segunda-feira, 24 de agosto de 2015

8. o professor mais picareta que eu já tive

estudei na mesma escola por sete anos, da quinta série ao terceiro colegial. desde o ano em que eu entrei até o ano em que eu saí, eu só tive um único professor de biologia. desde que a matéria se chamava ciências, inclusive. o nome dele não será citado aqui por motivos de bom senso, então chamaremos o mocinho de júnior apenas.

menino júnior é um cara muito legal, bem daquele tipo de professor que todo mundo adora mesmo. os alunos se sentiam à vontade pra conversar, contar coisas, fazer brincadeiras... ele era amigo da gente. e isso era muito bacana, mas a gente só foi perceber tarde demais que também era uma coisa muito ruim.

sendo júnior um cara falante e engraçadão, durante 85% da aula a gente não produzia nada. ficávamos conversando, falando bobagem, dando risada. e conteúdo que é bom: nada. mas quando se está no colegial (antes do terceiro ano, claro), isso é o que o aluno mais quer. um professor que entra na classe, dá 10 minutos de aula e fim, cabô. e o cara sabia conquistar a confiança dos alunos! quando ele sentava com você pra conversar, ele te contava todas as fofocas que ele sabia, envolvendo os outros alunos. você, se fosse mais besta, ia cair na lábia dele e, em algum momento, contaria algo seu também. esse algo, obviamente, seria espalhado pra escola em questão de dias. eu, sabendo disso desde o princípio, desconversava de tudo o que ele me perguntava e apenas aproveitava as infos sobre a vida alheia. 

ALIÁS, fazendo aqui um (parênteses) pra contar um causo: certo dia, do nada, surgiu um boato meio tenso no intervalo das aulas. uma menina, anos mais velha que eu, estava grávida. foi uma tremenda comoção, não tinha uma única pessoinha falando de outra coisa que não isso aquele dia. depois de um tempo, descobriu-se que o pai da criança era um menino também da escola, que era meu conhecido. nossa reação (minha e dos meus amigos) ao descobrir esse casal inusitado foi: gargalhar. gargalhar e achar uma tremenda incoerência a ideia desse cara, que mal dava conta de si, criando um filho. mas como nada aconteceu, surgiu outro boato de que tudo tinha sido apenas um alarme falso, a mocinha não tava esperando um bebê. algum tempo depois, nosso queridíssimo professor de biologia, conversando com a minha classe, acabou contando que, na realidade, não tinha sido um alarme falso. tinha sido tipo um golpe da barriga mesmo. e a ideia tinha sido dele, do professor!!!!! o bonitão achou que seria de bom tom aconselhar a mocinha que queria ~segurar o boy~ a forjar uma gravidez. ANOS SE PASSARAM E EU AINDA NÃO ME CONFORMO COM O ABSURDO DESSA HISTÓRIA HAHAHAHA

mas ok, voltando ao cara... pra não dizer que ele nunca fez nada de bom quanto professor, eu garanto que todos os alunos do meu ano (e eu arrisco dizer que todos os alunos da escola) sabiam absolutamente bem a matéria de genética. afinal de contas, o cara só. ensinou. isso. do primeiro ao terceiro ano do colegial. a cada série nova, ele acrescentava umas informações a mais a respeito daquele mesmo assunto e fim, essa foi toda a matéria que tivemos no colegial ^^ (mas foi bem o que caiu na minha prova escrita da fuvest, ou seja, OBRIGADA PROF!!!)

além disso, esse cara inventou um trabalho final genial! os alunos do colegial, nas três séries, faziam apresentações de final de ano no teatro, pra toda a escola assistir. os temas eram escolhidos por ele e normalmente envolviam 1) doenças 2) coisas polêmicas (drogas, aborto...). como todo mundo assistia, eram feitas várias apresentações (por serem vários grupos apresentando e por serem várias pessoas assistindo), o que significava que no dia reservado pra cada classe, esses alunos não assistiam aula nenhuma. a turma a se apresentar chegava cedo e ia direto pro teatro, pra arrumar a decoração e preparar os últimos detalhes antes do início das apresentações. pra melhorar ainda mais, não sei como menino júnior conseguiu, mas esse trabalho tinha nota unificada pra todas as matérias. então se o seu grupo fosse bem, você já tinha quatro pontos garantidos pra ajudar a salvar todo o seu boletim do último bimestre. os professores de exatas odiavam essa dinâmica, já que ela livrava vários alunos da recuperação, mas a gente amava tanto que não sei nem explicar! 

eu já tive vários professores ruins (acho importante dizer que "ruim" tem várias categorias, já que cada um pode ser bosta por motivos diferentes), mas picareta que nem esse: nunca vi nenhum. é um absurdo pensar que eu nunca aprendi quase nada além das leis de mendel. biologia é uma das matérias mais interessantes, existe todo um universo a ser estudado e o cara lá, falando todo dia toda aula todo ano da mesma coisa e só. mas confesso que sinto saudade dele. querendo ou não, era super divertido descobrir em primeira mão um monte de fofoca besta das outras classes!


sábado, 22 de agosto de 2015

devaneios sobre um fim de semana qualquer

sabe quando você sente vontade de escrever sobre uma coisa específica, mas não consegue transformar aquilo num texto? sim, você sabe. todo mundo sabe. todo mundo já teve essa sensação esquisita de não saber como concretizar em forma de palavras uma ideia que se tem na cabeça. mesmo que seja no meio de uma prova de redação na escola, mesmo que seja na hora de tentar dizer algo pra alguém. mesmo que seja um post besta que nem esse, sobre um fim de semana qualquer.

