sábado, 22 de dezembro de 2018

stuck on a roller coaster

e 2018, hein, mores? que ano esquisito.

não foi exatamente ruim, mas teve muito momento baixo. por outro lado, não teve lá tantos altos assim, então não sei porque me fica essa impressão de que, no fundo, até que foi bom. acho que só pelo fato de não ter sido horrível eu já considero o saldo positivo. será que finalmente tô aprendendo a enxergar o copo meio cheio? ¯\_(ツ)_/¯

se eu tivesse que definir, diria que, mais do que tudo, esse foi um ano de encerramento de ciclos (uns mais felizes do que outros).

perdi minha avó. me formei na faculdade antes do tempo esperado e com notas muito boas. fiquei vários meses desempregada. trabalhei de casa por conta própria. arrumei meu primeiro emprego com carteira assinada. li vários livros bons. quase não chorei. tive menos crises de ansiedade, mas vivi por um bom tempo com o pensamento no futuro, sem conseguir efetivamente aproveitar o que o presente me oferecia. me senti inútil e despreparada em diversos momentos. não me arrependi de nenhuma das escolhas que fiz, mas questionei todas elas quando já não dava mais tempo de voltar atrás. me distanciei de pessoas que eu gosto, mas também me reaproximei de pessoas que tavam distantes e me fazem bem. escrevi com mais frequência. abandonei vários textos de ficção que eu comecei a escrever porque travei e não sabia mais o que fazer com eles (pode ser que uma hora eu termine, quem sabe...). consegui estabelecer uma rotina de exercícios físicos e minha autoestima cresceu. não cumpri a >única< meta de ano novo que eu tinha pra 2018. perdi toda e qualquer esperança em relação à sociedade brasileira, que se revelou ainda pior do que eu pensava. etc etc etc. 


eu tenho a impressão de que minha vida adulta tá começando só agora, que tô finalmente formada e dando início à minha carreira de verdade, como se todo esse tempo que veio antes tivesse sido só um teste, um período de adaptação pra eu me ajustar. tô com expectativas pros anos seguintes, não paro de fazer um zilhão de planos. mas daquele meu jeitinho: com os dois pés no chão, torcendo pra tudo dar certo, mas sem me decepcionar muito caso os sonhos não se tornem realidade.

pra 2019 eu só quero continuar fazendo tudo o que tá dando certo e parar de fazer o que não funciona tão bem assim. só isso. vamos viver sem grandes pretensões além de ser feliz. acho que tá bom, né? tomara que daqui um ano eu volte e diga que as coisas foram melhores do que eu poderia imaginar. :)

espero que, apesar de todos os altos e baixos que sempre se fazem presentes, o ano de vocês também tenha pendido pro lado positivo da balança. e desejo mesmo, de coração, que todo mundo seja cada vez mais feliz!

vem, 2019! (mas vem com carinho, não precisa chegar com os dois pés no peito não, tá? grata desde já.)


______

o post tá com cara de despedida, como se eu só fosse aparecer aqui de novo no ano que vem, mas juro que ainda volto daqui uma semaninha pra mostrar as leituras de dezembro! ;)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

beletrista

gente... EU ME FORMEI.

minha última aula foi em junho, porque teve greve na faculdade, mas em julho eu terminei de entregar todos os trabalhos finais e muito tempo depois, só em setembro, eu finalmente assinei minha colação de grau.

fiquei muito tempo pensando que eu deveria escrever sobre isso, porque foi um pedaço imenso da minha vida e porque eu não perdia tempo pra vir aqui falar mal do curso, dos colegas, dos professores etc. mas eu travei. comecei vários textos, mas larguei todos pela metade. eu não tava conseguindo me expressar, não sabia muito bem o que dizer.

mas basicamente é isso: depois de 09 semestres (um a menos do que o tempo padrão!) eu finalmente posso dizer em alto e bom som que sou graduada em letras pela usp, com habilitação dupla em português e inglês.

