sexta-feira, 30 de setembro de 2016

livrinhos de 2016 - parte III

aqui estou eu, três meses depois, pra contar quais foram as minhas leituras no terceiro trimestre do ano! se você não viu as partes anteriores, é só clicar aqui embaixo pra conferir tudinho:

* parte I e parte II :)


JULHO (5 livros)
 Ruth Rocha conta a Odisséia - Ruth Rocha (2006)
eu deveria ter lido a odisseia no primeiro ano da faculdade, pra aula de estudos clássicos. é mais do que óbvio que isso não aconteceu, convenhamos. por mais que eu goste muito de mitologia e tenha aproveitado bastante as aulas sobre a odisseia, que é um texto incrível, é impossível uma pessoa no primeiro semestre ter motivação e paciência o suficiente pra ler esse negócio... daí descobri essa versão infantil na minha casa (a estante de livros dos meus pais é d+!) e ~dei início aos trabalhos~ de leitura dess segundo semestre com ela! a edição é ilustrada, toda bonitona <3 sendo pra crianças, a história é contada de um jeito bem simples e superficial, mas sem deixar nenhum detalhe importante de fora. é bem legal pra quem quer conhecer mas não tem saco pro texto original :)

 Til - José de Alencar (1872)
mais um livro que eu deveria ter lido em algum momento da vida, mas só fui criar vergonha na cara pra fazer isso anos depois... esse era leitura obrigatória pra fuvest, né? bom, digamos que eu só tenha lido agora no meu terceiro ano de usp mesmo hahaha eu conhecia a história e achava muito legal, mas é livro do romantismo né, eu nunca tive muito saco pra esse período literário, então posterguei a leitura. até que chegamos em 2016 e eu senti necessidade de ler mais livros brasileiros, daí aproveitei que ele era curto e já tava na minha estante mesmo... bom, a história parecia mais legal antes de eu ler, mas ainda assim gostei bastante. é meio arrastado, tem descrições demais, algumas partes são meio duvidosas... mas no geral foi uma leitura boa sim!

 O conto da Ilha Desconhecida - José Saramago (1997)
esse livrinho tem umas 70 páginas no máximo e foi o meu primeiro contato com o saramago. no início eu não tava gostando muito, na real eu tava bem incomodada com a maneira como ele coloca os diálogos no texto (eles aparecem do nada, entre vírgulas e com letra maiúscula pra demarcar onde começa a frase. tipo: ela disse Você vai, Eu vou e você, Também, então eles foram. bem assim, solto no meio do texto e sem ponto de interrogação nas perguntas, uma loucura! ah, não aparece em itálico lá não, fui eu que coloquei aqui pra diferenciar o exemplo do resto hahaha). aí quando cheguei mais pro final do livro eu percebi que já tinha sido cativada pela leitura, apesar do incômodo inicial. não tem nada de muito impressionante, a história é bem bobinha até, mas achei a mensagem um amorzinho!

 Cândido, ou o Otimismo - Voltaire (1759)
outro título da já velha conhecida série "era obrigatório em algum momento da vida, porém só li depois" :) esse aí eu me recusei a ler por um motivo muito simples: quem pediu foi a professora de literatura portuguesa (que é uma matéria que eu nem gosto) mas o autor é francês. ou seja, não tinha nada a ver com o curso, não entendi até hoje qual a necessidade desse livro naquelas aulas (ok, entendi o motivo, mas não precisava...). eu achei essa história tão esquisita e surreal e divertidinha que não resisti quando encontrei esse exemplar sendo vendido por módicos 11 reais. agora vem a pergunta que não quer calar: mas valeu a pena a leitura? olha... não foi ruim, mas ouvir a história sendo contada por alguém é infinitas vezes melhor. se por um acaso você estiver afim de ler algo absurdo e cheio de bizarrices e queira ler voltaire algum dia na vida, vai que é sua!