me deu vontade de registrar um fim de semana, assim como eu já fiz outras vezes. esse aqui nem teve nada de especial, eu nem fiquei super feliz radiante empolgada agradecendo aos céus etc durante todos os minutos. foi bem normal, nada que já não tenha acontecido antes e que não vá se repetir várias vezes ainda. mas mesmo assim, sem nenhum motivo realmente bom, eu quis escrever sobre. só que eu tô ensaiando esse texto há dias e: nada. não sei por onde começo, não sei como eu conto as coisas, não sei como eu estruturo o texto, não sei quais coisas eu deixo de fora e quais coisas não podem faltar... e por aí vai.

a única coisa que eu sei é que eu não ia me aquietar enquanto não tivesse feito isso, mesmo que eu não me contente com o resultado final. coloquei na cabeça que eu queria fazer isso, que eu precisava fazer isso, que eu ia fazer isso. e agora eu tenho três parágrafos introdutórios falando sobre algo que nada tem a ver com o que virá nos parágrafos seguintes - eu espero. relendo o que tá escrito e pensando nessa mistureba de ideias soltas, muito me espanta que minhas notas em redação (incluindo vestibulares) sempre tenham sido tão boas. é difícil de acreditar que alguém que não consegue escrever sobre algo que sente vontade - e está enrolando há três parágrafos pra começar de fato - conseguia criar textos bons sobre assuntos normalmente chatos e desinteressantes. 

nem sempre era simples escrever. dependendo do tema (e do quanto eu entendia ou não sobre ele), o esforço pra preencher o número mínimo de linhas exigido podia ser gigante. mas tá muito mais complicado vir aqui e falar que, num fim de semana qualquer, eu fui numa festa e vi dois filmes novos. como se isso fosse surreal e impossível de descrever. como se eu já não tivesse ido a várias festas iguais e assistido a outros filmes esquisitos. nada de novo sob o sol. talvez o bloqueio na hora de escrever esteja um tantinho surpreendente, mas de resto: tudo mais do mesmo. a festa foi na sexta, um dos filmes foi no sábado e o outro foi no domingo. tudo assim separadinho organizadinho pra ficar ainda mais fácil na hora de contar. teoricamente né, porque a gente já vendo que na prática isso não adiantou de nada. 

acho que agora chegou a hora de tentar realmente. começar do começo me parece uma boa ideia, já que seguir a ordem cronológica tende a facilitar. sendo assim, comecemos pela festa. na verdade, pelo que aconteceu algumas horas antes dela. ainda na minha casa, escolhi qual roupa eu usaria, separei mais algumas coisas, guardei tudo numa mochila, peguei um ônibus e fui pra casa do namorado (não que essas informações sejam essenciais pra narrativa, mas achei importante registrar). chegando lá, teve beijo teve abraço teve amor teve o billy teve a revista superinteressante teve panqueca de janta. ah, teve coisa pra caramba. e teve a gente saindo antes das 20h pra pegar o trem e ir pro local da festa, longe longe longe, e chegar na hora marcada. chegamos. é claro que não tinha quase ninguém lá, as pessoas não cumprem horários. ficamos no frio, esperando esperando esperando. 

por que a gente tinha hora marcada pra chegar? porque meu namorado ia tocar nessa festa. o boy faz parte da bateria da faculdade dele, era uma cervejada da faculdade, a bateria ia tocar na festa, os integrantes deveriam entrar todos juntos. enfim, entramos. o lugar era esquisito, bem caído na verdade. mas eu fui de graça (vantagens de se namorar a atração da festa, meus caros), então não tinha muito do que reclamar. e era open bar, just for the record. ao longo da noite, a festa foi ficando cada vez mais e mais cheia de gente. quando chegou o momento de prestigiar o boy tocando seu repinique (ou seja lá qual o nome daquele tambor), a casa tava lotada. de cima do palco, eu enxergava um mar de gente cantando junto e pulando ao som das músicas de cunho duvidoso da faculdade do namorado (faculdade essa que não terá seu nome citado, mas fiquem vocês sabendo que: os alunos de lá idolatram, as pessoas de todos os outros lugares - eu inclusive - não são muito fãs... é uma coisa de louco). a bateria foi o ponto alto da noite, mas não posso negar que tirar uma foto com um anão famoso (que eu não conhecia) também foi divertido.

namorado artista e eu ficamos por lá até dar o horário do metrô abrir, por volta de 4h30 da manhã. na volta, passamos num habibs pra encher a pancinha e comemos várias esfihas. e bebemos o suco de maracujá mais doce da história da minha vida, que horror. e deixamos pra trás nossas canecas, coisa que só percebemos tempos depois, já no metrô. essa parte foi triste, a gente tava colecionando :( eu já disse que o lugar era super longe? pois digo de novo, de tão longe que era. a gente tava há mais de dez estações de metrô de distância de onde desceríamos pra fazer transferência pra outra linha, era muita coisa. sendo assim, é claro que deu tempo de dormirmos. e é claro que, quando acordamos, demoramos um tantinho pra perceber que tínhamos perdido nossa parada e já estávamos umas quatro estações pra frente. só nessa brincadeira demoramos mais meia hora pra chegar em casa, foi ótimo. rolou até corrida na rua pra ver se chegávamos mais rápido. entramos em casa, escovamos o dente, colocamos o pijama, deitamos na cama, ficamos abraçadinhos e dormimos. tudo isso em menos de dez minutos.

