tipo de coisa. até que a gente se deparou com a maior das nossas agruras e já começamos a pensar em soluções pra superar esse transtorno, mas ainda não sabemos como driblar de vez esse obstáculo.

no momento a nossa maior preocupação é: E O PÃO FRANCÊS? COMO QUE A GENTE VAI VIVER SEM PÃO NA CHAPA DE MANHÃ MEU DEUS DO CÉU ISSO NÃO VAI SER NADA FÁCIL

porque convenhamos que não ter como se manter em outro país é um problema grave, mas não ter aquele pãozinho francês esperto pra matar a fome de manhã é um problema GRAVÍSSIMO!

terça-feira, 9 de maio de 2017

17 e 18. fazendo amigos no transporte público

não me sinto confortável conversando com gente desconhecida. pra mim é um sofrimento real ter que interagir com quem eu não conheço. fico sem saber o que fazer, o que falar, enfim. acho uó, de verdade. mas aparentemente tem algo na minha cara que faz com que toda e qualquer pessoa que passe pelo meu caminho puxe assunto comigo. não consigo entender o que rola, mas parece que eu tenho um ímã que realmente atrai as pessoas. apesar de andar na rua fazendo ~cara de poucos amigos~, bem fechada mesmo, pra tentar evitar ao máximo que os outros se aproximem (#meujeitinho), a galera continua me pegando pra cristo e vindo conversar.

daí que eu fiz "amigos" no ônibus esses dias.

eu tava de boinhas sendo meu livro até que sentou um adolescente do meu lado. a mãe dele tava junto e ficou em pé. falei pra moça que eu ia levantar pra ela sentar, porque tinha outro banco vazio e era só eu mudar de lugar. ela disse que não precisava, que não queria sentar. tentei voltar a ler o livro, mas o menino me ofereceu uma bisnaguinha pra comer. quis dar risada pelo absurdo da situação, mas só agradeci e voltei pra minha leitura. aí a mãe dele perguntou se eu podia abrir a janela, apesar de estar chovendo. ela fez uma piadinha sobre a água, eu dei risada por educação e desisti de voltar à leitura, porque percebi que aqueles dois não iam me deixar quietinha no meu canto.

guardei meu kindle na mochila e fui limpar meu óculos, porque as lentes estavam cheias de pinguinhos d'água (tomei chuva antes de chegar no ponto de ônibus). aí a mãe do menino começou a puxar assunto comigo - eu demorei pra perceber que era comigo, ignorei as primeiras duas frases da mulher - e contou que precisava fazer exame de vista, que o pai dela usava óculos e deveria ser hereditário. eu sorri, disse apenas "é, faz sim.." e acenei. ela continuou falando. daí o menino finalmente entrou na conversa e, desde então, não ficou quieto nem por um segundo.

primeiro ele me perguntou como eu fazia pra assistir a filmes 3d no cinema, já que uso óculos. depois, não sei como, o assunto mudou totalmente e ele me contou o dia dele inteirinho na escola. falou onde estuda, em qual série ele tá, qual matéria ele gosta, o que ele tinha comido no lanche... eu não sabia o que responder, só fiquei dando risada mesmo. primeiro porque rir é o que eu faço quando fico sem reação, segundo porque achei mesmo tão bizarro ele me falar tudo aquilo sem eu perguntar que dar risada foi meio natural. depois ele me contou onde mora, quantos ônibus pega pra chegar em casa, disse que tem um fluxo de funk na rua da casa dele de fim de semana que faz o ônibus mudar de rota e isso atrapalha o bairro todo... enfim. foram 30 minutos de ladainha. às vezes eu encorajava o menino a continuar, porque não dava mais pra fugir, às vezes eu me desligava da conversa e perdia uns dois minutos de fala. e assim fomos da hora em que eles entraram no ônibus até o ponto final, onde nós todos descemos.

eu não suporto conversar com quem eu não conheço no transporte público, mas também não consegui cortar o papo do menino e da mãe dele. os dois eram tão simpáticos que eu não pude evitar.