 O Assassinato de Roger Ackroyd - Agatha Christie (1926)
essa foi a minha segunda vez lendo agatha christie e eu gostei mais do que antes (falei aqui do primeiro livro dela que eu li). gosto muito desse tipo de história, fico maluca tentando desvendar o mistério antes do fim e quero ler sem parar até que tudo seja esclarecido. não sei se esse livro era realmente muito óbvio ou se meu contato com tantas séries policiais me transformou em uma boa detetive, só sei que adivinhei quem era o assassino desde o princípio, mesmo não fazendo ideia de como aquilo poderia ter acontecido. gostei de ir descobrindo o desenrolar dos fatos aos poucos e gostei de ver como as diferentes coisas se entrelaçavam na mente do detetive que desvendou o caso. fica aí a recomendação de um livrinho divertido pra fazer a mente trabalhar :)


AGOSTO (6 livros)
 O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman (2013)
eu nunca tinha lido neil gaiman, mas a mayra do all about that book vive recomendando o cara, então escolhi esse livro aleatoriamente porque achei a capa bonitinha hahaha e foi uma leitura muito feliz :) a história é tipo uma fábula, bem fantástica mesmo. você tem que se deixar entrar no universo do livro e abrir a cabeça pro que tá sendo narrado. não sei se é um livro que agradaria a todos, justamente por ter esse lado meio fantasioso, mas eu achei muito legal! senti vontade de ler no original, porque algumas coisas na forma como o texto foi construído não me agradaram tanto, mas acho que isso tem muito mais a ver com quem traduziu do que com o autor em si. de qualquer forma, gostei bastante e inclusive agarrei amor por uma das personagens, a lettie hempstock (falei um tiquinho sobre ela aqui)! 💕

 O Outro Pé da Sereia - Mia Couto (2006)
assim que eu comecei a ler já deu pra perceber que era amor. foi meu primeiro contato com esse autor e eu sinceramente só conseguia pensar "por que raios eu demorei tanto tempo pra ler algo do mia couto?" de tanto que eu gostei. o livro é incrível, tem umas cenas incríveis, os personagens são muito bons... e tem umas frases que eu queria tatuar na testa de tão absurdas! recomendo muito 💕💕

 Só Garotos - Patti Smith (2010)
peguei pra ler sem nem saber quem era a moça, pra ser bem sincera. achei a capa tão bonita que, quando minha amiga me perguntou qual livro eu ia querer de presente de aniversário, coloquei esse na lista. a princípio eu não tava curtindo, porque preciso admitir que tenho um total de 0 interesses nessa cena artística americana dos anos 60 (sorry not sorry), então eu lia com vontadinha de terminar logo pra me livrar da leitura. até que, quando eu percebi, me vi afeiçoada pelos personagens principais e acabei gostando de acompanhar a trajetória deles. aliás, por mais que eu não estivesse interessada at all em todas as informações que ela dava sobre os músicos/poetas/fotógrafos, imagino que essa seja justamente a parte legal pra maioria das pessoas que lê, né?

 O Auto da Compadecida - Ariano Suassuna (1955)
esse livro é a transcrição da peça de teatro e só não é mais amor porque eu não sou tão fã assim de ler peças, mas essa história é possivelmente uma das minhas preferidas do mundo e não tinha como não ser uma leitura absolutamente gostosa 💕💕 li em um dia, é super curtinho, recomendo bastante. mas sinceramente recomendo o filme ainda mais, por motivos de melhor filme da história do brasil ^^ 

 Anna e o Homem das Andorinhas - Gavriel Savit (2016)
escolhi aleatoriamente, também por causa da capa bonita (sou dessas sim, não nego) hahaha e foi uma surpresa muito feliz! a anna, gente, que menina mais incrível! 💕 a história é muito boa, você se envolve facilmente. mas a temática é bem pesada, apesar do nome fofinho. meu único problema com o livro foi em relação ao final, porque é daquele tipo de história que termina do nada, sem um fim propriamente dito - e eu raramente gosto disso. achei que o leitor merecia um final melhor, sabe? a menos que tenha uma continuação, aí sim aquilo seria justificável...