no sábado, assistimos pulp fiction. todo mundo ama, eu não gostei. não vou me estender, mas achei o filme todo sem pé nem cabeça - mesmo que todas as cenas sejam interligadas e se expliquem. genial, porém não faz meu tipo. namorado ficou ofendido, porque é o filme preferido da vida dele. a parte que eu mais gostei foi aquela em que ocorreu uma discussão sobre cachorros e porcos serem animais sujos ou não, OU SEJA. e domingo foi dia de ver 50 tons de cinza. péssima escolha, por motivos óbvios. ninguém tava esperando um filme bom, a gente só não tava esperando um filme tão ruim também. duas horas e nada acontece, duas horas e nenhum diálogo bom, duas horas e pura vontade de desligar a tv. nós até arriscamos assistir de cabeça pra baixo, pra ver se ficava um tantinho mais animado. não ficou, mas rendeu umas risadas legais. por conta disso, rolou uma tentativa de fechar um dos olhos pra ver se a legenda, de ponta-cabeça, ficava mais nítida. também não ficou. 

e foi isso. deixei tanta coisa de fora desse texto que nem parece que foi o mesmo fim de semana. não falei da comida que fizemos, não falei das gargalhadas que nós demos. bom, agora eu falei... mas mesmo sem falar sobre tudo, isso aqui ficou imenso. tão grande que, fosse essa uma redação de vestibular, os corretores sentiriam preguiça de começar a ler. e ficariam confusos com a falta de coesão. e me dariam uma nota baixa pelo meu desempenho. e deixariam de lado o fato de que eu tive de me esforçar de um jeito maluco pra conseguir devanear dessa maneira sobre um fim de semana qualquer, mas que eu gostei muito de ter vivido. 


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

muito mais do que um presente surpresa

um dia meu namorado resolveu que ia virar ciclista. assim, sem mais nem menos, ele comprou uma bicicleta. e BOOM, a vida dele mudou pra sempre. o boy adquiriu novos hábitos, fez uma infinidade de novos amigos, descobriu interesses diferentes, passou a gastar muito mais dinheiro (e ele não se arrepende dessa última parte, muito pelo contrário). na minha visão, além de estar mais saudável, ele está mais feliz. se encontrou nesse esporte, nesse lifestyle, e entrou de cabeça nessa história de bike. eu achei incrível.

minha participação nesse pedaço da vida dele é, relativamente, pequena. como já contei aqui, eu só aprendi a pedalar esse ano (e não andei de bicicleta nenhuma vez depois desse dia, diga-se de passagem), então eu não tenho nem como me meter muito nesses assuntos. mas ele me deixa por dentro de todas as compras novas, me mostra tudo quanto é coisa relacionada à bicicleta... é quase como se eu fosse uma semi-ciclista, mas sem a parte de pedalar propriamente dita  ¯\_(ツ)_/¯

mesmo sem andar de bike, eu vivia brincando com ele que "um dia, quando eu tiver minha própria bicicleta, vamos fazer tal passeio, vamos visitar tal lugar..." e por aí vai. e ele vivia me mostrando fotos dessas bikes femininas absolutamente lindinhas, com direito a cestinha na frente e tudo mais, pra alimentar o sonho. até que, certo dia, ele me disse "tem um cara vendendo uma bike que é a sua cara por um preço bem barato". e eu, brincando, disse pra ele comprar pra mim. é claro que o boy levou a sério. é claro que ele entrou em contato com o cara na hora. é claro que a gente já tava planejando o momento em que buscaríamos a bicicleta (era em outra cidade, faríamos quase uma viagem só pra resgatá-la :D).

na minha cabeça, a gente tava esperando o vendedor confirmar pra irmos lá em algum final de semana retirar a nossa compra. então, ingênua que sou, eu não desconfiei da atitude estranha do boy em uma sexta feira à tarde. quer dizer, eu achei suspeito sim. afinal de contas, o menino me mandou uma mensagem enigmática™ falando "daqui meia hora vou passar na sua casa, preciso de uma ajuda sua". quando eu perguntei por que exatamente ele precisava de mim assim, do nada, sem nenhum tipo de explicação, a resposta foi "vou enterrar um corpo, traz a pá". típico dele, sério. (não que meu namorado esteja acostumado a enterrar corpos, a parte típica é fazer piada a todo momento. enfim.)

o boy sempre faz esquisitices, mas dessa vez tava pior que o normal. quando ele chegou, fui encontra-lo assim meio ressabiada. afinal de contas, por mais que eu não tivesse levando pá nenhuma, vai saber, né? saí na rua e dei de cara com ele já fora do carro, usando roupinha social, porque ele tinha ido pra minha casa logo depois do trabalho <3 ele estava super agitado, assim como eu fico quando estou ansiosa pra alguma coisa. não entendi nada. todo empolgado, o boy abriu a porta de trás do carro e me perguntou o que eu estava vendo. "nada", respondi. resposta corretíssima, segundo ele. continuei sem entender nada. até que ele me pegou pela mão e me levou até o outro lado do carro, onde se encontrava, do lado de fora, escondidinha, a bicicleta mais linda que eu já vi. e ela, meus amigos, era minha.

com direito à cestinha, buzina e espelho <3

(eu sou uma fotógrafa tão ruim que não fiz justiça a nem metade da lindeza dessa bici, vejam só)

minha, sim, porque meu namorado é maluco. comprou sem me avisar, levou pra mim sem me contar e me fez uma surpresa linda. e ele estava tão alegre e nervoso e lindo que, por uns segundos, em vez de olhar pra bike, eu não conseguia tirar os olhos dele. agradeci infinitas vezes, dei infinitos beijos e abraços no boy, quase abracei a bicicleta. e é óbvio que ele me fez pedalar. e é óbvio que eu não quis, porque sabia que aquilo não era uma boa ideia. e é óbvio que ele me convenceu. e é óbvio que deu errado no começo, mas depois ficou tudo bem. ele ficou super feliz, eu fiquei super feliz. foi um momento maravilhoso, de verdade.

