sexta-feira, 7 de outubro de 2016

nova óptica

depois de tantos anos usando aquelas lentes mágicas, quase milagrosas, ele podia finalmente se ver longe delas. ao tirar seus óculos e se olhar no espelho, um arrepio lhe percorreu a espinha. era a primeira vez em uma eternidade que ele se enxergava novamente, de verdade, sem precisar da ajuda de nenhum outro utensílio além de seus próprios olhos castanhos. agora, sem os seus óculos, ele precisava se reinventar. ou melhor, precisava se redescobrir. 

aquelas lentes estavam há tanto tempo atreladas ao seu corpo, ao seu ser, que ele estava apreensivo de se ver afastado delas. será que seus olhos dariam conta de enxergar sozinhos toda a loucura que os cercava? afinal, eles estavam desacostumados a lidar com tantas informações por conta própria. parado em frente ao espelho sujo do corredor, ele chegou a pensar se aquela era mesmo a sua imagem real, se ele sempre fora daquele jeito, ou se a não-necessidade das duas ex-lentes mágicas teria modificado a sua figura. 

essa desconfiança era motivada por uma percepção diferente da realidade, já que agora a sua perspectiva não estava mais emoldurada por uma armação arredondada. antes, além de melhorarem a sua visão, os seus óculos também serviam como escudo: eram uma barreira, ainda que quase imaginária, entre ele e o resto do mundo. sem eles, o rapaz sentia-se desprotegido, desamparado, quase nu. não poder se esconder atrás das suas lentes anti-reflexo eram uma experiência nova. ele, que sempre quis se ver livre da obrigatoriedade do uso dos óculos, percebeu que se apoiava neles e nos conceitos pré-fabricados que as outras pessoas traziam quando lidavam com alguém de óculos. era uma bobagem, sim, mas ele sabia que se aproveitava disso, bem lá no fundo. agora já não dava mais pra dizer pra colega de trabalho que ele não deu oi quando cruzou com ela no mercado porque não enxergava de longe, por exemplo. também não dava pra evitar a leitura de um texto, ou qualquer outra coisa desse tipo. não havia mais a possibilidade de se esconder atrás das lentes pra fugir de certas situações.

seus olhos não teriam mais folga nenhuma, agora eles precisariam funcionar sozinhos o tempo inteiro. ele sempre quis essa independência, mas agora que a tinha, ficou sem saber o que fazer com ela. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ela não queria ter dito sim

giovanna aceitou o convite por impulso, sem pensar muito a respeito. ou talvez tenha sido por vergonha de recusar, já que ela sempre aprendeu que não podia magoar os sentimentos dos rapazes - muito menos daqueles que se interessaram por ela. seria quase um sacrilégio dispensar um moço bonito, rico e que queria levá-la pra jantar num restaurante caro e badalado. mesmo que ela não tivesse o menor interesse de passar esse tempo com ele, o correto era dizer sim. e foi isso o que ela fez. o problema é que, por mais que uma voz chata e insistente não parasse de ressoar na sua cabeça afirmando que esse encontro era uma grande oportunidade, seu coração gritava o contrário. a cabeça dizia uma coisa, enquanto o coração entrava em colapso só de pensar em perder essa batalha. desesperado, ele batia a toda velocidade, pra ver se surtia algum efeito. e a cabeça de giovanna continuava com aquela mesma ideia torta. batendo descompassado e dificultando a respiração da menina, seu coração implorava por ser ouvido.

o convite de rafael era para dali a cinco dias. depois de dizer sim, para tentar acalmar seu coração, giovanna pensou que teria tempo suficiente pra amadurecer essa ideia e, por fim, se convencer de que era uma boa sair com esse cara. mesmo sem a menor vontade, mesmo sendo só porque todos julgavam correto ("você não pode dispensar um moço bonito, rico e que quer te levar pra jantar num restaurante caro e badalado", eles diziam).