eu escolhi esse curso porque não sabia o que queria fazer da vida (agora eu acho que tô começando a descobrir). na escola, eu via meus amigos falando com certeza que queriam ser advogados, engenheiros, arquitetos, médicos... e eu só conseguia pensar "mas COMO você já sabe disso se a gente só tem 16 anos????". me senti pressionada a escolher, comecei a achar que o problema tava em mim, que talvez não levasse o meu futuro tão a sério ou sei lá.

fui pelo caminho mais óbvio: pensei nas matérias que eu gostava de estudar, vi em quais delas o meu desempenho era melhor e corri pro guia do estudante pra ver se me surgia uma luz no fim do túnel. no fim das contas, entrei na letras porque cismei que queria trabalhar com tradução. dei uma olhada na grade do curso e não entendi nem metade das matérias, mas achei que tava tudo bem. ia continuar estudando umas coisas que eu gostava e é isso, tava ótimo.

primeiro semestre e eu já tava querendo me esconder num buraco porque PELO AMOR DE DEUS NÃO É POSSÍVEL QUE É ISSO AQUI, socorro, alguém me ajuda etc. eram só quatro matérias: uma sobre ilíada e odisseia (eu nem sabia o que era isso), outra sobre linguística (eu também não tinha a menor ideia), a outra falava sobre a origem da língua portuguesa desde o protoindo-europeu (o quê?????) e sobre variação e preconceito linguístico, e a última era sobre poesia (que tinha tudo pra ser possível, estudar métrica, rima etc, mas o professor achou de bom tom colocar alunos recém saídos do ensino médio pra ler filósofo francês).

a carga de leitura do primeiro ano é tão grande que não tem aula de sexta feira, pro aluno dar conta de ler tudo o que os professores pedem.

eu não via a hora de começar logo a estudar gramática, mas esse dia nunca chegou. o primeiro banho de água fria com a letras veio quando eu descobri que esse tipo de coisa não fazia parte da grade curricular. aí você talvez esteja se perguntando: "mas se você não estudou gramática, você estudou o quê????". olha... muita coisa.

estudei livros clássicos gregos e latinos, muita literatura brasileira, muita literatura portuguesa, literatura americana, literatura inglesa, literatura africana de língua portuguesa e, de quebra, ainda li obras armênias, caribenhas e irlandesas. nesses quatro anos e meio eu li muitos romances, contos, poemas e peças de teatro nos dois idiomas. consequentemente, tive que ler muito texto teórico e de análise literária. e isso significa que também tive que estudar filosofia e história. cursei latim, cultura armênia, cultura italiana e pensamento da índia antiga. estudei sintaxe, morfologia, semântica, fonética e fonologia tanto em português quanto em inglês. também estudei teorias do texto e análise do discurso. cursei sociolinguística, psicolinguística e filologia. estudei teoria da tradução e tive muitas aulas práticas. fiz uma matéria de escrita criativa e, no final das contas, meu conto de ficção acabou sendo publicado na revista da faculdade (se quiser ler, tá aqui, na página 105).

por mais que eu tenha feito uma lista imensa, só dizer "os nomes" das matérias não faz jus a tudo o que eu aprendi nesse curso. estudar letras me enriqueceu muito como pessoa. tive contato com muita coisa que abriu meus olhos e me fez enxergar além do que eu conhecia. é óbvio que nem sempre eu gostava das aulas ou dos professores, mas o tanto de coisa incrível que eu estudei compensa as partes ruins.

não posso deixar de dizer que em determinado momento (talvez no segundo ano, agora já não lembro direito) eu questionei a minha escolha e pensei seriamente em sair e procurar outra coisa, mas eu tinha certeza que nenhum outro curso me faria mais feliz do que aquele. ainda que eu não soubesse o que fazer com ele depois de me formar, eu amava o que eu tava estudando. a bagagem que a letras me proporcionou é gigantesca e olha que eu não aproveitei nem metade do que a faculdade tinha pra me oferecer.