se eu preferia ter ficado quietinha lendo meu livro? definitivamente. se eu gosto de pensar na possibilidade de encontrar os dois de novo e retomar essa conversa? jamais. mas não foi de todo ruim. deu pra ver que eles ficaram felizes de encontrar um ouvido disposto a escutar tudo o que eles tinham pra dizer, ainda que não fossem lá grandes coisas.

vai ver a minha cara de poucos amigos não é tão eficiente quanto eu pensei que fosse...

sábado, 8 de abril de 2017

16. "sabia que eu sou tagarela?"

uma das minhas funções no estágio novo é acompanhar duas menininhas pequenas, separadamente, enquanto elas fazem as tarefas de inglês. a gi tem 5 aninhos e é descendente de japoneses, a nina tem 6 e é descendente de coreanos. por mais que a japonesinha seja uma graça, a coreana é apenas o amor da minha vida e a salvação da minha semana. essa menina é um absurdo de tão maravilhosa.

no nosso primeiro dia juntas ela já começou me avisando que não parava de falar. sendo ela uma criança muito sábia, tinha consciência de que já era melhor me avisar logo no começo que ela era tagarela mesmo e eu não podia fazer nada a respeito, apenas aceitar a vida como ela é. e a menina realmente não para de falar nem por um segundo, é impressionante. às vezes fico meio agoniada, porque vai dando a hora do pai dela chegar pra buscar os filhos e ela ainda não terminou as lições, mas nada que um "nina, seu pai vai chegar daqui a cinco minutos!" não resolva ;)

o tanto de risada que eu dou com essa criança não tá escrito! aliás, ela mesma já fala rindo porque sabe que é engraçada, por mais que às vezes eu tente manter a compostura pra ver se com a minha cara de séria ela se convence a parar de graça e voltar a fazer os exercícios. spoiler: nem sempre funciona.  ¯\_(ツ)_/¯

dia desses, enquanto ela fazia as lições em classe, eu tava corrigindo as lições de casa que ela trouxe. de repente senti que tinha algo diferente no ar. quando levantei os olhos do papel, dei de cara com ela a pouquíssimos centímetros de mim, segurando o riso, só esperando eu perceber que ela estava ali. é claro que eu me assustei quando vi e a doida desatou a gargalhar, como se aquela fosse a coisa mais engraçada do mundo. e naquele momento foi mesmo. deu vontade de roubar essa criança pra mim e não devolver nunca mais <3

é incrível o quanto a gente se apega rápido quando a criança é cativante, né? parece que a gente se conhece há tempos, de tanto que eu gosto dela. são cinquenta minutos juntas ensinando, aprendendo e rindo sem parar. é muito mais do que só o inglês. ela me pergunta o significado das palavras que não conhece (esses dias ensinei pra ela o que era uma empadinha e o que significava chamar uma pessoa de abelhuda) e ela me ensina como fala algumas coisas em coreano. eu obviamente não aprendo nada, mas ela se convence de que é uma ótima professora mesmo assim. aliás, a criatividade da menina é tanta que ela me ensinou como se desenha um porquinho sem usar nem lápis nem papel, só descrevendo quais os traços se deve fazer pro porco aparecer. achei genial, porque eu realmente consegui visualizar um porquinho na minha cabeça hahaha

às vezes eu me arrependo um tantinho por ter aceitado esse estágio de auxiliar de professora, é cansativo pra caramba passar a tarde inteirinha corrigindo lição e tirando umas dúvidas absurdas dos alunos que na maioria dos casos nem queriam estar ali. mas aí eu lembro que se não tivesse começado a trabalhar ali eu provavelmente jamais teria conhecido essa pequena maravilhosa e fico mais aliviada. nem sempre eu tô motivada a ir pro trabalho feliz, mas pelo menos de terça e quinta eu tenho um gás a mais, porque sei que a nina vai estar lá pra me proporcionar os melhores momentos da semana.

ela não faz a menor ideia disso, mas sempre que pega na minha mão ou me conta alguma coisa aleatória sobre o dia dela na escola o meu coração fica quentinho, quentinho. :)