quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

segue o baile

a vida é um troço muito louco, né? 

olha, sinceramente, eu bem podia parar ali naquela primeira frase mesmo e isso já seria mais do que suficiente... porque é isso aí né, a gente sabe que é tudo uma loucura e não precisa acrescentar mais nada. normalmente a gente até continua vivendo em paz sem sequer atinar no absurdo que é essa coisa de viver em paz em meio a tanto caos. parece que nós já estamos tão acostumados e enfrentar quinze leões por dia que um a mais ou um a menos não faz a menor diferença, é só continuar seguindo em frente. mas quando acontece um monte de coisa pesada ao mesmo tempo, é difícil continuar trabalhando no piloto automático e não tirar pelo menos uns minutinhos pra pensar a respeito da loucura que é isso aqui (e, consequentemente, dar uma surtadinha básica).

porra, que ano de merda que foi 2016. e ainda tem dia pra cacete até ele chegar no fim, hein? dá arrepio só de pensar na quantidade de coisa ruim que ainda pode acontecer até a gente finalmente dar as boas-vindas pra 2017. há quem tenha explicações pra isso (seja por algum alinhamento qualquer nos astros, ou porque jesus tá voltando, ou por qualquer outra possível razão)... eu particularmente não tenho nenhuma opinião formada a respeito dos motivos, só tenho plena consciência de que não tá sendo fácil pra ninguém. e também acho que é fácil demais culpar o ano e ignorar que a culpa de tudo o que acontece nesse planeta esquisito aqui é inteiramente nossa, da raça humana, essa raça absurda que só sabe se desgraçar cada vez mais. é muito ingênuo culpar o ano que passou e esperar que no próximo tudo seja diferente, mas continuar agindo 100% igual, né? e a gente ainda tem a capacidade de se surpreender quando percebe que tudo continua a mesma bosta, é impressionante.

não sei vocês, mas por aqui às vezes fica difícil de ver o lado bonito dessa loucura toda. requer um baita esforço conseguir parar e reparar nas coisas que fazem isso tudo valer a pena. aliás, parece até errado parar pra ver um arco-íris enfeitando o céu depois de um acidente triste desses tipo o da chapecoense. por mais que essa seja justamente a hora de desacelerar, olhar pras coisas boas e agradecer, parece pequeno demais pensar em pequenas felicidades pessoais diante de tanta coisa ruim acontecendo por aí. tá tudo muito errado mesmo, principalmente dentro da gente. é só depois de tragédia, depois de perceber que a gente não controla porra nenhuma, que a gente para pra valorizar tudo de bonito que a vida tem pra oferecer.

é triste que a vida seja assim tão curta, que tudo possa mudar em uma fração de segundo e que a gente não tenha como mudar isso de jeito nenhum. mas com certeza é mais triste ainda não dar o devido valor a tudo isso. a vida é uma loucura, disso todo mundo sabe. mas será que todo mundo sabe que dá pra gente tentar se melhorar um pouquinho mais a cada dia que passa, pra tentar fazer essa experiência maluca aqui na terra ser mais fácil pra nós mesmos? queria poder dizer que as coisas vão ficar mais leves no ano que vem, que essa confusão toda vai passar, que a gente vai sofrer um pouquinho menos... mas não tenho como afirmar uma coisa dessa. ninguém tem. a única coisa que a gente pode fazer agora é seguir em frente e esperar pra ver se 2017 vai ser tão duro de engolir quanto 2016.

(despejei tudo pra fora sem me preocupar com coerência coesão e concordância. mas não acho que isso seja o mais importante agora né, convenhamos... bom, provavelmente eu só volte em 2017 mesmo. se você continuar por aqui até lá: é nois! brigada mesmo <3) 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

nem só de livros clássicos se faz a letras

título alternativo: da vez em que eu li um romance best-seller escrito em portugal nos anos 2000 pra uma das minhas matérias do terceiro ano de graduação no curso de letras da usp <3