  Pai Rico, Pai Pobre - Robert Kiyosaki (1997)
infelizmente a gente não vive só de romance de ficção por aqui - gostaria muito! -, então um dos livros do tal projeto de leitura com o meu namorado foi esse aí (percebam que a última vez que falei desse projeto foi em abril e só voltamos agora.. hahah). mas gente, que desespero eu senti lendo esse livro. por mais que o autor realmente tenha passado alguns ensinamentos pertinentes em relação à inteligência financeira, eu quase joguei o livro longe umas 837 vezes. não sei o que eu tava esperando também né, mas não foi fácil lidar com o posicionamento desse autor que defende o capitalismo com unhas e dentes, que só faltou estampar a palavra "meritocracia" no alto de cada página.. pra não dizer que li só pra passar raiva, dá pra tirar 01 coisa de bom dessa leiturinha desgastante: a gente realmente fica mais consciente do que faz com o próprio dinheirinho, pelo menos....


SETEMBRO (6 livros e 1/5)
 Iaiá Garcia - Machado de Assis (1878)
livrinho da famigerada fase romântica do machado, antes de ele virar aquele escritor bom de vdd que a gente conhece. é super curtinho, li em uns 3 dias, mas sinceramente não me acrescentou em na-da. eita história sem graça! terminei de ler e a única coisa que eu conseguia pensar era "tá, mas qual foi o ponto desse livro???" asghdasash li pra matéria de literatura brasileira desse semestre, que é só sobre machado de assis - preparem-se pra ver muitos outros livros dele por aqui!

 Eu, Robô - Isaac Asimov (1950)
gostei tanto desse livro que não sei nem explicar!!! 💕💕 a princípio, cada capítulo foi publicado separadamente e depois um editor decidiu que seria uma boa ideia juntá-los em uma coisa só, daí o autor deu um jeitinho de ligar cada um deles e formar uma história una. eu gostei muito da escrita do asimov, gostei muito da temática do livro e achei incrível como as coisas se relacionam nessa história. o mais louco é pensar que isso foi escrito há tantos anos, quando a tecnologia tava longe de ser o que é hoje. dá até vontade de voltar no tempo só pra ser miga do autor e descobrir como foi o processo de criação desse universo hahah foi apenas um dos meus livrinhos preferidos do ano até agora :D ah, só pra constar: também é do projeto de leitura com o boy.

 Viva o Povo Brasileiro - João Ubaldo Ribeiro (1984)
é com muita dor no coração que eu preciso confessar que abandonei esse livro por volta da página 150 (o que parece muita coisa, mas não é quase nada, porque minha edição tem 790 pagininhas..) 💔 :~ o mais triste é que eu SEI que o livro é bom, porque a escrita do joão ubaldo é maravilhosa! mas acho que não era o momento certo, não rolou. eu tentei me forçar a chegar na página 200, pra ver se o livro me conquistaria, mas quando eu percebi que tava lendo 1 linha e pulando umas 7 só pra atingir a meta e poder largar de vez, eu achei mais fácil desistir logo pra não ficar sofrendo a toa. algum dia da vida eu vou dar outra chance pra essa leitura, mas não foi dessa vez :(

 Clube da Luta - Chuck Palahniuk (1996)
a maior vantagem de não ter assistido à maioria dos filmes que todo mundo já viu é que eu pude ler esse livro sem saber absolutamente nada da história (além da famigerada primeira regra do clube da luta), então foi um negócio sensacional hahaha eu li com o meu namorado e ele obviamente já tinha visto o filme (pq ele é normal hehe) então nossas experiências foram opostas. ele tava super empolgado querendo saber em que parte do livro eu tava pra saber minha reação quando o ~segredo~ da história fosse revelado e tal, foi bem legal. essa história é um absurdo e é contada de um jeito muito louco, já deu vontade de reler pra conseguir perceber melhor certos detalhes que a gente só dá atenção depois de finalmente descobrir qualé que é. achei 10/10 💕 ALIÁS, fica aqui a dica pra quem só viu o filme e gostou pra caramba: O LIVRO É MELHOR! ;)

 O Diário de Bridget Jones - Helen Fielding (1998)
esse livrinho nem tava na minha lista de próximos a serem lidos, mas 1) eu percebi que tava lendo pouca coisa de autoras mulheres 2) eu queria uma história mais leve, que não me deixasse tão desgraçada da cabeça quanto os livros anteriores, então quando me deparei com esse diarinho não fui capaz de resistir! confesso que às vezes eu ficava meio entediada de ver a contagem de calorias ingeridas pela bridget ao longo dos dias, mas de resto foi só alegria :) não foi aqueeela leitura arrebatadora, que roubou meu coração e coisa e tal, mas foi um amorzinho!