quando eu decidi que queria ser tradutora, eu não imaginava que mudaria de opinião tantas vezes a respeito da minha carreira. pensei que eu entraria na faculdade, leria uns livros, estudaria língua portuguesa e inglesa e terminaria focada em traduzir. eu não fazia ideia do tanto de coisa diferente e incrível que a letras ia me proporcionar. não foi por isso que eu escolhi fazer o curso, mas foi por isso que eu escolhi continuar até o final.

pode ser que eu tivesse mais sucesso financeiro se tivesse feito qualquer outra coisa. ou que eu tivesse mais prestígio, que as pessoas olhassem pra mim e pro meu diploma com mais respeito e admiração. mas nada disso supera o calorzinho no coração de ter concluído uma graduação riquíssima, que efetivamente me deixou realizada e orgulhosa de mim e do que eu escolhi.

apesar de toda a parte ruim, eu digo com tranquilidade que é uma delícia ser beletrista.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

ah, se ela soubesse...

Lila se olhava no espelho, apreensiva, pensando se deveria ou não trocar de roupa. Não tinha a menor intenção de demonstrar que passara duas horas se arrumando; queria parecer o mais natural possível. Depois de uma análise fria sobre a sua aparência, resolveu apenas trocar os brincos. Enfim, a moça ficou satisfeita com o resultado final. Sentia-se linda, leve e feliz.

Conferiu o celular pela última vez antes de sair de casa. A mensagem de Pedro estava lá, enviada apenas dez minutos antes, avisando que ele já estava indo ao local marcado: um barzinho novo, bem no centro da cidade. Lila sorriu, pegou sua bolsa e se dirigiu ao ponto de ônibus torcendo para que tudo desse certo.

Era uma noite quente de primavera. As ruas estavam barulhentas, do jeito que Lila mais gostava. Músicas altas saíam de dentro dos carros em movimento, pessoas conversavam e davam risada, cachorros latiam e corriam, aparentemente despreocupados. A brisa fresca que batia contra a sua pele era reconfortante. Lila consultava o relógio a cada dois minutos, com medo de se atrasar demais. Ela não queria estragar tudo por chegar muito tempo depois do horário combinado. Sentia que, pela primeira vez, as coisas estavam realmente se encaixando. Como se daquela vez tudo fosse dar certo.

O encontro com Pedro foi ainda melhor do que ela esperava. A conversa entre eles fluíra de forma natural, sem que nenhum dos dois precisasse se esforçar pra continuar o assunto. Na hora da despedida, Lila ganhou um beijo demorado na bochecha e um abraço que deixou sua roupa com o cheiro do perfume dele. Menos de cinco minutos depois do tchau, Pedro já estava mandando uma mensagem sugerindo o local do próximo encontro. Lila tinha certeza de que havia finalmente encontrado o amor da sua vida.

Ao chegar em casa, ainda sorrindo ao pensar em Pedro, a moça decidiu confirmar as coisas antes de se deixar iludir. Ligou para sua amiga Bruna, uma renomada vidente que efetivamente era capaz de ver o futuro e as suas possibilidades. Bruna sabia melhor do que ninguém o quanto Lila já havia sofrido por causa de seus relacionamentos passados. Foi assim que as duas se conheceram, inclusive. Depois de muito se decepcionar com os seus romances fracassados, Lila descobriu os serviços de Bruna e, desde então, passou a contar com a ajuda dela para decidir o que fazer. Antes de consultar sua bola de cristal, Bruna quis saber de tudo sobre o encontro dos dois. Quando a amiga terminou de contar, a vidente estava tão ansiosa quanto ela.

