sábado, 22 de dezembro de 2018

stuck on a roller coaster

e 2018, hein, mores? que ano esquisito.

não foi exatamente ruim, mas teve muito momento baixo. por outro lado, não teve lá tantos altos assim, então não sei porque me fica essa impressão de que, no fundo, até que foi bom. acho que só pelo fato de não ter sido horrível eu já considero o saldo positivo. será que finalmente tô aprendendo a enxergar o copo meio cheio? ¯\_(ツ)_/¯

se eu tivesse que definir, diria que, mais do que tudo, esse foi um ano de encerramento de ciclos (uns mais felizes do que outros).

perdi minha avó. me formei na faculdade antes do tempo esperado e com notas muito boas. fiquei vários meses desempregada. trabalhei de casa por conta própria. arrumei meu primeiro emprego com carteira assinada. li vários livros bons. quase não chorei. tive menos crises de ansiedade, mas vivi por um bom tempo com o pensamento no futuro, sem conseguir efetivamente aproveitar o que o presente me oferecia. me senti inútil e despreparada em diversos momentos. não me arrependi de nenhuma das escolhas que fiz, mas questionei todas elas quando já não dava mais tempo de voltar atrás. me distanciei de pessoas que eu gosto, mas também me reaproximei de pessoas que tavam distantes e me fazem bem. escrevi com mais frequência. abandonei vários textos de ficção que eu comecei a escrever porque travei e não sabia mais o que fazer com eles (pode ser que uma hora eu termine, quem sabe...). consegui estabelecer uma rotina de exercícios físicos e minha autoestima cresceu. não cumpri a >única< meta de ano novo que eu tinha pra 2018. perdi toda e qualquer esperança em relação à sociedade brasileira, que se revelou ainda pior do que eu pensava. etc etc etc. 


eu tenho a impressão de que minha vida adulta tá começando só agora, que tô finalmente formada e dando início à minha carreira de verdade, como se todo esse tempo que veio antes tivesse sido só um teste, um período de adaptação pra eu me ajustar. tô com expectativas pros anos seguintes, não paro de fazer um zilhão de planos. mas daquele meu jeitinho: com os dois pés no chão, torcendo pra tudo dar certo, mas sem me decepcionar muito caso os sonhos não se tornem realidade.

pra 2019 eu só quero continuar fazendo tudo o que tá dando certo e parar de fazer o que não funciona tão bem assim. só isso. vamos viver sem grandes pretensões além de ser feliz. acho que tá bom, né? tomara que daqui um ano eu volte e diga que as coisas foram melhores do que eu poderia imaginar. :)

espero que, apesar de todos os altos e baixos que sempre se fazem presentes, o ano de vocês também tenha pendido pro lado positivo da balança. e desejo mesmo, de coração, que todo mundo seja cada vez mais feliz!

vem, 2019! (mas vem com carinho, não precisa chegar com os dois pés no peito não, tá? grata desde já.)


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o post tá com cara de despedida, como se eu só fosse aparecer aqui de novo no ano que vem, mas juro que ainda volto daqui uma semaninha pra mostrar as leituras de dezembro! ;)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

beletrista

gente... EU ME FORMEI.

minha última aula foi em junho, porque teve greve na faculdade, mas em julho eu terminei de entregar todos os trabalhos finais e muito tempo depois, só em setembro, eu finalmente assinei minha colação de grau.

fiquei muito tempo pensando que eu deveria escrever sobre isso, porque foi um pedaço imenso da minha vida e porque eu não perdia tempo pra vir aqui falar mal do curso, dos colegas, dos professores etc. mas eu travei. comecei vários textos, mas larguei todos pela metade. eu não tava conseguindo me expressar, não sabia muito bem o que dizer.

mas basicamente é isso: depois de 09 semestres (um a menos do que o tempo padrão!) eu finalmente posso dizer em alto e bom som que sou graduada em letras pela usp, com habilitação dupla em português e inglês.

eu escolhi esse curso porque não sabia o que queria fazer da vida (agora eu acho que tô começando a descobrir). na escola, eu via meus amigos falando com certeza que queriam ser advogados, engenheiros, arquitetos, médicos... e eu só conseguia pensar "mas COMO você já sabe disso se a gente só tem 16 anos????". me senti pressionada a escolher, comecei a achar que o problema tava em mim, que talvez não levasse o meu futuro tão a sério ou sei lá.