olha o sorrisão da criança!!1!
{e olha o chinelin, também}

agora eu tenho a obrigação de participar mais ativamente nesse pedaço da vida dele. o cara me presenteou com uma bicicleta, sabe? o mínimo que eu posso fazer é retribuir pedalando. junto com ele, de preferência. passeando em parques, utilizando as ciclofaixas da cidade, dando voltas no nosso bairro... isso não importa. o que importa mesmo é que eu preciso aproveitar esse presente da melhor forma possível, porque ele foi a coisa mais bonita que alguém já me deu. esse garoto entrou na minha vida pra revolucionar as coisas por aqui da melhor forma possível, disso eu tenho certeza. obrigada mais uma vez, amor. por tudo! <3


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

eu, a preferida dos insetos

agosto chegou e com ele chegou também uma porrada de picadas de inseto, assim de um dia pro outro. e quando eu digo uma porrada eu não quero dizer uma, duas, ou três picadas. o que eu quero dizer é que, sem mais nem menos, pelo menos DEZESSETE apareceram no meu corpo de uma hora pra outra. isso porque estamos no inverno e, supostamente, os bichos não me atacam nessa época do ano (fácil falar esse tipo de coisa enquanto tá fazendo um calor de 47 graus lá fora. já era de se esperar que eles aparecessem, né).

como o que mais tem nesse mundo é pesquisa sem noção e portal de notícia sem ter o que noticiar, direto aparece nas minhas redes sociais aqueles "estudo mostra que pernilongos picam pessoas que..." blablabla, sabe? pois bem. não importa o que dizem os números, o que eu digo é: num ambiente qualquer, independente de quem mais estiver lá além de mim, eu é que serei o alvo dos insetos. meu namorado nunca tem uma mísera picadinha, é só eu entrar na casa dele no verão que já começo a me coçar to-da por causa dos bichos. e é assim em todos os lugares, eu sou a sortuda que fica toda empipocada e vermelha. porque assim, é claro que os insetos não me picariam caso isso não fosse um incômodo tremendo, não teria a menor graça. então é claro também que eu tenho reações alérgicas maravilhosas quando levo picadas pelo corpo. eu sempre fico com uns calombos quando coço, mas dois casos de picada de inseto merecem uma atenção especial aqui:

CASO 1
estava eu linda e bela no guarujá, praia em sp, passando o ano novo com amigos e família. tava tudo muito bem, tudo muito bom, até que minha panturrilha começou a coçar. tinha ali uma bolinha em alto relevo, indicando que um bendito dum mosquito tinha achado de bom tom sugar meu sangue. até aí, tudo normal. o problema é que a região da picada começou a escurecer. parecia uma mancha roxa de batida, sabe? só que, pra espanto geral da nação (sério, todo mundo ficou assustado mesmo), a tal mancha esquisita crescia e escurecia cada vez mais, me obrigando a ir numa farmácia. quase pedindo socorro moço pelamordideus me ajuda, me indicaram umas pomadas e uns comprimidos. depois de uns tempos, a coisa foi melhorando e a mancha desapareceu por completo. ALIÁS, essa não foi a primeira vez que uma picada se transformou num negócio esquisito desse. numa viagem de formatura, uns quatro anos antes talvez, eu tive até que ir pra enfermaria do hotel porque os monitores simplesmente não se conformavam com o fato de que meu corpo reagia a insetos ficando manchado daquele jeito. também ganhei pomadinha etc e tudo se resolveu.

CASO 2
novamente estava eu linda e bela na praia com a família, mas dessa vez lá em florianópolis. meus pais resolveram passar o dia conhecendo lugares diferentes e, num determinado momento, pararam o carro pra gente descer e tomar solzim. mas em vez de ficarmos na praia propriamente dita, paramos numa espécie de jardim. o que tinha embaixo dos nossos pés não era areia, era grama mesmo. eu não sou lá muito fã de grama (odeio), então fiquei desconfortável desde o primeiro minuto. não me espantei muito quando, dali uns tempinhos, comecei a me coçar. era até meio óbvio, né? meu pé foi o primeiro local a ser atacado, depois foi o joelho. porém, o que não tava óbvio de jeito nenhum, é que o local da segunda picada (joelho portanto) ficaria tão inchado que quase dobraria de tamanho. e meu pé, também atacado pelos bichos, tava doendo tanto que não dava pra pisar direito. SUPER LEGAL. também tive de tomar antialérgico e passar pomadas, dessa vez o inchaço fez com que o farmacêutico receitasse até um gel pra dor muscular. tudo por causa de algum inseto bizarro que não resistiu ao meu charme. mas depois de um tempo as coisas se acalmaram e eu já tava andando normalmente.

levando em consideração as bizarrices narradas acima, até que as picadas de agora (mesmo totalizando quase duas dezenas) não são um problema tão grande assim, vai? mas coçam tanto que a vontade que eu tenho é de arrancar a pele fora usando a unha. super gostosinha a sensação, recomendo.