A respiração de Lila estava acelerada. Era impossível controlar o nervosismo; ela queria muito que Pedro fosse o homem certo. Assim que Bruna lhe garantiu que o destino dos dois não era o que ela queria ouvir, Lila sentiu suas pernas fraquejarem. “Desculpa, amiga. Pedro não é a pessoa com quem você vai passar o resto da sua vida”. Lila chorou e se perguntou se algum dia ela encontraria essa pessoa. Se Pedro não era o homem certo, então quem seria? Bruna tentou contar o resto das suas previsões, mas Lila não deixou. Precisava se desvencilhar de Pedro o mais rápido possível, antes que os dois se envolvessem demais. Limpando as lágrimas, a moça respondeu com palavras frias a mensagem carinhosa que havia recebido, colocando abruptamente um ponto final numa história que mal havia começado.

Como Lila não deixou sua amiga falar, ela não ouviu a parte boa das previsões. Lila só soube que não ficaria com Pedro para o resto da vida e, não querendo mais sofrer com términos, preferiu terminar esse romance antes que ele evoluísse. Mas ela não teve a oportunidade de saber que, caso eles ficassem juntos, teriam vivido uma história de amor incrível. Não seria eterna, é verdade, mas será que isso era realmente tão importante assim? Lila nunca soube que seu relacionamento com Pedro teria durado seis anos e que ela teria sido a pessoa mais feliz do mundo durante aquele período. No fim das contas, os dois precisariam se separar, mas nenhum dos momentos bons teria sido apagado. As recordações felizes continuariam dentro dela, fazendo com que ela sempre nutrisse sentimentos bons em relação a Pedro e ao que eles viveram juntos. Sem traumas, sem cicatrizes. Apenas uma saudade boa de uma época muito prazerosa, mas que infelizmente não tinha como continuar.

Talvez, se ela soubesse disso, Lila teria dado uma chance a eles. Mesmo querendo evitar ao máximo se machucar de novo por causa de um relacionamento mal sucedido. Se ela soubesse que o saldo positivo seria infinitamente maior do que o negativo, talvez ela não tivesse desistido antes mesmo de tentar. Se ela soubesse que não ficaria com Pedro pra sempre, mas que ele definitivamente era sim o amor da sua vida, ela com certeza teria tentado. Ah, se ela soubesse...

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

20. pra fechar o curso com chave de ouro

desde que eu entrei na faculdade eu vejo as pessoas falando nos grupos do facebook sobre os professores incríveis e maravilhosos e impressionantemente bons que existem por lá, aqueles professores que todos amam de paixão e que dão aulas extraordinárias etc etc etc. eu já tive aula com diversos desses docentes amadíssimos e, sinceramente, nunca me encantei muito com nenhum deles.

ou o professor era realmente muito bom dando aula mas era uma pessoa uó, ou era uma pessoa incrível mas a aula era bem meia boca, ou era uma pessoa legal e dava uma aula boa mas foi tão desorganizado com as avaliações que perdeu até o encanto e por aí vai. eu nunca tinha conseguido gostar de verdade mesmo de nenhum professor, em algum momento do semestre eu sempre ficava com aquele gostinho de decepção na boca.

até que no último semestre eu resolvi me matricular numa matéria que eu não tinha a menor vontade de cursar e que tinha tudo pra ser um erro absoluto. daí que eu fui agraciada com o único professor da graduação que me fez feliz do começo ao fim e que eu sentia vontade de abraçar de tanto amor.

como não amar um homem que usa MEIA DE RAPOSA?

eu tenho 0 interesse em estudar poesia, mas o último semestre é aquele momento em que você cursa o que tiver disponível pelo simples motivo de PELO AMOR DE DEUS DEIXA EU ME FORMAR!!! então corri o risco. primeiro dia de aula e só então foi que a turma (que era bem pequena, umas 20 pessoas no máximo) descobriu que o professor era nativo americano. foi um misto de yay! com deus me dibre e guarde. aí o moço contou que nasceu nos eua, mas a família é cubana então a primeira língua dele é espanhol e, por isso, ele tinha um nível mais ou menos ok de português. terminei a primeira aula animadíssima porque por mais que eu odiasse a ideia de passar um semestre estudando poesia em língua inglesa eu já tava decidida a amar este homem.