 Fundação - Isaac Asimov (1951)
por ter gostado tanto de Eu, Robô pode ser que eu tenha vindo com muita sede a esse pote e me senti meio desiludida com essa leitura hahaha o asimov é foi um baita escritor, isso não dá pra negar nem que eu queira, mas o livro é muito confuso. a história é super legal, mas exige um grau de concentração além do que eu consigo atingir e, sendo assim, eu me perdi umas oitocentas vezes ao longo da leitura hahaha tem muito personagem, os anos passam muito rápido, acontece coisa d+.. e o leitor que não tem uma memória absurdamente boa pra decorar todas essas coisas fica tipo ~cego em tiroteio~ tentando entender como e quando tudo aquilo aconteceu hahaha bom, não é que eu tenha odiado, eu só não me empolguei. tanto é que nem vou ler os outros livros dessa série, só esse já tá muito bom pra mim ;~

 Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (1881)
pra fechar o mês (e o trimestre e o post!) escolhi essa releitura do amor!! <3 li lá em 2012, quando tava na escola, e gostei muito. agora meu professor de literatura brasileira da faculdade vai trabalhar a obra do machado com a gente e eu não podia deixar de reler pra matar a saudade que eu tava desse narrador absurdo que é o brás cubas! não preciso nem dizer que eu recomendo, né? 💕




e os resultados parciais desse trimestre são:

 livros terminados 17 x 1 livros abandonados
 literatura brasileira 6 x 12 literatura estrangeira (1 portuguesa, 3 britânica, 1 francesa, 1 moçambicana, 6 americana)
 livros lidos no kindle 10 x 8 livros físicos
 autoras mulheres 4 x 14 autores homens :(
 releituras 1 x 17 livros novos

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ela não queria ter dito sim

giovanna aceitou o convite por impulso, sem pensar muito a respeito. ou talvez tenha sido por vergonha de recusar, já que ela sempre aprendeu que não podia magoar os sentimentos dos rapazes - muito menos daqueles que se interessaram por ela. seria quase um sacrilégio dispensar um moço bonito, rico e que queria levá-la pra jantar num restaurante caro e badalado. mesmo que ela não tivesse o menor interesse de passar esse tempo com ele, o correto era dizer sim. e foi isso o que ela fez. o problema é que, por mais que uma voz chata e insistente não parasse de ressoar na sua cabeça afirmando que esse encontro era uma grande oportunidade, seu coração gritava o contrário. a cabeça dizia uma coisa, enquanto o coração entrava em colapso só de pensar em perder essa batalha. desesperado, ele batia a toda velocidade, pra ver se surtia algum efeito. e a cabeça de giovanna continuava com aquela mesma ideia torta. batendo descompassado e dificultando a respiração da menina, seu coração implorava por ser ouvido.

o convite de rafael era para dali a cinco dias. depois de dizer sim, para tentar acalmar seu coração, giovanna pensou que teria tempo suficiente pra amadurecer essa ideia e, por fim, se convencer de que era uma boa sair com esse cara. mesmo sem a menor vontade, mesmo sendo só porque todos julgavam correto ("você não pode dispensar um moço bonito, rico e que quer te levar pra jantar num restaurante caro e badalado", eles diziam).

durante os cinco dias, a menina viveu esse conflito. era uma luta árdua, já que nem cabeça e nem coração pareciam abrir mão de vencer. ambos se esforçavam ao máximo pra falar mais alto, deixando giovanna com seus nervos à flor da pele. e o rafael? você deve estar se perguntando. bom, ele continuou sua vida normalmente. sequer pensou no assunto por muito tempo, só avisou os amigos que não poderia sair com eles no sábado porque tinha marcado de jantar com "a gostosa da giovanna, aquela loira, amiga da carol". o rafael estava assim tão tranquilo porque isso, pra ele, não era nada demais. ele sempre saía com meninas bonitas, ficava com elas por um tempinho e, quando elas finalmente se envolviam, ele pulava fora. nada demais. 