domingo, 16 de agosto de 2015

a relíquia do meu pai

há quase quarenta anos - trinta e sete, pra ser mais exata - meu pai comprou um carro. ou ganhou do meu avô, não sei direito. esse carro é um fusca branco. de 1978 até 2015, o tal do fusca esteve aqui conosco, quase como um membro da família. com esse carro, meus pais saíram de são paulo e foram até o nordeste. foram muitos dias dirigindo, foram muitos quilômetros percorridos. isso tudo sem sequer trocar um pneu, eles dizem.

quem olha de fora acha que o carro tá impecável, de tão bonitinho que ele é. quem tá do lado de dentro sabe que a coisa não é bem assim: o fusca treme, balança, faz barulhos assustadores, as peças soltam, a porta corre risco de abrir do nada, um dos vidros é fechado permanentemente... esse tipo de coisa ótima, que só sabe quem convive com o carro. aliás, outra coisa incrível que ninguém mais sabe sobre ele é que, como não é possível afastar/aproximar os bancos, minha mãe precisa usar um travesseiro nas costas pra conseguir dirigir. sem ele, ela não alcança os pedais. meu pai, aproveitando o gancho, usa também. no caso dele, mais por conforto do que pela distância, imagino eu.

desde que eu me entendo por mim, meus pais tiveram dois carros. o fusca sendo de papai, ficava com ele. mamãe só usava quando era mesmo necessário, mas o normal era que o outro carro "fosse dela". preciso confessar que eu e o fusca não tivemos uma relação muito amigável durante alguns anos. assim... quando eu era pequena, lembro de andar nele pouquíssimas vezes (ou vai ver que minha memória é mesmo muito ruim e eu simplesmente esqueci. muito capaz de isso ter acontecido, inclusive). como o fusca ficava com meu pai, que trabalhava super longe de casa, quem me levava de carro pros lugares era a minha mãe. e nos fins de semana, quando saíamos, o fusquinha também ficava na garagem. isso significa que eu não tinha uma relação muito próxima com ele. e significa também, que por um período da minha vida (talvez dos meus doze aos dezesseis anos, mais ou menos), eu morria de vergonha desse carro. mais pelo barulho absurdo que ele faz e pela tremedeira toda do que por qualquer outra coisa, já que o carro é super conservado do lado de fora e faz sucesso por onde quer que ele passe.

então eu cresci. cresci e passei a andar mais com ele, tornando nossa relação muito mais sólida. desde que eu entrei na faculdade, eu andava de fusca pelo menos uma vez na semana, quando meu pai me dava carona até lá. ficamos amigos, o fusca e eu. nossa relação só não se estreitou mais porque dirigi-lo era difícil demais pra mim, então evitei essa parte. mas meu namorado, diferentemente de mim, fez questão de pegar o volante desse carro sempre que possível - a dificuldade começa já na hora de dar partida no fusca, porque não é sempre que a coisa funciona de primeira. e trocar de marcha enquanto se está dirigindo é toda uma emoção à parte, garanto.

como eu já disse, o carro tá lindo do lado de fora. isso fez com que, ao longo desses anos todos, meu pai recebesse uma infinidade de propostas. muita gente já quis comprá-lo, muita gente já ofereceu bem mais do que ele vale. mas papai sempre dizia que "não, muito obrigado" e batia o pé, insistindo que, assim que houvesse condição, reformaria o carro inteirinho. deixaria o fusca novo em folha, do jeito que ele merece.

mas a vida não é justa, como a gente percebe diversas vezes ao longo do dia. sendo assim, meu pai nunca teve a chance de fazer tudo o que ele tanto sonhava com o carro. meu pai, que nunca cogitou se desfazer do seu carrinho, hoje tá sem ele. e não foi por escolha própria, muito pelo contrário. meu pai, que sequer estacionava o fusca na rua pra não correr riscos, teve o carro roubado. depois de quase quarenta anos de amizade entre máquina e ser humano, alguém muito mal intencionado simplesmente levou embora o carro do meu pai. aquele que ele cuidava da melhor maneira possível e defendia sempre que eu ou minha mãe insistíamos em falar mal. repetindo: a vida não é justa.

foi um choque pra todo mundo. por mais que eu já tenha vivido meus momentos de renegar o fusca, eu nunca imaginei minha família sem ele. por mais que mamãe sofresse nos dias em que precisava dirigir esse carro (só quem já fez isso sabe o esforço tremendo pra conseguir fazer uma curva), ela nunca quis que ele fosse embora assim, sem mais nem menos. a gente passou a aceitar a presença daquele carrinho véio na nossa família e, por incrível que pareça, passou a gostar dele do jeitinho que ele era. barulhento, chamativo e teimoso. teimoso sim, porque só saía do lugar se quisesse.

quantas vezes meu pai já não ligou pra casa de noite pra avisar minha mãe que "oi, tô parado no acostamento esperando o guincho. o fusca resolveu que por hoje não quer mais"? inúmeras, eu diria. o carro inundava quando chovia muito, o carro congelava nos dias de frio, o carro fervia nos dias de calor. o rádio não funcionava mais, a buzina menos ainda. o volante já soltou e quem consertou foi meu pai mesmo (gambiarra é o forte de papai, não sei se vocês sabem). certa vez, mami e eu tivemos inclusive que largar o fusca no meio da rua e sair correndo, porque ele resolveu que começaria a pegar fogo e soltar muita fumaça sem nenhum aviso prévio. tô rindo muito de lembrar, mas juro que no dia meu coração quase parou de tanto susto. eita carro bom pra dar susto na gente!

já roubaram esse fusca uma vez, há muitos anos. depois de uma semana sumido, meu pai conseguiu recuperá-lo. hoje os tempos são outros, a rapidez da malandragem é muito maior, a dificuldade de reaver o carro é muito maior. mas pra quem já voltou uma vez, por que não duas? ei, fusca bala, volta pra casa! meu pai tá te esperando. e eu também, juro.