durante os cinco dias, a menina viveu esse conflito. era uma luta árdua, já que nem cabeça e nem coração pareciam abrir mão de vencer. ambos se esforçavam ao máximo pra falar mais alto, deixando giovanna com seus nervos à flor da pele. e o rafael? você deve estar se perguntando. bom, ele continuou sua vida normalmente. sequer pensou no assunto por muito tempo, só avisou os amigos que não poderia sair com eles no sábado porque tinha marcado de jantar com "a gostosa da giovanna, aquela loira, amiga da carol". o rafael estava assim tão tranquilo porque isso, pra ele, não era nada demais. ele sempre saía com meninas bonitas, ficava com elas por um tempinho e, quando elas finalmente se envolviam, ele pulava fora. nada demais. 

tinha sido combinado que o rapaz buscaria giovanna na casa dela às 19h. no meio da tarde de sexta feira a menina estava à beira de uma sincope nervosa. por mais que a voz na sua cabeça fosse persistente e poderosa, seu coração pediu ajuda: agora seu estômago revirava e sua pele suava frio só de pensar em jantar com rafael. a comida não seria um problema, o lugar menos ainda. problema mesmo seria ficar frente a frente com aquele cara desinteressante, egocêntrico e babaca. tendo que rir das piadas dele, tendo que sorrir quando ele fizesse algum elogio a respeito da aparência dela, tendo que aguentar o encontro pelo tempo que ele quisesse, já que ela estaria de carona - e, portanto, presa ao cara até o fim da noite.

num momento de iluminação desesperada, ela mandou uma mensagem mudando ligeiramente os planos. rafael ficou um tanto desconcertado quando leu aquelas poucas palavras que chegaram do nada, sem nenhum aviso prévio, mas não foi capaz de interpretar os discretos sinais que a vida tentava lhe dar. depois de horas sem responder o que ele havia perguntado a respeito da roupa que ela usaria no encontro, giovanna simplesmente ignorou a insinuação maliciosa do rapaz e enviou a seguinte mensagem: "não precisa me buscar em casa amanhã, a gente se encontra por lá. às 19h mesmo, tá? beijos!". ela não sabia disso, mas seus dedos agora também faziam parte do time de apoio ao seu coração. quando eles perceberam o tamanho do buraco em que ela havia se enfiado, se uniram pra tentar derrotar a cabeça da menina e aquele pensamento que não era dela, mas sim das pessoas que estavam ao seu redor. 

giovanna não entendia os motivos daquele seu estado emocional. durante toda a sua vida ela ouviu que aquele era o cenário perfeito: um moço bonito, rico e que queria levá-la pra jantar num restaurante caro e badalado! mas ninguém nunca tinha falado pra ela que isso vinha acompanhado do resto. daquele jeito sem graça, daquelas piadas preconceituosas, daquela mania insuportável de arrumar o cabelo a cada dois minutos. giovanna conversava com rafael pelo celular porque, pra ela, não era nada demais. a qualquer minuto ela poderia simplesmente parar de responder, silenciar as mensagens do cara e continuar seu dia em paz. mas ela não teria essa mesma chance pessoalmente, teria?

sábado, 19h00, restaurante caro e badalado. rafael foi pontual, ele quis chegar cedo pra escolher a melhor mesa e já começar a decidir o que os dois comeriam - afinal de contas, quem melhor do que ele pra escolher qual a melhor opção daquele cardápio tão chique, cheio de comidas que quase ninguém sabia a maneira correta de pronunciar o nome? 