as aulas foram passando e eu só gostava dele cada vez mais, não tinha 01 defeito pra botar no professor. fofíssimo como pessoa, dava vontade de sentar pra tomar cafézin junto. a aula era boa, era divertida, ele realmente se interessava em ouvir os alunos e queria saber nossa opinião sobre várias coisas. o único problema é que essa matéria era dada às 8 da manhã às segundas feiras...... e, sendo assim, muita gente faltava. eu me sentia mal de faltar, porque aconteceu várias vezes de ter só umas dez pessoas na sala e ele obviamente já tinha decorado o nome de todo mundo, então eu me obrigava a ir hahaha mas eu nunca me arrependi :)

por conta da greve na faculdade, o método de avaliação foi um único trabalho de análise literária sobre o romantismo inglês. além de esse ser um tema insuportavelmente chato, eu sou HORRÍVEL analisando poesia. fiz um trabalho mental pra conseguir me convencer a continuar gostando do professor mesmo se eu tirasse uma nota média, porque a culpa de ir mal teria sido minha e não dele (tão fácil falar que o professor te deu nota ruim em vez de admitir que você fez um trabalho meia boca!), mas a cereja do bolo foi eu ter tirado 8!!!!!!!!! e ele ainda devolveu os trabalhos comentados ponto a ponto, justificando a nota e tudo mais. QUE HOMEM.

agora o bonitinho já voltou pros eua e quem não fez aula com ele infelizmente perdeu uma baita oportunidade. ele ficou pouco porque veio pro brasil pra estudar, se eu não me engano ele é especialista em romance latino-americano, daí aceitou o convite da faculdade pra assumir essa matéria. sentirei saudades reais do meu professor preferido da graduação todinha ♡ (e só dele mesmo, do resto eu quero mais é me distanciar!)

_

fun fact: ele era VICIADO em guaraná zero (disse que o normal era muito doce) e passou uma aula inteira falando sobre isso sempre que surgia a oportunidade. e às vezes quando não surgia também, ele tava impossível, botava o refrigerante no meio do assunto a cada dez minutos. ^^

quinta-feira, 7 de junho de 2018

07 anos de pura resiliência

a nina é a melhor criança que eu já conheci. tá no top 10 pessoas que eu mais amo no mundo. e ela me ensina tanto, mas tanto, que nem parece que a professora sou eu. 

a gente sempre tem umas conversas maravilhosas. às vezes eu esqueço que ela é tão pequena, de tão inteligente e madura que a bichinha é - só pra vocês terem uma noção, ela tá no segundo ano do ensino fundamental, o equivalente à antiga primeira série, e já tá estudando comparativo e superlativo nas nossas aulas de inglês porque ela avançou mais de três anos em relação ao conteúdo da escola. 

mas ela ainda tem sete anos de idade, né? é uma nenê, praticamente. <3

e, além da escola regular (das 07h às 16h) e do curso de inglês, ela ainda faz aula de piano, informática, coreano (aos sábados) e ensino religioso (na igreja coreana, aos domingos de manhã!). antes tinha natação e taekwondo aí no meio também, mas a vida da ninoca tá meio sem esportes ultimamente.

daí que essa semana ela tava reclamando sobre ter que fazer muita lição e rolou o seguinte diálogo:

- eu odeio a escola coreana!
- sério que você não gosta?
- é muito chato! eu tenho que ir todo ano, todo mês, toda semana!!! 😠
- então por que você faz? seus pais te obrigam?
- não 😦
- mas eles sabem que você não gosta?
- sabem, a mamãe até me perguntou se eu queria parar no próximo semestre...
- e você falou o que?
- que não quero 😅
- e por que não???? você acabou de dizer que odeia!
- é, mas eu quero ir pra coreia algum dia e vou precisar falar coreano, né?
- bom, olhando por esse lado...
- é muito chato, mas a gente acostuma, né? 
- ah isso é verdade, a gente se acostuma com tudo nessa vida...
- eu não gosto, mas é importante fazer, então eu faço.