(foto meramente ilustrativa. imaginem que o carro da imagem seja branco, por favor.)


terça-feira, 11 de agosto de 2015

o dia em que eu assumi o risco

tem dias em que tudo o que a gente mais quer é chegar em casa logo. seja pra tomar um banho quente, pra comer depois de muitas horas de estômago vazio, pra sentar no sofá depois de um dia cheio ou, no caso dessa história, pra fazer essas três coisas. esse tal dia, ao qual eu me refiro aqui, foi bem atípico. em vez de voltar pra casa depois da aula, eu tinha um compromisso. em vez de almoçar a comida da minha mãe, eu almocei no bandejão da faculdade. em vez de pegar meus dois ônibus, peguei metrô e trem. em vez de ir pro lado da marginal tietê, fui pro lado da marginal pinheiros. e por aí vai...

a parte mais atípica do dia foi que, por mais bobinho que isso soe, eu inovei. e, além disso, eu corri um risco, porque troquei o certo pelo duvidoso. pra quem não me conhece, essa afirmação deve ser a coisa mais corriqueira possível. mas para aqueles que convivem com o meu jeitinho metódico de ser, deve ser um choque. meu pai ficou chocado. até eu fiquei um pouquinho, pra ser bem sincera. 

como não sou lá das pessoas mais corajosas que esse mundo já viu, eu costumo fazer sempre a mesma coisa. talvez o fato de que eu me apego à rotina também influencie nessa parte, mas enfim. a questão é que se eu sei que uma coisa vai dar certo, é muito raro eu resolver fazer diferente correndo o risco de essa coisa dar errado. se eu sei que andar de tênis é mais confortável e seguro, por que eu iria andar de salto alto e correr o risco de torcer meu pé, sabe? o raciocínio é mais ou menos assim. não tão bem definido na maioria das situações, mas a lógica aplicada permanece sempre a mesma. 

bom, voltemos à história... do jeito que eu tô falando, pode parecer que o que eu fiz foi algo ultra grandioso, revolucionário, chocante, etc. mas a verdade é bem sem graça, tá? então caso alguém esteja com esperanças de uma história super intensa, pode deixar essa ideia de lado. o ocorrido foi o seguinte:

por uma série de fatores, eu fui pegar o trem pra voltar pra minha casa justamente às 17h30, bem quando o transporte público começa a lotar loucamente de pessoas. eu estava há três linhas ferroviárias de distância da minha casa, o que significa que esse trajeto não poderia em nenhuma circunstância levar menos de uma hora pra ser percorrido. como eu já disse no começo, eu queria muito chegar logo. sabe quando a única coisa que você consegue pensar é "eu preciso de um banho"? pois então. e os fatores trem lotado + gente barulhenta + ficar em pé + mochila pesada pra carregar com certeza contribuíram pra minha pressa aumentar bastante.

pois bem. o caminho que eu faria pra voltar (que será chamado aqui de caminho #1) consistia em ficar 4 estações na primeira linha de trem, fazer a transferência pro metrô, ficar 6 estações na linha do metrô, fazer a transferência pra outra linha de trem e descer depois de 5 estações, já do ladinho da minha casa. é um rolê bem grande, como se pode imaginar, mas até que é bem tranquilo. o problema é que essa linha de metrô é muito cheia, ainda mais às 18h. e cheia é pouco pra descrever a situação da minha linha de trem. eu tava muito cansada, não queria ter de lutar por uns pouquinhos de ar pra respirar. então, out of nowhere, uma luzinha acendeu aqui na minha cabeça: E SE EU MUDASSE DE CAMINHO?

pra pessoas normais, isso seria uma situação normal. pra mim, que faço sempre tudo igual, não foi uma decisão fácil de ser tomada. lembrando que na primeira linha de trem eu só tinha o tempo de 4 estações pra decidir (antes da tal primeira transferência, aquela pro metrô), então foram minutos sofridos de dúvida existencial. movida por uma ousadia extrema, eu resolvi que ia arriscar. vejam bem, eu nunca tinha feito esse tal outro caminho. eu não sabia se a ideia era boa, não sabia se eu demoraria ainda mais pra chegar, não sabia se a outra linha estaria ainda mais cheia... mas, por alguma razão, eu achei que dessa vez valia a pena.

esse outro caminho (conhecido também como caminho #2) era um tantinho diferente do primeiro. no caso, eu fiquei até a penúltima estação na primeira linha de trem (totalizando 8 estações), fiz transferência pra segunda linha de trem (fiquei nela por 4 estações) e então, pra finalizar, fui pra terceira linha de trem, a minha, e desci "em casa" depois de mais 4 estações.

como eu sei que tá tudo muito confuso e ninguém deve tá visualizando nada (nem quem conhece o mapa do metrô de sp, já que não dei nome aos bois), segue aqui um mapinha ilustrado e super bem produzido, honrando os dinheiros gastos no curso de webdesign:


OBS: destacado em vermelho temos a estação em que eu estava e destacado em verde temos a ~minha~ estação (pirituba melhor bairro, não se esqueçam!)