tinha sido combinado que o rapaz buscaria giovanna na casa dela às 19h. no meio da tarde de sexta feira a menina estava à beira de uma sincope nervosa. por mais que a voz na sua cabeça fosse persistente e poderosa, seu coração pediu ajuda: agora seu estômago revirava e sua pele suava frio só de pensar em jantar com rafael. a comida não seria um problema, o lugar menos ainda. problema mesmo seria ficar frente a frente com aquele cara desinteressante, egocêntrico e babaca. tendo que rir das piadas dele, tendo que sorrir quando ele fizesse algum elogio a respeito da aparência dela, tendo que aguentar o encontro pelo tempo que ele quisesse, já que ela estaria de carona - e, portanto, presa ao cara até o fim da noite.

num momento de iluminação desesperada, ela mandou uma mensagem mudando ligeiramente os planos. rafael ficou um tanto desconcertado quando leu aquelas poucas palavras que chegaram do nada, sem nenhum aviso prévio, mas não foi capaz de interpretar os discretos sinais que a vida tentava lhe dar. depois de horas sem responder o que ele havia perguntado a respeito da roupa que ela usaria no encontro, giovanna simplesmente ignorou a insinuação maliciosa do rapaz e enviou a seguinte mensagem: "não precisa me buscar em casa amanhã, a gente se encontra por lá. às 19h mesmo, tá? beijos!". ela não sabia disso, mas seus dedos agora também faziam parte do time de apoio ao seu coração. quando eles perceberam o tamanho do buraco em que ela havia se enfiado, se uniram pra tentar derrotar a cabeça da menina e aquele pensamento que não era dela, mas sim das pessoas que estavam ao seu redor. 

giovanna não entendia os motivos daquele seu estado emocional. durante toda a sua vida ela ouviu que aquele era o cenário perfeito: um moço bonito, rico e que queria levá-la pra jantar num restaurante caro e badalado! mas ninguém nunca tinha falado pra ela que isso vinha acompanhado do resto. daquele jeito sem graça, daquelas piadas preconceituosas, daquela mania insuportável de arrumar o cabelo a cada dois minutos. giovanna conversava com rafael pelo celular porque, pra ela, não era nada demais. a qualquer minuto ela poderia simplesmente parar de responder, silenciar as mensagens do cara e continuar seu dia em paz. mas ela não teria essa mesma chance pessoalmente, teria?

sábado, 19h00, restaurante caro e badalado. rafael foi pontual, ele quis chegar cedo pra escolher a melhor mesa e já começar a decidir o que os dois comeriam - afinal de contas, quem melhor do que ele pra escolher qual a melhor opção daquele cardápio tão chique, cheio de comidas que quase ninguém sabia a maneira correta de pronunciar o nome? 

às 19h30, começando a se cansar daquela espera, rafael mandou uma mensagem pra giovanna, perguntando se ela ainda demoraria muito pra chegar. "o antepasto de atum selado com gergelim que eu escolhi pra gente vai esquentar se você não chegar logo", ele disse. sentada no sofá da sua casa, usando o seu pijama mais confortável, giovanna leu a mensagem e gargalhou. ela riu até chorar, colocando pra fora de seu peito toda a angústia vivida naqueles cinco dias. com a maior tranquilidade possível, ela respondeu que houve um imprevisto e que não não seria possível encontrar com ele no restaurante. depois de enviar, ela bloqueou o número do cara, voltou a prestar atenção no seu filme preferido e comeu toda a pipoca que encontrou pela frente.