MANO. DO. CÉU.

eu só concordei e sorri, meio abobalhada, pensando na minha sorte em ter cruzado o caminho dessa criança. gente, sério. vocês não ficam chocados de saber que esse tiquinho de gente tem tamanha inteligência emocional?

essa menina virou minha inspiração pra vida inteira. sem contar que ela não se incomoda em errar, dá risada quando isso acontece e tem uma autoconfiança gigantesca. se algum dia eu for metade do que ela é, pra mim já tá bom.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

19. criança também é gente

eu dou aula de inglês, né. e não é em uma escola regular, então eu tenho alunos variadíssimos de 06 a 70 anos. como eu não recebi absolutamente nenhum tipo de treinamento pra saber como lidar com eles e as suas diferenças, tive que aprender no dia a dia mesmo, na cara e na coragem, o que funciona e o que não rola pra cada um desses alunos.

lembrando que eu não sou formada em pedagogia, nem faço licenciatura, o que significa que a faculdade me preparou 0% pra lidar com crianças. pois bem.

tem esse menino que eu dou aula, o pedro. ele tem 07 anos. ele é um dos alunos que mais dão trabalho lá na escola (só não digo que é o pior de todos porque tem uma pequenininha que faz tanto escândalo chorando que alguns alunos já trocaram de horário só pra não estarem lá no mesmo momento que ela, mas ele fica fácil em segundo lugar no ranking).

quando o pedro começou as aulas de inglês, as professoras da matemática e do português vieram avisar que ele era uma criança difícil. e, realmente, nas nossas primeiras aulas ele me tirava do sério com uma facilidade impressionante. até que eu descobri como contornar a situação e, de repente, sem precisar de muito esforço, nossa relação ficou ótima e ele passou a ser uma criança fofinha e maravilhosa que nem as outras.

"e qual é o segredo?", você me pergunta. pois eu te digo: é tratar o menino com educação e respeito, em vez de perder a linha. simples assim. :)

no dia em que ele me fez chegar no meu limite, eu botei a mãozinha na consciência e pensei "eu não vou me descontrolar com esse menino, ele só tem sete anos. tem muito adulto que me irrita tanto quanto e eu mantenho a pose, por que com ele tem que ser diferente? o bichinho é pequeno mas também é uma pessoa, né? se sou capaz de me controlar com adultos insuportáveis, por que não com as crianças?". e aí o pedro se transformou. ele passou de reclamão irritante pra um menino incrível.

nesse dia, quando ele começou a dar show, em vez de eu "responder a altura" e perder a linha, que é o que ele tá acostumado a ver, eu sentei do lado dele e perguntei por que ele tava sendo mal educado. o menino me olhou confuso e disse "eu não sabia que isso era ser mal educado". a gente conversou e pronto, ele parou de dar piti e passou a se comportar bem. ele aprendeu que, se ele colaborar comigo, eu também vou colaborar com ele. depois que eu expliquei que a nossa relação é uma troca, ele nunca mais foi mal educado nas aulas de inglês. pelo visto, até aquele momento, ninguém tinha se dado ao trabalho de simplesmente dialogar com o menino.

pedroca realmente não é das crianças mais "fáceis" do mundo, daquelas que você manda e desmanda e a criança apenas te obedece, sem questionar. ele é inteligente e faz questão de saber os motivos de tudo o que acontece. por que aquela lição, por que ele tem que fazer as coisas de um jeito e não de outro, por que por que por que. e ele bate o pé e reclama sempre que não quer fazer alguma coisa, mas é só falar com o menino normalmente, respeitando a pessoinha que ele é, que tudo se ajeita.