pra minha surpresa, a decisão já se mostrou incrível logo no primeiro momento. olhando pro mapa, sigam aqui comigo: assim que passamos de pinheiros, o trem esvaziou. BOM SINAL. continuou tudo tranquilo (considerando o horário, claro) até chegarmos em presidente altino, onde eu fiz a transferência pra outra linha. a plataforma tinha um número razoável de pessoas esperando o trem, mas nada muito grande. pra minha surpresa maior ainda, quando ele chegou e todo mundo entrou, o vagão continuou vazio. CONFIRMAÇÃO DE QUE A ESCOLHA FOI ÓTIMA. consegui respirar, tinha espaço até pra eu dançar, se quisesse. só não sentei porque não quis tirar o lugar de um senhorzinho, senão até isso eu tinha feito. mas depois, como já era de se esperar, minha linha de trem tava lotada. da barra funda até pirituba, enchendo mais a cada parada, não tava fácil. mas cheguei em casa sã e salva - e cansadérrima! - às 19h15, pra poder tomar banho, jantar e, finalmente, dormir.

e depois de toda essa narração, eu venho por meio desta dar o meu braço a torcer. sou obrigada a admitir que, por mais que eu não goste, arriscar é preciso. por mais que eu não tenha coragem na maioria das vezes, eu preciso dar uma chance às novas oportunidades. minha decisão poderia ter sido a pior possível. vai que tudo tivesse dado errado e eu só chegasse em casa depois das 20h? eu não tinha como saber que daria certo. mas eu também não tinha como saber se daria errado, né? assumi o risco e, no fim das contas, saí muito feliz. fica aqui (pra mim mesma) a moral da história: dê a cara a tapa mais vezes, gata. pode ser que nem valha a pena, mas pode ser que seja uma ótima coisa. a única forma de descobrir é tentando!


domingo, 9 de agosto de 2015

aventuras na madrugada

a escuridão era tanta que mal dava pra acreditar que aqueles quatro malucos estavam realmente ali, se aventurando no meio de uma estrada desconhecida. a única fonte de iluminação eram os próprios faróis do carro, que clareavam alguns metros à sua frente e nada mais. 

não havia praticamente mais ninguém ali por aqueles lados. se eles cruzaram com quatro outros veículos ao longo de todo o caminho, foi muito. veículos em uso, eu digo, já que eles avistaram pelo menos dois carros abandonados no acostamento naquele caminho tão tortuoso. 

a quantidade de curvas foi tão grande que eles desistiram de contar depois da décima segunda. eles subiram, desceram, viraram à direita, depois à esquerda, subiram mais uma vez, então viraram e continuaram virando e virando a perder de vista. quando todos pensavam que aquela tortura tinha acabado e a estrada ia, finalmente, se endireitar em uma linha reta, as curvas voltavam a dar as caras, sem dó nem piedade.

a estrada vazia cortava uma represa imensa, que se estendia por onde quer que se olhasse. mas a única maneira de saber que ela estava ali era o reflexo da lua na água parada. a vegetação era alta e espessa, dificultando mais ainda a visão dos quatro amigos dentro do carro. mas nada disso era problema, ninguém estava sequer dando atenção aos possíveis perigos da estrada. até que um deles se deu conta da neblina densa, que pairava sobre a represa. o cenário era de filme de terror. filme barato, sim, mas de terror da mesma forma. 

assim como nas histórias, na vida real um dos amigos do grupo sempre é menos ajuizado (ou mais corajoso, como eles gostam de acreditar). nesse caso, era quem estava no controle do automóvel. o motorista, se divertindo com aquela atmosfera tensa, sem mais nem menos, desligou os faróis do carro. ficou tudo tão escuro que foi como se eles tivessem, todos juntos, fechado os seus quatro pares de olhos. o corajoso se divertia, enquanto a mais medrosa, sentada ao seu lado, se contorcia no banco pedindo por favor pras luzes voltarem a se acender. o problema é que, mesmo com elas acesas, continuava um breu danado. 

mal sabia a tal da menina medrosa que a parte ruim ainda estava por vir. mesmo sozinhos, mesmo no escuro, mesmo com a neblina, a estrada era boa. quando, ao atravessarem uma ponte, o asfalto deu lugar à terra batida, lotada de buracos e desníveis, foi que a coisa realmente encrencou. o carro, coitado, só não pedia mais arrego por falta de saber se comunicar. mas era nítido o esforço daquela máquina pra desviar de tantos obstáculos pelo caminho sem ceder nenhuma vez. a sensação daquele momento era a já tradicional "seria cômico se não fosse trágico". e aquela represa imensa e escura, sempre ao lado da estrada tão deserta, dava o ar de tragédia que eles tanto queriam evitar.

por sorte, tudo deu certo. todos chegaram inteiros ao seu destino final e se divertiram na medida do possível. a estrada continuava lá, paradinha em seu lugar, só esperando a hora deles de voltar pra casa. traiçoeira como sempre, se fazendo de simpática, mas pronta pra dar o bote a qualquer momento. e foi o que aconteceu quando, no meio do caminho da volta, com a escuridão ainda mais escura (se é que isso era possível), um dos pneus do carro ameaçou não dar conta do recado. talvez tenha sido só pra aumentar a emoção dos quatro amigos, já que a ida foi muito mais empolgante. no fim das contas, mesmo com essa pequena dose extra de adrenalina, o carro aguentou a viagem inteira. reclamou como pôde, mostrando nitidamente seu descontentamento por tamanho esforço, mas não deixou ninguém na mão. perrengues à parte, a aventura foi bem sucedida.


