sexta-feira, 26 de setembro de 2014

quem quiser que chame um médico

ou um terapeuta, um analista, 
o melhor amigo, a própria mãe. 
ou saia por aí distribuindo porradas 
e pontapés, doe a quem doer. 
ou grite no travesseiro, soque as paredes, 
quebre uns pratos e uns copos.
pode ser que você pinte quadros
e até rabisque os muros da cidade. 
ou que toque uma música bonita no violão,
se você achar melhor.

quanto a mim, eu escrevo.
escrevo e choro também.
muito muito, bastante mesmo.
nem sempre fica bom, 
mas até que sempre dá certo.
quem quiser que chame um médico,
eu escrevo e choro também.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

volta às aulas

118 dias, quase 4 meses, de paralisação na faculdade. funcionários, professores e alunos formando a maior greve da história da universidade com união dos três setores, em que os grevistas saíram vitoriosos. a causa foi justa, eu concordo com a luta deles e fiquei satisfeita em ver que o reitor teve que "dar o braço a torcer" depois de tanto bater o pé em sua ideia fixa - e maluca - de cortar tudo o que fosse possível e deixar os trabalhadores sem o dinheiro que lhes é de direito. mas poucos sabem o tamanho do meu alívio quando finalmente foi decretado o fim da greve e o retorno à sala de aula <3

voltei feliz e empolgada sim, apesar de todas as possíveis adversidades. eu não aguentava mais ficar em casa me sentindo inútil, eu tava morrendo de saudade de aprender coisas novas e de ter textos enormes pra ler e matérias confusas pra estudar. mesmo que acordar as 5 da manhã, pegar trem lotado e ônibus e depois dividir a classe com gente presunçosa e sem noção não seja algo muito animador, nada disso foi capaz de estragar o meu primeiro dia de aula pós greve infinita. e não tinha como ser diferente. dentre 2874 opções de curso e de universidade, aquela foi a que eu escolhi pra passar, pelo menos, cinco anos da minha vida. se eu não estivesse empolgada pra retornar, algo estaria absurdamente errado...

agora eu terei aula direto até janeiro (ou fevereiro, depende de cada docente) e, mesmo sabendo que minha cabeça pode entrar em parafuso por causa da correria com as matérias e dos inúmeros trabalhos e provas, eu tô confiante de que vou chegar ao final do meu primeiro ano da graduação bem orgulhosa de mim e da escolha que eu fiz. :')