antes o pedro ficava de cara feia a aula inteira, contando os minutos pra acabar e poder ir embora. ele mal respondia quando a gente perguntava alguma coisa. agora a gente conversa, brinca, dá risada e ele faz a aula feliz, porque se sente confortável naquele ambiente em que ele é bem tratado. pedroca virou uma das minhas crianças preferidas. <3  

terça-feira, 20 de março de 2018

88 anos, 8 meses e 14 dias


dona cida nasceu em 1929, lá no começo do século passado, e se despediu da gente há menos de uma semana.

filha de imigrantes italianos, nascida e criada em fazenda no interior do estado de são paulo, veio morar na capital e, aqui, conheceu o futuro marido: um alagoano descendente de negros e índios, um ano mais novo que ela. juntos, eles tiveram quatro filhos. um deles, o mais velho, é o meu pai. 

e isso é basicamente tudo o que eu sei sobre a história dela. 

minha avó me contou quando e como conheceu o meu avô, mas eu não sei quando eles se casaram. não sei se foi por "amor à primeira vista", se foi por pressão familiar, se foi porque os dois conversaram e decidiram que era a melhor das opções. ela nunca foi de falar muito sobre a própria vida. às vezes, no meio de alguma conversa, ela me contava casos aleatórios sobre eles, mas nunca em quantidade suficiente pra eu conseguir montar uma linha do tempo, por exemplo. dona cida era fechada demais, não se dava ao luxo de falar mais do que devia. não sei do que ela trabalhou, não sei quais planos ela tinha feito quando era menina, não sei sequer qual era a cor preferida da minha avó - mas associo a ela um tom bonito de azul claro, meio céu, meio piscina: a cor dos olhos dela.

apesar dessa carinha aí da foto, a dona cida nunca fez aquele estilo padrão de avó que eu via na tv. o meu sonho era ser neta da dona benta, pra comer um monte de coisa gostosa todas as tardes. dona cida só cozinhava porque comer faz parte da vida, não tinha essa de ficar fazendo bolinho pra agradar neto. lembro que uma vez fui almoçar com ela e reclamei que não queria comer o chuchu. como resposta, ouvi "você tá na minha casa, vai comer o que eu fiz. se não quiser, fica com fome". ela era grossa e mal educada como ninguém. mas não posso negar que às vezes batia uma inspiração e ela tentava encarnar a vovó bonitinha. fizemos rabanada juntas uma vez. não sei como é que conseguimos errar tanto, mas depois disso nunca mais nos arriscamos a tentar de novo. muitos anos depois, ela ainda dava risada lembrando dessa tentativa absolutamente frustrada.

ela era super irritada, não tinha paciência pra nada. vivia falando que tava com raiva das coisas, das pessoas. tudo era motivo pra mulher ficar de cara fechada. e sem precisar dizer uma palavra, ela já botava medo nos netos (ameaçava sempre com um chinelo na mão) e afugentava os vizinhos. mas por dentro ela era frágil que só. a menor das coisas já magoava a minha avó, ainda que ela tentasse ao máximo não deixar transparecer.

ela sofreu muito. guardou mágoa e rancor durante a vida inteira, se recusou a fazer os tratamentos de saúde que poderiam ter aliviado as dores que ela sentia, engoliu muito sapo enquanto foi casada... dona cida passou por tanta coisa nesses quase 90 anos que nem dava pra acreditar. lembro de olhar pra ela quando eu era pequena e pensar que a minha avó, tão alta, tão rígida, deveria ser uma fortaleza. de uns anos pra cá, ela já era só ruína.