sorte da giovanna que, depois de muito esforço, o coração venceu. e o rafael? você deve estar se perguntando. bom, pra não perder a viagem, ele escolheu o vinho mais caro da casa, comeu um daqueles pratos com nome que ninguém sabe pronunciar e mandou mensagem pra larissa, perguntando se podia passar na casa dela dali a duas horas. ela disse que sim.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

sem máscara não existe rosto

uma das matérias da minha grade escolar no segundo ano do colegial era psicologia. parece uma ideia muito boa né, ensinar uns conceitos básicos pra adolescentes que precisam desse tipo de direcionamento pra conseguir entender melhor como os seres humanos funcionam etc. mas todo mundo sabe que a escola sempre estraga tudo o que podia ser legal, então é óbvio que era bem mais ou menos. apesar disso, a professora era uma fofinha e eu realmente cheguei a aprender algumas das coisas que ela tentava ensinar. lembro com uma certa clareza das aulas sobre os mecanismos de defesa, porque fiquei meio descaralhada da cabeça com toda essa história de ego, freud, psicanálise e tal.

hoje em dia a minha maior defesa é sair por aí sorrindo o tempo inteiro, por todo e qualquer motivo. não sei direito em qual dos mecanismos isso se enquadra, mas funciona muito bem.

a coisa mais comum é ouvir alguém me chamando de risonha, falando que eu tô sempre com um sorriso bonito estampado no rosto. e é bem verdade mesmo, mas quem diz isso é porque me conhece o mínimo possível. é quem só tem acesso ao lado de fora e não faz ideia do que se passa no lado de dentro. é como se o que está por trás do sorriso não existisse.

não importa que por dentro eu esteja despedaçada, desesperada, gritando, sangrando, implorando por socorro ou xingando até a última geração da pessoa que está na minha frente. só o que importa é o sorrisinho. aliás, quanto maior a quantidade de dentes aparentes na hora de sorrir, melhor.

não sei quando eu desenvolvi essa técnica de fingir que tá sempre tudo ótimo, como se eu fosse a pessoa mais positiva do mundo, mas isso é o que me ajuda a enfrentar todas as situações desgastantes. as pessoas tendem a te tratar melhor se você sorri, então essa foi a melhor maneira que eu arranjei pra me proteger. se você tá mal e demonstra isso, ninguém quer te ajudar. todo mundo só quer se meter na sua vida ou por curiosidade ou pra te criticar, nunca pra realmente tentar deixas as coisas mais fáceis pra você. a partir do momento em que você demonstra que tá tudo bem, mesmo que por dentro você esteja quebrada em doze mil pedaços, todo mundo te sorri de volta.

no fim do dia dá vontade de gritar e botar pra fora tudo o que eu me esforcei pra tentar esconder, mas o máximo que eu faço é deitar a cabeça no travesseiro e derrubar meia dúzia de lagriminha silenciosa pensando no quanto de transtorno eu consegui evitar só por vestir essa máscara sorridente. é desgastante fingir ser uma coisa que você não é, mas o pior de tudo é que compensa.

sábado, 24 de setembro de 2016

talvez eu não precise falar disso

já diria machado de assis (no conto "o espelho", publicado em 1882):

"Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata."

se até machado (ou melhor, a personagem criada por ele hehe) evitava dar opinião pra não ter de discutir, imagina eu?

opinar sobre assunto polêmico é algo que eu realmente evito a qualquer custo, seja na internet, seja na vida real. não que eu não forme opiniões sobre as coisas - às vezes passo mais tempo do que deveria pensando a respeito de besteiras tipo crowdfunding pro zebeléo -, mas eu simplesmente acho que é muito mais fácil evitar a fadiga. independente do que você disser e do contexto em que a sua fala estiver inserida, alguém SEMPRE vai querer rebater. e convenhamos que não é sempre que você tá disposto a respirar fundo, fazer cara de alface e ignorar a intervenção não solicitada. na maioria dos casos, o nosso primeiro impulso é comprar uma briga imbecil só porque alguém não concorda com a nossa opinião.

pra fugir desse tipo de situação deselegante, eu mantenho meus pensamentos aqui comigo. pessoalmente eu até converso um pouquinho sobre as polemiconas da semana com os amigos ou com os meus pais (eles acabam com o meu estoque de autocontrole pra evitar as briguinhas), mas na internet eu realmente evito ao máximo. tanto é que eu sequer comento nos posts dos migos quando eles opinam sobre algo, que é pra não me envolver em confusão alheia sem necessidade. mas aí chegou o gregório fazendo declaração pra clarice. e depois o rafinha bastos (!) meteu o louco do textão de amor também. e eu fiquei me coçando pra falar bobagem sobre isso...