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

7. o garotinho do ônibus

pegar o mesmo ônibus todos os dias significa encontrar quase todas as mesmas pessoas todos os dias, certo? pois então.

no ônibus que eu pego pra ir pra faculdade, tinha uma figura ilustre: um garotinho bem pequeno, de uns quatro anos talvez, que era a coisa mais fofinha que eu já vi. ele e sua mãe sentavam sempre no mesmo banco - aquele sozinho, o primeiro do lado direito, perto da porta, antes de passar a catraca. a mãe sentava no banco, o menininho sentava no colo dela, e eles desciam sempre no mesmo ponto, depois de uns dez ou doze minutos de viagem.

eles aparentavam ser de família bem simples, mas isso não impedia que o menino estivesse sempre sorrindo e conversando com todo mundo. nos dias de frio, ele usava luvinhas e uma touca colorida, além das blusinhas de lã. nos dias de calor, era comum um chinelo azul. pelo que eu pude perceber escutando as conversas da mãe dele, ela deixava a criança na creche todos os dias antes de ir trabalhar ali por perto mesmo. 

o menino dava bom dia pra todas as pessoas que sentassem ao seu redor, principalmente pras senhoras que já o conheciam tão bem. mas sua relação mais próxima era, com certeza, com o motorista do ônibus. os dois batiam papo do começo ao fim da viagem (quando a criança não dormia, claro). muitas vezes o menino fazia piadas inesperadas ou comentava algo, na maior inocência, que arrancava gargalhadas do motorista tão simpático.

durante um ano, pegamos o ônibus juntos. nunca soube o nome dele. ao longo desse primeiro semestre, eles não apareceram nenhuma vez. não sei se a mãe dele mudou de horário, ou se eles mudaram de rota, ou se aconteceu qualquer outra coisa, mas esse ano eles não deram as caras. o motorista com certeza tá mais tristinho sentindo falta desse amigo tão querido. vai ver é por isso que ele faz questão de escutar, todos os dias, o seu radinho na alpha fm - pra se distrair, agora que o menino não está mais lá pra conversar.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

queria ver você feliz - adriana falcão

meu namorado me perguntou o que eu queria ganhar de presente de aniversário esse ano. dentre as opções, estava esse livro. além de ter me dado outras setenta e duas coisas, ele também me deu o tal livrinho. um mês depois de ganhar, resolvi pegar pra ler. pra compensar essa demora toda, li o livro em dois dias.


a adriana é a mesma autora do luna clara & apolo onze, meu livro preferido. mas queria ver você feliz, diferente do anterior, não é de ficção. é baseado na história de amor dos pais dela, caio e maria augusta. os dois se conheceram ainda adolescentes, bem novinhos, e ficaram juntos até o fim de suas vidas. ah, um fato interessante: história é narrada pelo amor.


eu não sabia nada sobre esse livro, mas assim que li as informações contidas na aba (orelha é um nome feio, gente, desculpa), eu fiquei ansiosa. basicamente, é uma história louca de amor que começa no início dos anos 40 e tem como protagonistas um melancólico e uma obsessiva. além da narração feita pelo amor, a história é contada por meio das cartas e telegramas trocados pelo casal ao longo dos anos. 

o narrador, descontraído, cativante e um tantinho egocêntrico, conta com detalhes como foi que os dois se conheceram, além de todo o desenrolar da história. desde o comecinho, bilhetes foram trocados. e todos os papéis enviados foram guardados, possibilitando então a criação de um livro assim, tão real. a gente acompanha o início tímido, o aumento da intensidade, a tentativa de afastamento, o crescimento do amor, o surgimento dos problemas, o ciúmes, a intensificação assustadora dos problemas, o casamento, o nascimento das filhas, a loucura, o nascimento da filha-salvação, a mudança, o nascimento das netas, a depressão, infinitas perdas e o final trágico.  


e por trágico eu quero dizer: sufocantemente triste. ou tristemente sufocante. ou me fez chorar duzentas lágrimas por olho. ou qualquer coisa que o valha. não foi de todo surpreendente, os indícios estão todos lá se prestarmos atenção. mas, ainda assim, foi um baque. mais pelo fato de ser uma história real, eu acho. triste pra caramba.

confesso que esse esquema de montar a narrativa por meio das cartas não me agradou tanto. assim, eu achei a ideia ótima. nunca li nada com essa estrutura, então foi bem diferente do que eu tô acostumada a ler (e isso é bom!), mas achei cansativo também. as cartas eram bem longas, mas a maioria era bem parecida. maria augusta cobrando atenção, caio falando de alguma coisa chata do trabalho, maria augusta surtada pedindo mais cartas... às vezes caio surpreendia e tinha momentos mais carinhosos do que o normal, mas nada que não voltasse ao de sempre na próxima carta. eu realmente preferi as partes do narrador do que as cartas, mas talvez seja puramente questão de gosto mesmo. 


ah, a primeira coisa a aparecer é essa árvore genealógica aí em cima, pra ninguém se perder na bagunça que é essa família. e o livro é dedicado à rosina e à patrícia, as duas irmãs da adriana. duas que, assim como ela, perderam os pais super cedo. e viram os pais se enfiando em poços cada vez mais fundos. e passaram por várias barras, absolutamente pesadas. mas que continuaram unidas, apoiando umas às outras. do jeito que deveria sempre ser.

pra concluir, o livro não conquistou meu coração por completo por causa do meu probleminha lá em cima em relação às cartas. li de uma vez só até a página 104 e tava achando bom, mas um pouquinho maçante. no dia seguinte peguei pra ler as 53 páginas restantes (sim, é curtinho) e aí sim foi arrebatador. a leitura vale a pena, com certeza. mas se eu tivesse de dar uma nota, creio que não passaria de 7,5.