às 19h30, começando a se cansar daquela espera, rafael mandou uma mensagem pra giovanna, perguntando se ela ainda demoraria muito pra chegar. "o antepasto de atum selado com gergelim que eu escolhi pra gente vai esquentar se você não chegar logo", ele disse. sentada no sofá da sua casa, usando o seu pijama mais confortável, giovanna leu a mensagem e gargalhou. ela riu até chorar, colocando pra fora de seu peito toda a angústia vivida naqueles cinco dias. com a maior tranquilidade possível, ela respondeu que houve um imprevisto e que não não seria possível encontrar com ele no restaurante. depois de enviar, ela bloqueou o número do cara, voltou a prestar atenção no seu filme preferido e comeu toda a pipoca que encontrou pela frente.

sorte da giovanna que, depois de muito esforço, o coração venceu. e o rafael? você deve estar se perguntando. bom, pra não perder a viagem, ele escolheu o vinho mais caro da casa, comeu um daqueles pratos com nome que ninguém sabe pronunciar e mandou mensagem pra larissa, perguntando se podia passar na casa dela dali a duas horas. ela disse que sim.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

algazarra

parada sozinha dentro do elevador, encarando o espelho sem realmente enxergar o que eu deveria estar vendo, percebi que era hora de desacelerar. não o corpo, mas a cabeça. minha mente trabalha tanto que muitas vezes eu mal consigo acompanhar. ela é incansável, é imparável, tá sempre ligada no 220. e isso cansa, cansa muito. decidi que precisava arrumar um jeito de aquietar esses pensamentos incessantes, que se interpolam, que se sobrepõem, que não param de chegar. sei que meditação é incrível, já tive algumas experiências positivas com essa técnica e achei que era uma boa tentativa, mesmo que eu não estivesse muito confiante - tá realmente muito difícil de aquietar o cérebro nesses últimos tempos.

"tá bom, vou tentar, quem sabe hoje eu consigo, né? é só sentar, deixar a coluna reta, fechar os olhos e respirar. tudo isso é simples, coisa que a gente faz o tempo todo sem nem precisar pensar, eu consigo com certeza. tá, agora vem a segunda parte, aquela em não pode pensar em nada. tudo bem, esvaziar a mente. não, calma, tá ruim essa posição. deixa eu abrir os olhos também, tô um pouco incomodada, preciso me ajeitar melhor antes de continuar. agora acho que vai, acho que dá. tá bom, vamos de novo." 

"inspira, expira, inspira, expira. uuum, dooois, uuum, dooois. nossa, acho que essa posição tá ruim de novo, não é possível, talvez eu precise parar. tá, vou tentar mais um pouquinho, é só parar de prestar atenção que tudo se ajeita. ué, que isso? será que foi barulho de criança gritando? eita, deve ter acontecido alguma coisa na rua, melhor eu ir dar uma olhada. ah que mané dar uma olhada o quê, isso é tudo desculpa pra sair dessa pose desconfortável. ok, o barulho passou, agora vai! nossa, o vizinho de cima também tá barulhento hoje né, que coisa, será que nunca vou conseguir um minutinho em paz pra finalmente aquietar minha mente? acho que na verdade eu queria continuar lendo meu livro, tô quase acabando, talvez fosse melhor me concentrar na leitura do que ficar aqui perdendo tempo. não, calma, só mais uma vez vai, pode ser que agora eu consiga, é só respirar direitinho. inspira, expira, inspira. meu deus como é horrível estar consciente da própria respiração, que esquisito prestar atenção em algo que a gente faz naturalmente, o corpo humano é bem bizarro. aff, bizarro mesmo é o cara do livro que eu tô lendo, eu é que não queria conhecer uma pessoa dessas na vida real, é muita esquisitice. ah mas a capa do livro é linda né, só por isso que eu tô lendo mesmo. ai, queria comprar aqueles livros bonitos que vi na livraria semana passada, mas livro no brasil é muito caro, puta merda, o mercado editorial também não facilita a vida da população né. nossa, imagina que delícia trabalhar nessas editoras grandes e pegar uns livros de graça, sem precisar baixar ebook ilegal na internet, deve ser muito bom. meu deus do céu olha o tanto que eu tô divagando, a intenção era ficar aqui sem pensar em nada, não acredito que tô desperdiçando esse tempo. vou tentar uma última vez, pelo menos dez segundos, eu preciso conseguir alguma coisa, não é possível que eu não seja capaz de acalmar meu cérebro por dez segundinhos. inspira, expira. vou me concentrar nos números, pode ser que ajude. inspira, uum, doois, expira, trêes, quaatro, inspira, cinco, ai meu deus respirei mais rápido do que devia, ai meu deus agora tô consciente demais da minha respiração de novo, que horror! ai que saco, essa pose tá péssima mesmo, não aguento mais. aff, acho que já faz um tempo considerável que eu tô aqui, tá bom demais já, acho que deu. é, já chega, vou pegar meu livro mesmo."