fui pelo caminho mais óbvio: pensei nas matérias que eu gostava de estudar, vi em quais delas o meu desempenho era melhor e corri pro guia do estudante pra ver se me surgia uma luz no fim do túnel. no fim das contas, entrei na letras porque cismei que queria trabalhar com tradução. dei uma olhada na grade do curso e não entendi nem metade das matérias, mas achei que tava tudo bem. ia continuar estudando umas coisas que eu gostava e é isso, tava ótimo.

primeiro semestre e eu já tava querendo me esconder num buraco porque PELO AMOR DE DEUS NÃO É POSSÍVEL QUE É ISSO AQUI, socorro, alguém me ajuda etc. eram só quatro matérias: uma sobre ilíada e odisseia (eu nem sabia o que era isso), outra sobre linguística (eu também não tinha a menor ideia), a outra falava sobre a origem da língua portuguesa desde o protoindo-europeu (o quê?????) e sobre variação e preconceito linguístico, e a última era sobre poesia (que tinha tudo pra ser possível, estudar métrica, rima etc, mas o professor achou de bom tom colocar alunos recém saídos do ensino médio pra ler filósofo francês).

a carga de leitura do primeiro ano é tão grande que não tem aula de sexta feira, pro aluno dar conta de ler tudo o que os professores pedem.

eu não via a hora de começar logo a estudar gramática, mas esse dia nunca chegou. o primeiro banho de água fria com a letras veio quando eu descobri que esse tipo de coisa não fazia parte da grade curricular. aí você talvez esteja se perguntando: "mas se você não estudou gramática, você estudou o quê????". olha... muita coisa.

estudei livros clássicos gregos e latinos, muita literatura brasileira, muita literatura portuguesa, literatura americana, literatura inglesa, literatura africana de língua portuguesa e, de quebra, ainda li obras armênias, caribenhas e irlandesas. nesses quatro anos e meio eu li muitos romances, contos, poemas e peças de teatro nos dois idiomas. consequentemente, tive que ler muito texto teórico e de análise literária. e isso significa que também tive que estudar filosofia e história. cursei latim, cultura armênia, cultura italiana e pensamento da índia antiga. estudei sintaxe, morfologia, semântica, fonética e fonologia tanto em português quanto em inglês. também estudei teorias do texto e análise do discurso. cursei sociolinguística, psicolinguística e filologia. estudei teoria da tradução e tive muitas aulas práticas. fiz uma matéria de escrita criativa e, no final das contas, meu conto de ficção acabou sendo publicado na revista da faculdade (se quiser ler, tá aqui, na página 105).

por mais que eu tenha feito uma lista imensa, só dizer "os nomes" das matérias não faz jus a tudo o que eu aprendi nesse curso. estudar letras me enriqueceu muito como pessoa. tive contato com muita coisa que abriu meus olhos e me fez enxergar além do que eu conhecia. é óbvio que nem sempre eu gostava das aulas ou dos professores, mas o tanto de coisa incrível que eu estudei compensa as partes ruins.

não posso deixar de dizer que em determinado momento (talvez no segundo ano, agora já não lembro direito) eu questionei a minha escolha e pensei seriamente em sair e procurar outra coisa, mas eu tinha certeza que nenhum outro curso me faria mais feliz do que aquele. ainda que eu não soubesse o que fazer com ele depois de me formar, eu amava o que eu tava estudando. a bagagem que a letras me proporcionou é gigantesca e olha que eu não aproveitei nem metade do que a faculdade tinha pra me oferecer.

quando eu decidi que queria ser tradutora, eu não imaginava que mudaria de opinião tantas vezes a respeito da minha carreira. pensei que eu entraria na faculdade, leria uns livros, estudaria língua portuguesa e inglesa e terminaria focada em traduzir. eu não fazia ideia do tanto de coisa diferente e incrível que a letras ia me proporcionar. não foi por isso que eu escolhi fazer o curso, mas foi por isso que eu escolhi continuar até o final.

pode ser que eu tivesse mais sucesso financeiro se tivesse feito qualquer outra coisa. ou que eu tivesse mais prestígio, que as pessoas olhassem pra mim e pro meu diploma com mais respeito e admiração. mas nada disso supera o calorzinho no coração de ter concluído uma graduação riquíssima, que efetivamente me deixou realizada e orgulhosa de mim e do que eu escolhi.

apesar de toda a parte ruim, eu digo com tranquilidade que é uma delícia ser beletrista.