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

coffee shop au

aquela era uma tarde fria, em que o vento gelado bagunçava o cabelo das meninas e causava um arrepio desconfortável nas nucas descobertas da maioria dos homens. o céu cinza se misturava aos prédios altos e monocromáticos, deixando um clima melancólico no ar. mas a população parecia não se importar com nada disso, talvez todo mundo já estivesse acostumado. todo mundo, menos ela.
bianca saiu de casa vestindo dois casacos e um cachecol de lã, porque o frio a incomodava intensamente. sua casa parecia um iglu, então ela resolveu que precisava caminhar até a cafeteria mais próxima pra aquecer seu corpo e sua alma com alguma das bebidas de lá. apressou seus passos pra não dar muita chance ao vento que batia forte contra o seu rosto e sentiu um grande alívio quando fechou atrás de si a porta da cafeteria. lá dentro estava tão confortável e quentinho que seus casacos já não se faziam necessários. após alguns minutos parada em frente ao quadro na parede, que servia de cardápio, ela se decidiu por um cappuccino do maior tamanho e por um pedaço de bolo de banana. só de estar em um lugar colorido, com cheiro de café e com pessoas falantes e, aparentemente, felizes ao seu redor, ela já se sentia melhor. bianca se dirigiu ao caixa, fez seu pedido e, após alguns instantes, ela já estava sentada em sua mesa de canto esquentando as mãos ao segurar seu copo. 
quando seu cappuccino já estava pela metade e seu bolo quase chegando ao fim, um garoto alto e de cabelos escuros entrou na cafeteria. seus olhares se cruzaram por uma fração de segundo e então ele foi ao balcão pedir seu chocolate quente. o menino sentou em uma mesa próxima a de bianca e tirou da mochila um livro de capa verde, que ela reconheceu instantaneamente, já que se tratava de um dos seus três preferidos no mundo. um sentimento engraçado foi crescendo dentro dela, um calor maior do que aquele proporcionado pelo café quente. seus olhos se iluminaram e ela sentiu que precisava conhecer melhor aquele garoto. tomada por uma coragem que surgiu sem mais nem menos, bianca o chamou e, interrompendo a sua leitura, começou a puxar assunto com ele. os dois se afinaram logo de cara e, em pouco tempo de conversa, já haviam descoberto várias coisas em comum. eles combinaram de se encontrar outras vezes naquela mesma cafeteria e um amor enlouquecedor cresceu entre os dois. 
tudo se passou tão rápido e repentinamente que bianca parecia estar sonhando. e, na verdade, ela estava mesmo. no ápice de um dos beijos apaixonados entre o casal, a menina acordou. estava deitada no sofá de sua casa, enrolada em uma coberta grossa para se proteger do frio que fazia. seu sentimento de frustração duplicou quando ela percebeu que, além de não ter realmente conhecido o suposto amor da sua vida, o clima lá fora estava igual ao de seu sonho. cinza e sem graça, do jeito que ela menos gostava. bianca fechou seus olhos com força e tentou ao máximo retornar pro sonho de onde ela jamais gostaria de ter saído, mas seu esforço foi em vão. vencida pelo cansaço, ela se levantou e foi até a cozinha tomar uma xícara de café. pelo menos o calor causado pela bebida quente poderia ser fielmente reproduzido na vida real.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

calma, mantenha a calma

há uns 2 anos, minha vida deu uma mudada legal. e eu já disse isso aqui infinitas vezes, mas gosto sempre de lembrar. foi uma das melhores coisas que já aconteceram comigo - apesar de eu ter sofrido pra caramba antes de eu me dar conta disso. enfim. uma das consequências dessa mudança é que eu decidi que evitaria ao máximo repetir os mesmos erros. se fosse pra errar, que acontecesse então de uma maneira nova, sem saber de antemão que aquilo não seria bom e tal. e, por isso, eu decidi que tinha que me controlar bem mais, já que grande parte dos meus desconfortos anteriores tinham sido causados pelo meu jeito explosivo e impulsivo. decidi que tinha que tentar viver sem me exaltar tanto, sem gritar, sem dar piti. e até que eu consegui amadurecer e melhorar bastante nesse quesito. mas o problema é que eu ainda sinto vontade de fazer tudo isso, ou seja, eu ainda não tô no nível em que eu queria estar na questão do auto controle. por mais que eu consiga respirar e ficar quieta, o que eu queria mesmo era xingar aos berros e chorar até não poder mais. queria brigar, queria discutir, queria me descontrolar. mas sei que não devo, logo, não faço. de vez em quando ainda dou umas respostas atravessadas, faço umas caras feias, falo umas grosserias. mas nada comparado ao que eu costumava fazer. 

eu tô relendo uma série de livros agora e a minha personagem preferida é passional e descontrolada. tudo pra ela é motivo pra sair distribuindo socos, chutes e xingamentos. quanto mais eu leio, mais saudade eu sinto de ser um pouquinho assim. por mais que eu esteja incrivelmente feliz e em paz com esse meu jeito mais contido, os sentimentos malucos ainda estão todos aqui dentro. e eu acho que não gosto tanto assim de guardá-los, sem despejar pra fora tudo o que eu tô sentindo. mas em vez de voltar a ser descompensada, acho que eu preciso encontrar outra forma de me "esvaziar". será que meditação funciona? :)