foi como se esse momento tivesse durado toda uma eternidade, mas na verdade passaram-se só uns cinco minutos, no máximo. por fora a expressão até podia ser serena, de quem supostamente tá dando o seu melhor pra esvaziar a própria mente, mas por dentro o turbilhão de pensamentos era enlouquecedor.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

quem me dera poder escolher

é difícil sentir o estômago revirando e pegando fogo, como se houvesse ali um vulcão em erupção, só porque alguém se atrasou e te deixou esperando por pouco mais de uma hora. é difícil sentir o coração batendo descompassado, a respiração acelerada e o oxigênio quase não dando conta de encher o pulmão só porque você precisa fazer uma ligação pra alguém que não conhece. é difícil sentir vontade de vomitar de nervoso e ficar com o rosto quente e vermelho tal qual um pimentão só porque você levantou a mão durante a aula pra fazer uma pergunta pro professor. é difícil esperar pra almoçar só depois das 14h30, mesmo sentindo fome desde às 13h00, só porque dividir mesa com desconhecidos (ou semi-conhecidos) no refeitório do trabalho te deixa apavorado, então você espera até esvaziar.

pior ainda é explicar essas coisas pra quem não sente da mesma forma, quem não entende o que acontece com você, com a sua mente e com o seu corpo em situações normalmente consideradas corriqueiras e quem não faz nenhum esforço pra tentar compreender, pra tentar se colocar um tantinho no seu lugar, por cinco minutos que seja.

pior ainda é ter de falar que esse tipo de coisa é incontrolável, que não é intencional, que a crise chega quando quer chegar e que não é por opção sua, que não foi você quem quis assim.

nem eu que sou trouxa escolheria sofrer desse jeito por coisa pouca, caso houvesse a opção de ser diferente.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

mea maxima culpa

venho por meio desta me desculpar com todo mundo que eu já ignorei em alguma rede social. peço desculpas por todas as conversas que pararam na metade, por todos os assuntos inacabados, por todas as vezes que eu deixei alguém sem resposta.

não me desculpo por demorar pra responder, porque aí já é demais. não me vejo na obrigação de responder na hora, inclusive tenho agonia de quem assim o faz. podem se passar três dias, mas se uma hora a sua resposta chega, esse pedido de desculpa não é pra você. é direcionado especialmente àqueles que eu negligenciei por tanto tempo que me senti envergonhada pela demora e, sendo assim, não tive coragem de voltar lá e responder alguma coisa, qualquer coisa, nem que fosse só um "me perdoa, por favor".

eu juro que não faço por mal, muitas vezes nem é de propósito. pode ser que eu abra a conversa em algum momento em que não posso digitar, aí eu respondo mentalmente e meu cérebro entende que a resposta foi enviada, então eu esqueço completamente de responder de verdade - e só lembro dez dias depois. ou pode ser que, na hora em que eu li, eu não saiba o que responder, aí eu decido que vou voltar depois, porque preciso pensar melhor, só que nunca volto. ainda tem uma terceira possibilidade, que é a pior de todas, mas infelizmente é a mais real: pode ser que eu simplesmente tenha perdido a vontade de conversar, porque não tô no clima pra small talk, então não consigo dar continuidade ao assunto. 

