terça-feira, 21 de julho de 2015

universo paralelo

eles estavam juntos, como de costume. eles sempre estão juntos, mesmo longe. ainda que estejam há quilômetros de distância, nunca estão totalmente separados. um está sempre ali, dentro do outro. mas dessa vez foi diferente. dessa vez eles estavam perto de verdade, bem pertinho mesmo. talvez perto demais. 

tão perto que suas mentes se misturaram e, sem nenhum tipo de aviso prévio, eles se tornaram um só. ainda em dois corpos separados, mas unidos pelo pensamento. de um jeito muito esquisito e, mais ainda, inesperado. não que isso não fosse bom; era ótimo. mas você não espera que sua mente seja compartilhada com a de outro alguém, espera? de repente, palavras já não se faziam mais necessárias. um olhava pro outro, olhos nos olhos, e as mensagens simplesmente eram trocadas. sem ninguém falar, sem ninguém explicar. eles se entendiam. o que um sentia, o outro sentia também. o medo de um era também o medo do outro. como aquilo poderia ter acontecido? como seus corpos poderiam tremer na mesma frequência? como suas respirações, sempre tão descompassadas, poderiam ter sincronizado de repente? 

era incrível. assustador, claro, mas incrível ainda assim. como é de se esperar, na hora, foi muito mais assustador do que incrível. e aí, num piscar de olhos, tudo passou (eles acreditam que ainda há resquícios, na verdade). se bem que sua percepção do tempo talvez estivesse debilitada. eles tiveram a impressão de que esse tal momento durou diversas horas, porque o tempo não passava. mas pode ser que a mágica tenha durado em torno de cinco minutos, no máximo. o importante é que, apesar de toda a confusão, eles estavam juntos. tão juntos que se tornaram um só. tão juntos que só ele ali, na frente dela, e ela ali, na frente dele, era mais do que suficiente. tão juntos que eles só sentiram cada vez mais certezas. 

ouvi dizer que existe por aí uma tal segunda dimensão, em que as coisas são um tantinho diferente do que nós estamos acostumados. também ouvi dizer que, às vezes, ela se mistura com essa aqui. e também, às vezes, parece até que são a mesma coisa. talvez sejam mesmo, vai saber.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

aos bons e velhos

"Carta prx(s) melhor(es) amigx(s): HORA DE ABRIR O CORAÇÃO PRO MIGO. Sabe todas aquelas coisas que você sempre quis dizer pra sua melhor amiga ou até mesmo pra um grupo específico de amigos que você tem há um tempão? No mês do amigo, a gente desafia você a compartilhar a melhor história, o melhor causo ou simplesmente fazer o migo chorar emocionadíssimo. Tá liberado tudo, até nude!!!1!!1"


oi, gente. como vocês tão? faz tempo, né? confesso que é até esquisito ter de perguntar, já que antigamente a gente simplesmente saberia de uma coisa dessa. há uns anos, não faria sentido um perguntar ao outro se tava tudo bem. a gente passava tanto tempo juntos, vivia tanta coisa sempre um ao lado do outro... o mínimo que a gente sabia era como o outro estava. normalmente feliz, todo mundo rindo e brincando o tempo inteiro. mas se alguém não estivesse bem, a gente percebia. talvez não todo mundo, mas pelo menos um sempre conseguia saber quando o outro não tava em um dos seus melhores dias.

pena que as coisas deram tão errado assim entre todo mundo. ainda é ruim olhar pra trás e me dar conta das reviravoltas na nossa amizade. já não é mais triste, porque passou muito tempo e a gente se adapta a esse tipo de coisa. no começo machuca, mas depois sempre passa. mas ainda é irritante pensar nas causas disso. sério, gente. foi cada atitude mesquinha e egoísta de quem não consegue se colocar no lugar do outro! não acho que exista um culpado, várias coisas levaram a isso. mas o orgulho e a falta de humildade pra resolver os problemas depois, olha... eu esperava mais. de todos nós. o tempo foi passando, os ânimos se amenizaram, as pessoas mudaram bastante. mas nunca houve sequer um "ei, desculpa por tal coisa. não quis te magoar. agi sem pensar e estraguei tudo. desculpa de novo". eu não me envolvi diretamente em briga nenhuma, mas se até eu senti falta de uma resolução, imagina quem realmente saiu machucado dessa história toda? 

mas deixando as coisas ruins de lado, quero que vocês saibam que meus anos de colégio foram incríveis graças a vocês. o colegial foi maravilhoso, ainda que tenha sido péssimo. a quantidade de histórias ridiculamente engraçadas que eu tenho pra contar e que envolvem vocês, é imensa! e é isso o que eu gosto de ter sempre em mente. não vale a pena ficar remoendo o que deu errado lá atrás. segue em frente, tem outros amigos por aí, né? mas as partes boas eu vou sempre guardar comigo, porque também sei reconhecer o que um dia me fez bem. obrigada, gente. por cada risada, viagem, foto boba, grupo no facebook, aula que a gente atrapalhou, noite da pizza na casa de alguém, ida ao shopping, bronca de professor... tudo valeu a pena. 

não sei como vocês todos estão, mas espero que estejam bem. que cada um tenha achado seu caminho, que tenha feito amigos novos e que tenha aprendido a se melhorar. e àqueles que continuam comigo até hoje: vocês são incríveis!  