(um pequeno parêntese: comecei a escrever no dia que o gregório publicou o texto dele na folha, mas foi meio difícil passar pro "papel" as coisas todas que estavam dentro da minha cabeça, por isso a demora.)

vi um zilhão de pessoas comentando cada uma dessas declarações de amor, falando qual delas tinha sido a melhor, qual delas era mais verdadeira, ou qualquer coisa do tipo. eu sequer pensei sobre isso, já que qualquer demonstração de amor é mais do que válida. e né, quem sou eu pra julgar a maneira como cada um enxerga o amor e os seus relacionamentos? aliás, já pensou se eu compartilho o post do rafinha bastos na minha timeline falando se concordo/discordo e me aparece alguém pra retrucar, com uma opinião contrária? acho que eu desmaio de tanto desgosto. a única forma que eu sei de falar sobre esse tipo de assunto é, assim como o personagem do machado de assis ali de cima, contando um causo de minha vida.

juro que me vi tentada a fazer isso, a fazer textinho falando sobre ex namorado (tal qual o gregório, porque sobre o namorado atual, que nem fez o rafinha bastos, eu já escrevo com uma frequência alta até demais). mas fiz o que muita gente tem dificuldade de fazer - botei a mão na consciência! - e vi que não fazia o menor sentido falar sobre isso. por mais que às vezes eu queira, porque foi uma parte enorme da minha vida, já foi. falar sobre isso causaria transtorno unicamente pra mim mesma, então eu preferi deixar pra lá. eu definitivamente não preciso falar disso.

(mas se alguém me perguntar a respeito, não tenho nenhum problema em falar sem parar sobre esse assunto. mesmo que neste caso, dando margem pra alguém vir aqui retrucar falando bobagem, eu realmente prefira evitar.)

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

um transtorno que eu preferia evitar

a coisa que mais tem me irritado ultimamente é pegar ônibus de noite, cansada, louca pra chegar logo em casa, e entrar um grupo de adolescentes que acabaram de sair da escola. PITA QUE PARIU, que nervoso que eu sinto quando isso acontece. inclusive tô nervosa agora, só de pensar.

ônibus é meio desagradável em todos os momentos né, por infinitos motivos óbvios demais pra serem listados aqui, mas quando as pessoas que tão lá dentro junto com você são inconvenientes, o desconforto cresce uns duzentos por cento. aliás, gente inconveniente é um transtorno em qualquer situação e eu fico com vontade de cometer assassinatos sempre que elas aparecem no meu caminho, mas enfim. foquemos na questão dos adolescentes no ônibus às sete horas da noite.

adolescente é um troço sem noção mesmo, eu sei disso, eu também era (não tanto), mas me tira do sério o quanto eles cagam pro próximo. num tem respeito, não tem bom senso, não tem porra nenhuma. toda aquela vibe errada de "eu tenho 16 anos, eu faço o que eu quero e eu tô certo sim, ninguém manda em mim e ninguém tem nada a ver com a minha vida". na hora parece que isso faz todo o sentido, mas olhando de longe chega a dar um pouquinho de dó dessa ingenuidade. e raiva também, meu deus do céu, que raiva que dá!

você tá lá sentadinha no ônibus quase vazio, quase chegando em casa (faltam só 5 pontos pra você descer), lendo seu livrinho bem tranquila, quando de repente entram uns dez adolescentes gritando, falando bobagem, brigando, andando sem parar de um lado pro outro, colocando as mochilas nos bancos e ocupando o lugar de quem realmente quiser sentar. SABE? aí você tenta se concentrar no livrinho, tenta não se deixar levar pelo barulho dos xóvens, mas quando você se dá conta o ônibus tá parado ali naquele ponto há mais de cinco minutos, simplesmente porque o motorista precisou descer e dar esporro nos outros adolescentes que ficaram do lado de fora, no ponto. eles roubaram a placa do ônibus, só pela diversão. SABE?