independente de qual seja a razão pra eu ter desaparecido e não ter te respondido nunca mais, me perdoa. não é você, sou eu. eu é que não sei manter uma conversa por muito tempo, eu é que me atrapalho toda nas relações interpessoais, eu é que preciso melhorar. não é pessoal (ou talvez até seja, mas na maioria esmagadora dos casos não é).

isso não quer dizer que a partir de hoje eu vou tentar parar de ignorar as pessoas, isso só quer dizer que eu tenho consciência de que não é legal e assumo minha falha. pode ser que um dia eu crie vergonha na cara e pare com esse negócio, mas infelizmente ainda não é o dia. 

já peço desculpas de antemão pra quem eu for ignorar num futuro próximo. como eu disse: não é você, sou eu. mesmo que você seja muito legal e que eu goste de você, tem vezes que simplesmente não dá, não rola, não consigo. foi mal. 

domingo, 14 de agosto de 2016

14. a velha história do lugar certo na hora errada

quando eu tinha uns 16 anos, por aí, esse cara apareceu na minha vida. a gente se conheceu numa situação bem específica, se não fosse aquele passeio os nossos caminhos provavelmente não teriam se cruzado, mas na hora isso não me pareceu importante. quando voltei pra casa naquele dia, ter conhecido o menino era um fato irrelevante. caso ele não estivesse no mesmo lugar que eu, não faria nenhuma diferença. 

mas depois a gente começou a conversar e rapidinho nós viramos amigos. o menino era uns anos mais velho que eu e era legal conversar com ele, porque era diferente. ele não fazia parte do meu convívio, então tudo que eu falava pra ele ou que ele falava pra mim era novidade. eu gostava de conversar com ele, de ter amizade com alguém "de fora", que não fosse parte do meu dia a dia. 

e era só isso mesmo, uma amizade bobinha de internet. a gente só se viu essa única vez, bem aleatoriamente. morávamos longe, não tínhamos quase nada em comum pra justificar um encontro, enfim, nossa relação consistia em falar bobagem e dar risada. até que ele começou a me tratar diferente, com aquele jeitinho de quem quer algo a mais. o problema é que eu namorava na época e não tinha nem um pingo de interesse nisso, pra mim a gente era só amigo e pronto. nessa dele querer ir além e receber um belo de um chega pra lá, a gente parou de conversar.

eu fiquei com uma sensação esquisita quando a gente parou de se falar. sentia falta dele, de conversar com ele. sabia que a melhor coisa era ficar longe mesmo, que não fazia sentido insistir nessa amizade que, afinal de contas, não fazia sentido por si só. mas depois ele reapareceu, a gente voltou a conversar e me deu um quentinho no coração. era bom ter ele ali, do outro lado da tela, pra ler as bobagens que eu falava.

aí eu terminei meu namoro e então, quando alguma coisa entre nós dois talvez pudesse acontecer, já não podia mais. quem tava namorando nessa época era ele. bom, não é como se eu tivesse pensado "agora vai!" e tivesse ficado na bad porque não dava pra ir, foi só um "poxa, talvez fosse legal se rolasse". nessa época a gente conversava ainda e rolou um diálogo que me marcou bastante, porque mexeu comigo de um jeito inesperado.

quando ele contou que, anos antes, ele queria algo a mais porque gostava mesmo de mim, eu fiquei sem reação. pensei que fosse simplesmente "a menina é legal, a gente dá umas risadas quando conversa, acho que seria bacana dar uns beijos". em momento algum me passou pela cabeça que tinha um sentimento por trás daquilo. hoje em dia eu nem lembro mais o que foi que eu respondi, provavelmente falei meia dúzia de coisas que não fossem comprometedoras pra encerrar o assunto de um jeito não tão ruim e aí a gente se afastou de vez. a quantidade de vezes que eu reli a mensagem dele me contando tudo aquilo é tão grande que chega a ser ridícula. o tanto que essa história mexeu comigo naquela época não tá escrito. o menino não saía mais da minha cabeça, eu não conseguia parar de pensar no quanto poderia ter dado certo caso a gente tivesse tido a chance. até que isso passou e eu não pensei mais sobre o assunto.