tema sugerido pro mês de julho pelo Rotaroots :)

quinta-feira, 16 de julho de 2015

jogo de adivinhação involuntário

meu pai tá montando uma playlist com infinitas músicas que ele e minha mãe gostam. os dois vão fazer uma viagem bem longa de carro e ninguém aguenta mais ouvir os mesmos cds, então dessa vez a ideia é levar um pen drive lotado de coisas legais, pra ver se o tempo se empolga com a trilha sonora e passa um pouquinho mais rápido. 

eis que ele, buscando pelas músicas no youtube, me chama lá no escritório pra dar início ao seguinte diálogo:

- tô tentando lembrar o nome de uma banda, que tem uma música que eu gosto, mas não tô conseguindo.
- mas você não sabe nenhuma informação? nem como é a música?
- a banda tem bastante gente, o cantor é negro. tô pensando em raça negra, mas não tem nada a ver.
- não é exaltasamba?
- não, não é pagode. eu sei que o cantor é bem magrelo...
- nossa, banda com bastante gente que não é pagode? 
- ué, e titãs? é de rock e tem gente pra caramba!
- é, verdade... mas então, a banda é antiga? é nova?
- a banda não é velha. a música tem alguma coisa a ver com amarelo...
- de amarelo eu só consigo pensar numa música do djavan.
- então, o cantor tem um cabelo meio rastafári também.

aí minha mente trabalhou fervorosamente, como se nela tivessem os mesmos algoritmos monstruosos de pesquisa do google, até que depois de uns segundos eu associei a cor amarela com o girassol e...

- AH! cidade negra! toni garrido! é a música do girassol!
- ISSO!!!!
- girassol amarelo!
- É!!! como um girassol amareloooo...

e então meu pai colocou a música pra tocar e, sem ritmo algum, cantou junto. quando eu dei por mim, tinha um sorrisão estampado no meu rosto. (seja pela cantoria desafinada ou pela constatação de que eu sou muito boa em desvendar mistérios inesperados.)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

5 e 6. classmates dez anos mais velhos que eu

eu pensei em falar sobre um deles, mas eu não conseguiria deixar de falar sobre o outro também. e por mais que eu pudesse dividir o texto em dois e falar de cada um em posts separados, a coisa perderia o sentido. a graça eram eles dois juntos. nós três juntos. e nada mais justo do que eu preservar isso aqui, relembrando dois dos meus colegas de classe mais especiais da vida.

no intercâmbio, eu tinha uma aula extra depois do almoço. era sobre pronuncia, pra ajudar os alunos estrangeiros a melhorar no inglês e perder um pouquinho dos sotaques. no meu primeiro dia de aula, me senti perdida e morri de vergonha. mas o professor era incrível, deixava todo mundo super à vontade e, pra fazer com que os alunos interagissem e conversassem entre si, ele passava várias atividades em duplas ou em grupos. pra minha sorte, minha primeira dupla foi o patrick. alemão, tímido, quietinho, com a maior cara de filhinho da mamãe. pra minha surpresa, aquele cara com rosto de adolescente tinha 28 anos. e ele se assustou tanto quanto eu ao descobrir que eu "só" tinha 18. inacreditavelmente, a gente se deu bem. e nos tornamos quase uma dupla permanente nessas aulas, sempre fazendo os exercícios juntos. e eu, com esse jeito bobo, morria de rir o tempo inteiro. acho que ele nunca entendeu direito o que me provocava tantos risos (nem eu sei, pra ser sincera), mas ele ria comigo - ou de mim - na maioria das vezes.

dois meses se passaram, as aulas já eram ministradas por outra professora (dez vezes pior que o anterior, diga-se de passagem), mas eu e o patrick continuávamos juntos na classe. e nesse meio tempo, uma quantidade infinita de alunos diferentes entrou e saiu por aquela porta. até que, de repente, eu me vi fazendo amizade com um cara incrível. que, coincidentemente - ou não! -, era amigo do patrick. esse cara, o simone (jamais aprendi a pronunciar o nome dele da maneira correta), é um italiano de vários metros de altura, absolutamente simpático e falante, que na verdade tem cara de árabe. falou comigo a primeira vez pra me ensinar a jogar um jogo de tabuleiro, enquanto o patrick me zuava por eu não entender o funcionamento do negócio. o simone chegou nessa aula pra abalar a dupla inabalável, já que ele foi o meu par nos exercícios diversas vezes desde então. quando eu descobri que ele já tinha 27, não me surpreendi tanto assim. e acho que ele também não achou esquisito o fato de eu ter quase dez anos a menos, porque minha tiara de lacinhos já me denunciava.

não tenho nenhuma foto com o patrick, mas são três meses de recordações da cor vermelho-tomate que o rosto dele ficava a cada vez que eu fazia alguma piada ou gargalhava fora de hora. já com o simone eu tenho uma foto linda, pra compensar a menor quantidade de tempo que passamos juntos (o que não faz com que eu tenha menos memórias especiais, muito pelo contrário). morro de saudades deles dois, das brincadeiras, das trocas de olhares quando a professora passava atividades ruins que ninguém queria fazer, das vezes em que o patrick me falava pra parar de rir e que o simone ria ainda mais junto comigo... não me esqueci que nosso tchau foi um até logo, não um adeus. sinto uma vontade tremenda de um dia poder revê-los, juntos mais uma vez, em algum lugar tão incrível quanto toronto.