domingo, 9 de agosto de 2015

aventuras na madrugada

a escuridão era tanta que mal dava pra acreditar que aqueles quatro malucos estavam realmente ali, se aventurando no meio de uma estrada desconhecida. a única fonte de iluminação eram os próprios faróis do carro, que clareavam alguns metros à sua frente e nada mais. 

não havia praticamente mais ninguém ali por aqueles lados. se eles cruzaram com quatro outros veículos ao longo de todo o caminho, foi muito. veículos em uso, eu digo, já que eles avistaram pelo menos dois carros abandonados no acostamento naquele caminho tão tortuoso. 

a quantidade de curvas foi tão grande que eles desistiram de contar depois da décima segunda. eles subiram, desceram, viraram à direita, depois à esquerda, subiram mais uma vez, então viraram e continuaram virando e virando a perder de vista. quando todos pensavam que aquela tortura tinha acabado e a estrada ia, finalmente, se endireitar em uma linha reta, as curvas voltavam a dar as caras, sem dó nem piedade.

a estrada vazia cortava uma represa imensa, que se estendia por onde quer que se olhasse. mas a única maneira de saber que ela estava ali era o reflexo da lua na água parada. a vegetação era alta e espessa, dificultando mais ainda a visão dos quatro amigos dentro do carro. mas nada disso era problema, ninguém estava sequer dando atenção aos possíveis perigos da estrada. até que um deles se deu conta da neblina densa, que pairava sobre a represa. o cenário era de filme de terror. filme barato, sim, mas de terror da mesma forma. 

assim como nas histórias, na vida real um dos amigos do grupo sempre é menos ajuizado (ou mais corajoso, como eles gostam de acreditar). nesse caso, era quem estava no controle do automóvel. o motorista, se divertindo com aquela atmosfera tensa, sem mais nem menos, desligou os faróis do carro. ficou tudo tão escuro que foi como se eles tivessem, todos juntos, fechado os seus quatro pares de olhos. o corajoso se divertia, enquanto a mais medrosa, sentada ao seu lado, se contorcia no banco pedindo por favor pras luzes voltarem a se acender. o problema é que, mesmo com elas acesas, continuava um breu danado. 

mal sabia a tal da menina medrosa que a parte ruim ainda estava por vir. mesmo sozinhos, mesmo no escuro, mesmo com a neblina, a estrada era boa. quando, ao atravessarem uma ponte, o asfalto deu lugar à terra batida, lotada de buracos e desníveis, foi que a coisa realmente encrencou. o carro, coitado, só não pedia mais arrego por falta de saber se comunicar. mas era nítido o esforço daquela máquina pra desviar de tantos obstáculos pelo caminho sem ceder nenhuma vez. a sensação daquele momento era a já tradicional "seria cômico se não fosse trágico". e aquela represa imensa e escura, sempre ao lado da estrada tão deserta, dava o ar de tragédia que eles tanto queriam evitar.

por sorte, tudo deu certo. todos chegaram inteiros ao seu destino final e se divertiram na medida do possível. a estrada continuava lá, paradinha em seu lugar, só esperando a hora deles de voltar pra casa. traiçoeira como sempre, se fazendo de simpática, mas pronta pra dar o bote a qualquer momento. e foi o que aconteceu quando, no meio do caminho da volta, com a escuridão ainda mais escura (se é que isso era possível), um dos pneus do carro ameaçou não dar conta do recado. talvez tenha sido só pra aumentar a emoção dos quatro amigos, já que a ida foi muito mais empolgante. no fim das contas, mesmo com essa pequena dose extra de adrenalina, o carro aguentou a viagem inteira. reclamou como pôde, mostrando nitidamente seu descontentamento por tamanho esforço, mas não deixou ninguém na mão. perrengues à parte, a aventura foi bem sucedida.


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