tinha tudo pra ser, mas não foi. não era pra ter sido. 

domingo, 7 de agosto de 2016

o padre e as coxinhas

sou conhecida dentro de casa por sempre ter sonhos enormes e malucos, daqueles que dariam um bom enredo pra livro de aventura fantástica. o problema é que quando eu resolvo contá-los, ninguém tem paciência pra me ouvir. as histórias mirabolantes que meu cérebro inventa enquanto eu durmo são tão confusas e compridas que meu irmão nunca aguentou ouvir nenhum dos sonhos até o final...

eu lembro dos meus sonhos praticamente todas as noites, inclusive acho muito esquisito quando acordo e parece que não sonhei com nada. além disso, eu lembro até hoje e com uma certa clareza de detalhes de uns sonhos que eu tive há, sei lá, uns dez anos. é bem bizarro. aliás, falando em bizarrice, uma época eu sonhei repetidamente que meus dentes todos caíam e o que eu mais ouvi foi gente falando que isso significava que alguém ia morrer. acreditando nisso ou não, todo mundo do meu convívio continua aqui bem vivinho. também tem aquela história que eu contei aqui, da pessoa que aparecia nos meus sonhos todas as noites - e que faz muito tempo que sumiu, ainda bem!

bom, isso tudo foi pra dizer que eu já tô acostumada a sonhar coisas esquisitas, mas que mesmo assim um dos meus sonhos mais recentes me surpreendeu bastante pela falta de conexão entre todas as partes dele. acordei dando risada e só de pensar em tamanha besteira o sorrisinho já começa a se formar automaticamente na minha boca. gente, senta bonitinho aí na cadeira e acompanha essa história aqui rapidão:

eu sonhei que estava com o meu namorado na coreia do sul. não sei como, mas eu simplesmente sabia que era lá que a gente tava (sabe aquela coisa de "sonhei que a gente tava na sua casa mas não era a sua casa de verdade, era outra casa, mas era sua"? então). em alguns momentos o boy tava do meu ladinho, em outros ele simplesmente desaparecia e eu estava sozinha vagando pelas ruas coreanas. enfim. no começo, eu entrei numa loja e uma atendente bem caricata, vestida com roupinha oriental, veio mostrar uns guarda-chuvas pra mim e pro meu namorado. a gente tava conversando normalmente, a moça falava em português mesmo. dei uma olhadinha nas coisas, agradeci e fui embora (meu namorado já tinha desaparecido quando saí). daí encontrei o time de vôlei feminino da seleção brasileira atravessando uma rua. achei curioso as meninas estarem lá, mas segui meu caminho tranquilamente até o shopping mais próximo, que mais parecia um galpão mal acabado. encontrei o boy na praça de alimentação e demos umas três voltas por lá, tentando decidir o que comer. ele escolheu, mas eu não sentia vontade de comer nada daquilo, já tava ficando agoniada. aí falei que ele podia almoçar sem mim, que eu ia tentar resolver meu problema. deixei o mozi sentado comendo a comida dele e fui andando até uma mesa mais afastada, pra pedir um conselho pra uma pessoa que tava sentada lá sozinha. essa pessoa era ninguém menos do que o padre fabio de melo, que aparentemente morava na coreia do sul há aproximadamente dois anos. perguntei o que ele almoçava naquele shopping, porque eu não conseguia escolher nada pra comer. com uma carinha meio triste, o padre me disse que tava se alimentando unicamente de coxinhas desde que tinha chegado no país (2 anos!) e apontou pra um quiosque, que até então não estava ali. em cima do balcão tinham uns salgadinhos meio murchos, sem a menor graça. ainda assim, eu me animei com essa possibilidade e perguntei se a coxinha era boa. com uma cara mais triste ainda, ele disse que não. depois disso eu não lembro mais nada.