mas ainda assim, mesmo já quase sem força nenhuma, esse ano ela ainda foi capaz de provar que o ditado popular é verdadeiro: vaso ruim não quebra. ou, pelo menos, dá mais trabalho do que o normal. aos 88 anos, lúcida mas com o corpo absolutamente debilitado, minha avó enfrentou um avc, deu um chapéu numa pneumonia e ainda lidou com outras infecções que vieram depois. eu sinceramente não pensei que ela fosse aguentar uma semana, mas ela ainda persistiu por dois meses. foi sofrido, foi ruim de ver, mas era a história dela. e ela aguentou até o final com uma força que eu não faço ideia de onde é que saía. 

dona apparecida, com 2 pês (eu achava tão chique esse nome), me deixou uma saudade tão grande que eu acho que nunca vai passar. mas eu sei que ela não via a hora de finalmente poder descansar em paz, sem sentir aquelas dores que viviam com ela há tanto tempo. por mais difícil que seja a despedida, eu sei que era egoísta demais querer que ela continuasse por aqui. já tava na hora de dizer tchau.

a vovó já foi, mas o amor e as lembranças vão ficar aqui bem guardadinhos até o fim da minha caminhada.

sábado, 6 de janeiro de 2018

laranja, amarelo e azul

2018 começou do jeito que eu menos gosto, mas que eu mais preciso: me lembrando que a vida é um troço maluco, incontrolável e sem explicação. levei um choque de realidade e, infelizmente, a bolha em volta de mim estourou. aquela bolha que me dava uma sensação falsa de segurança, que me colocava numa posição diferenciada, especial. percebi que eu não tenho nada de diferente, nada que me dê uma garantia extra. tô aqui como qualquer outro, suscetível a tudo como qualquer outro. e isso me deixa doida.


anteontem, quando vi esse pôr do sol incrível de tão bonito, minha cabeça tava fervilhando de coisas. eu queria escrever, queria tirar de mim esse monte de dúvida que tava me cercando. hoje, muitas horas depois, já bem mais calma, eu perdi o pique. é que eu funciono melhor quando tô inflamada, ou pelo menos minhas ideias fluem melhor. porque eu racionalizo menos. se eu começo a pensar demais, parece que eu fico travada. o que pega mesmo é que eu tenho medo de tudo que eu não entendo, de tudo que tá além da minha capacidade de raciocinar. e isso afeta desde a minha produção escrita até todo o resto, pra ser bem sincera. então eu não vou mais falar sobre o que eu queria, não vou mais tentar passar pro papel o que eu tava sentindo e pensando. vou deixar tudo isso guardadinho aqui pra uma próxima oportunidade, talvez. e vou falar de outra coisa, algo mais fácil, que me exige menos esforço. 


pôr do sol é um dos fenômenos da natureza (ou sei lá como a gente chama esse tipo de coisa) que eu mais amo. enche os olhos, enche a alma. é lindo, encanta, dá vontade de fazer durar por uma eternidade no céu. sabe quando o pequeno príncipe fala que tava num planetinha tão pequeno que viu o sol se pondo quarenta e três vezes no mesmo dia? que delícia que deve ter sido isso. sempre que eu vejo essa mistura de cores, eu agradeço. por estar aqui por mais um dia, por tudo o que eu tenho, por tudo o que eu ainda vou ter. e o que eu acho mais incrível é que o pôr do sol me faz sentir em paz. normalmente a natureza me assusta, a imensidão do universo me assusta, a força de tudo o que vai além do ser humano me assusta. mas as cores no céu quando o sol tá indo embora me deixam mais calma, elas me mostram que tá tudo bem. é como se fosse um dos únicos momentos do dia em que eu me reconcilio com o fato de a vida ser indomável, eu acho. é meio forte falar isso, talvez eu esteja exagerando, mas é a sensação que me dá.  


não sei de onde eu vim, não sei pra onde eu vou, não sei quanto tempo eu ainda tenho aqui. a única coisa que eu sei é que, se eu pudesse, eu também contemplaria o sol se pondo mais de quarenta vezes no mesmo dia.