quarta-feira, 5 de agosto de 2015

7. o garotinho do ônibus

pegar o mesmo ônibus todos os dias significa encontrar quase todas as mesmas pessoas todos os dias, certo? pois então.

no ônibus que eu pego pra ir pra faculdade, tinha uma figura ilustre: um garotinho bem pequeno, de uns quatro anos talvez, que era a coisa mais fofinha que eu já vi. ele e sua mãe sentavam sempre no mesmo banco - aquele sozinho, o primeiro do lado direito, perto da porta, antes de passar a catraca. a mãe sentava no banco, o menininho sentava no colo dela, e eles desciam sempre no mesmo ponto, depois de uns dez ou doze minutos de viagem.

eles aparentavam ser de família bem simples, mas isso não impedia que o menino estivesse sempre sorrindo e conversando com todo mundo. nos dias de frio, ele usava luvinhas e uma touca colorida, além das blusinhas de lã. nos dias de calor, era comum um chinelo azul. pelo que eu pude perceber escutando as conversas da mãe dele, ela deixava a criança na creche todos os dias antes de ir trabalhar ali por perto mesmo. 

o menino dava bom dia pra todas as pessoas que sentassem ao seu redor, principalmente pras senhoras que já o conheciam tão bem. mas sua relação mais próxima era, com certeza, com o motorista do ônibus. os dois batiam papo do começo ao fim da viagem (quando a criança não dormia, claro). muitas vezes o menino fazia piadas inesperadas ou comentava algo, na maior inocência, que arrancava gargalhadas do motorista tão simpático.

durante um ano, pegamos o ônibus juntos. nunca soube o nome dele. ao longo desse primeiro semestre, eles não apareceram nenhuma vez. não sei se a mãe dele mudou de horário, ou se eles mudaram de rota, ou se aconteceu qualquer outra coisa, mas esse ano eles não deram as caras. o motorista com certeza tá mais tristinho sentindo falta desse amigo tão querido. vai ver é por isso que ele faz questão de escutar, todos os dias, o seu radinho na alpha fm - pra se distrair, agora que o menino não está mais lá pra conversar.


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