caras, vocês tem noção de que eu sonhei com o padre fabio comendo coxinha durante dois anos na coreia do sul? e eu nem gosto desse padre, pelo amor da deusa. meu inconsciente é uma coisa de louco! você aí que entende um pouquinho de interpretação de sonhos, me diz: posso seguir em paz dando risada a cada vez que eu lembrar disso ou devo me preocupar?

sábado, 6 de agosto de 2016

50 tons de azul

mês passado foi um dos melhores messes desse ano - se não o melhor! -, sem dúvida alguma. julho de 2016 pode e vai ficar marcado pra sempre na minha vidinha por diferentes razões, mas eu poderia resumir tudo em um único termo e dizer que, acima de qualquer coisa, esse foi um mês repleto de primeiras vezes. 



a mais especial de todas (e que rendeu muitas outras primeiras vezes, já que foi tipo um combo delas todas) foi a minha viagem de férias. pela primeira vez, viajei com o meu dinheiro, sem precisar da ajuda financeira dos meus pais. meu namorado e eu tiramos quinze dias de férias do trabalho e fomos sozinhos e juntinhos passar uma semana em porto seguro, brincando de lua de mel mesmo.



pegamos quase sete dias de praia em pleno inverno, porque nosso país é tropical, abençoado por deus, bonito por natureza e coisa e tal. porto seguro não tem lá muita coisa pra fazer, mas ô lugar bonito aquele! a cada praia diferente era um suspiro a mais. e estar ali, com os pés na areia quente, debaixo do sol brilhante no meio do céu azul, sentindo a tal da brisa do mar batendo no rosto e o vento bagunçando todo o meu cabelo, enquanto eu segurava a mão da melhor pessoa de todas, sem mais ninguém com a gente, como se o mundo fosse só nosso, foi uma das sensações mais gostosinhas da minha vida.



nosso despertador tocava cedo, pra gente não perder o café da manhã. depois de comer a gente se trocava, enchia o corpinho de protetor solar (porque uma hora a gente aprende a não dar bobeira pras queimaduras de sol), entrava no nosso carrinho alugado que era bem nota 7/10 mas foi um companheiro e tanto e ia pra algum lugar diferente, lindo e azul. azul vibrante, esverdeado, acinzentado. azul do céu, do mar, da piscina, das roupas do meu namorado. um tom mais bonito que o outro, sempre fazendo os meus olhos brilharem.

a gente conheceu várias prais lindas, comeu um zilhão de coisas deliciosas (saudades, sorvete do coelhinho!), descansou de todo o stress acumulado por conta do trabalho e da faculdade, se aventurou pelas ruas desconhecidas da cidade e aproveitou ao máximo essa vida maravilhosa de casal que viaja sozinho e transborda amor por todos os poros. 



minha primeira viagem feita com o meu próprio dinheiro me rendeu uma quantidade enorme de outras primeiras vezes. ir pra porto seguro, comer bobó de camarão, ver uma estrela cadente, beber uma cerveja com 10% de álcool (e odiar), estar no mercado e acabar a luz, assinar meu nome no check-in de um hotel, ver uma bicicleta no meio do mar, pegar a maré tão baixa que dá pra andar pela água na altura do tornozelo até chegar num banco de corais (desviando de todos os ouriços do mundo), comer bolo de tapioca, atravessar um rio a pé pra chegar em uma praia... etc etc etc. 

de vez em quando as lembranças dessa viagem surgem na minha mente e é como se eu me teletransportasse pra lá instantaneamente, enquanto eu revivo por pensamento as nossas aventuras em terras baianas. a semana passou tão rápido, mas ao mesmo tempo durou uma eternidade. foi tempo suficiente pra eu confirmar que é assim que eu quero passar o resto da vida, rindo e dando a mão pra minha pessoa preferida de todas. 


digamos que durante aquela semana eu estivesse com esse sorrisão estampado na minha cara o tempo inteirinho (menos quando ficamos uma hora e meia dentro do carro sem ar condicionado ou rádio funcionando, debaixo do sol, na fila da balsa pra ir até a outra cidade. aí eu fiquei bolada). 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