se eu já ficava incomodada com esse tipo de atitude quando eu tinha essa mesma idade, imagina agora. (eu sempre fui meio tiazona, nunca vi graça em causar em lugar público só por motivos de sim. achava meio babaca, meio "porra, cê deve ter um vazio enorme no peito pra precisar desse tipo de coisa pra se preencher, hein? me poupe" e tal.)

nos dias da semana, a minha maior vontade sempre é voltar pra casa o mais rápido possível. o nervoso que eu sinto quando eles entram no ônibus é tão grande que eu cogito chegar mais tarde, pegando o ônibus seguinte, só pra evitar esse transtorno.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

só mais trinta dias

hoje falta exatamente um mês pro meu contrato do estágio acabar. 

percebi que, nesses longos 11 meses de trabalho, eu nunca falei nada sobre isso por aqui. mesmo passando grande parte de todos os meus dias na empresa, mesmo falando a respeito disso sem parar com as pessoas ao meu redor, mesmo xingando muito no twitter todo santo dia, por aqui eu nunca escrevi. não sei se porque eu não queria registrar nenhuma bobagem, ou se foi porque os sentimentos são muito intensos e conflitantes. só sei que hoje eu senti vontade de falar.

acabamos de voltar de uma semana sem trabalho, porque o sindicato entrou em greve e todos os estagiários da minha área foram dispensados. voltei sem vontade alguma, mas foi melhor do que eu esperava. apesar de todos os inconvenientes, foi um dia legal. legal porque finalmente eu trabalhei*, porque minha chefe foi embora cedo e o clima sempre fica muito mais leve depois que ela sai e também porque eu estava de bom humor. mas não legal o suficiente pra reconquistar o meu coração.

trabalhar nessa empresa foi uma das maiores decepções da minha vida. entrei lá com uma expectativa tão alta, achando que seria o melhor primeiro estágio do universo, mas não foi. muito pelo contrário, inclusive. tirando o dinheiro (pouquíssimo, por sinal) e os benefícios, não me acrescentou em nada. tem uns pontos positivos sim, mas nada que justificasse a renovação do contrato. aliás, minha chefe ficou chocada quando eu disse que não tinha interesse em renovar, acho que ela foi pega de surpresa. "mas por que você não quer? é muito chato aqui?", ela perguntou. senti vontade de gritar que eu não queria porque às vezes ficava tão insuportável que o único jeito de continuar lá sem matar alguém era saindo pra comprar comida e dar uma voltinha pela empresa, mas fiz a fina e respondi que "queria aproveitar pra conhecer outras áreas enquanto ainda falta tempo pra eu me formar, só isso". mal sabe ela.

daqui um mês, quando eu não estiver mais lá, eu falo mais a respeito. agora a única coisa que eu consigo pensar é que não vejo a hora desse dia chegar. pode ser que eu saia pra comemorar, só pra lavar a alma. quem sabe?


ps. vocês conhecem a história da jout jout e das empadinhas? ela disse que trabalhava num lugar e tava bem descontente, daí quando a coisa ficava muito ruim ela saía pra comprar uma empadinha, porque se você falar pra alguém que tá indo dar uma volta as pessoas te julgam, mas se falar que vai dar uma saidinha porque tá com fome todo mundo entende. quando ela percebeu, só pra fugir do trabalho, ela tava indo atrás de empadinha umas oitocentas vezes por dia. penso nessa história todas as vezes que eu chamo a minha amiga do trabalho pra ir comer alguma bobagem na lanchonete no meio do expediente só porque simplesmente não há mais condições de ficar dentro da nossa sala.


* eu trabalho em uma área bem ingrata. ficar sem nenhum trabalho pra fazer e passar as seis horas sentada na frente do computador matando o tempo com alguma bobagem qualquer é mais comum do que eu gostaria. foi por isso que eu me inscrevi em tanto canal de culinária no youtube, porque tenho muitas horas vazias na internet pra preencher.