12. uma surpresa feliz

as pessoas entram na nossa vida com diversos propósitos, alguns bem claros, outros mais misteriosos, alguns ficam por uma eternidade, outros vão embora depois de pouquíssimo tempo... enfim, cada história é diferente, mas se a gente prestar atenção, todas elas têm sua importância. e foi pensando nisso que eu percebi o quanto uma pessoa supostamente aleatória, que não causa nenhum impacto realmente marcante no meu dia a dia, entrou na minha vida com uma missão importantíssima: me ensinar que é essencial dar uma segunda chance pros outros.

conheci esse ser humano não lembro quando, não lembro como. só sei que foi por intermédio de amigos em comum. logo de cara, achei esquisito. um jeitinho problemático, insuportável, que não me descia de forma alguma. eu olhava pra pessoa e só conseguia pensar "qual a necessidade disso, hein?", não via muita razão pra continuar ali, interagindo. era muita presunção, muito "eu sou a melhor pessoa do planeta e vocês, reles mortais, devem se curvar a mim". ou pelo menos era assim que eu enxergava...

a nossa convivência nunca foi muita, mas o número de amigos em comum só crescia - não dava pra fugir, então aceitei. aos poucos, fui vendo um outro lado. mas bem aos poucos mesmo, o processo foi bem demorado. por muito tempo, eu senti bastante antipatia. achava que aquela postura não era real, que era tudo fingimento, um personagem. depois, isso me fez pensar que se eu tinha antipatia pelo personagem, então talvez eu fosse gostar da pessoa real, aquela por baixo dos panos. e foi o que aconteceu, mesmo.

algumas situações aleatórias nos aproximaram, nós acabamos conversando sozinhos, sem ter ninguém por perto, e eu vi que o ser humano por trás daquela máscara de arrogância era uma pessoa muito legal. uma pessoa completamente diferente do que eu imaginava. uma pessoa que merecia uma segunda chance, por mais que eu sempre sinta uma certa dificuldade em fazer isso.

hoje em dia não somos próximos, inclusive estamos longe disso, mas quando a gente se encontra é sempre uma coisa boa. fiquei feliz por ter queimado a língua! toda aquela empáfia da pessoa se transformou num poço de carinho e simpatia, hoje dá pra ver nitidamente o quanto eu me enganei (mas a culpa não é só minha não, já que a carapaça grossa e arrogante realmente esteve lá durante muito tempo).

já disse pra essa pessoa cara a cara que não era muito fã dela, mas também disse cara a cara que minha opinião mudou completamente. descobrir a verdade por trás do véu foi uma surpresa e tanto! :)

terça-feira, 17 de maio de 2016

felix felicis

às vezes eu acho que você tem gosto de café quentinho numa manhã fria, que me abraça por dentro e me dá a coragem necessária pra encarar aquele dia de frente. mas há momentos em que você também tem gosto de tequila (com limão e sal, claro), e desce quente, rasgando, num gole único e impactante; capaz de deixar as minhas pernas bambas, até. pensando bem, na maior parte do tempo você tem gosto de suco de morango, mesmo - docinho na medida certa, ideal pra mim.

quando estamos juntos eu sinto uma mistura louca de sensações, todas intensas e sobrepostas. mas quando você vai embora, eu sempre fico querendo mais. não me contento nunca. independente do sabor, eu não quero parar de beber. essa sede nunca morre.

minha vontade é de te engolir e te deixar guardado dentro de mim, protegido de tudo. mas sejamos sinceros: quem me protege das coisas ruins é você, aquele que me passa confiança até nos momentos mais absurdos. se eu segurar a sua mão, tá tudo bem. mesmo que eu morra de medo, ou que eu pense que não consigo, com você eu vou. bebo de olhos fechados (pode ser que eu dê uma espiadinha, mas bebo ainda assim).

obrigada.

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