logo no primeiro semestre do curso nós somos recebidos pelos professores de introdução aos estudos clássicos com uma voadora bem no meio do peito e estudamos, entre outras coisas, a ilíada, a odisseia e a eneida - três poemas épicos assustadoramente grandes datados lá da antiguidade clássica - que é pra gente já perceber logo de cara que gostar de ler harry potter e afins não é e nem nunca será suficiente pra você ser feliz cursando letras. a maioria dos professores realmente tem a mente fechada pra toda e qualquer literatura que não faça parte do cânone, o que significa que a gente tá fadado a estudar eternamente os mesmos livros, os mesmos autores, os mesmos poemas etc. só o que é consagrado pela crítica, só o que é considerado "literatura de alto padrão". inclusive uma professora minha bem da pretensiosa fez questão de dizer em aula que "sequer se esforçou pra decorar o nome de uma autora brasileira aí que escreve uns livros pra meninas adolescentes porque não vale a pena gastar memória com esse tipo de livrinho". será que com doze anos essa professora já lia guimarães rosa e virginia woolf por um acaso? -_-

mas como nem tudo está perdido, a gente também encontra uns professores menos escrotos que trabalham com autores e obras diferentes pra dar uma diversificada no curso. por exemplo, os escritores contemporâneos (dos anos 70 pra cá), tipo o saramago, são o tema das aulas de literatura portuguesa desse semestre :) a proposta do trabalho final pra essa matéria é: a professora separou 13 livros escritos nesse período e nós temos que escolher um deles e fazer uma análise. ela não vai trabalhar nenhum desses livros em aula, então a escolha é totalmente subjetiva. primeiro eu decidi que queria algum de autoria feminina, mas comecei a pesquisar e vi que seria ou impossível ou muito caro pra conseguir comprar um daqueles livros. quando desisti de ler uma mulher, decidi que queria algum livro escrito nos anos 2000, pra compensar a quantidade de leitura antiga que a gente faz naquele curso hahaha eu não conhecia nenhum dos autores, então o que me fez escolher finalmente o meu livro foi a capa HAGSHDAGH

quem tá acompanhando meus posts de leituras por aqui já sabe que eu realmente sou ridícula assim mesmo e me deixo conquistar por uma capa bonita né, não adianta eu tentar enganar ninguém. mas olha só que coisa mais bonita do mundo, gente, não dava pra resistir mesmo:

eu comprei o livro no sebo e, infelizmente, a capa da minha edição não é tão legal assim..


preciso admitir que eu tava tão desesperada pra escolher logo (porque afinal de contas o tempo tava passando e eu precisava ler o livro) que só fui atrás de ler a sinopse DEPOIS de comprar hahahaha sim, eu sei, esse é um erro de principiante, mas eu não consigo parar de errar!!! :~ quase chorei quando li que a história se passa em 1905 e que o personagem principal é convidado pelo rei de portugal a governar as ilhas de são tomé e príncipe. depois descobri que esse era o primeiro romance desse escritor, que na verdade é jornalista. e, pra fechar com chave de ouro, o livro tem mais de quinhentas páginas. eu tava quase desmaiando de desespero, pensando no quão equivocada tinha sido essa escolha, até que eu li o livro e: GOSTEI PRA CARAMBA!!! :D

foi uma surpresa muito feliz, de verdade. um livro tão grande e com essa trama política (e que eu deveria ler até o final obrigatoriamente) tinha absolutamente tudo pra dar errado, mas no fim das contas esse foi um dos livros que eu mais gostei de ler pra faculdade até hoje :) a história é bem envolvente, acontece uma cacetada de coisa que você fica "AI MEU DEUS E AGORA" e não consegue parar de ler, o final me deixou 100% impactada, enfim. se você se interessa por história e gosta de ler romances que reescrevam os fatos históricos, esse livro é sucesso! fala sobre o colonialismo português, sobre o regime escravagista que continuou mesmo após a abolição, sobre os interesses dos grandes proprietários e tal. eu recomendo bastante! mas deixo aqui um aviso, porque fui pega de surpresa: caso você seja assim absolutamente pudico, se prepara porque tem umas cenas de sexo com umas descrições bem explícitas aí no meio. eu achei ótimo, mas pode ser que alguém não ache tão legal assim né, vai saber.. hahahaha

o livro foi lançado em 2003 e foi um marco na literatura portuguesa do século 21, em uma década o cara vendeu 400 mil exemplares. porra, isso é muita coisa!!! olha, nunca pensei que eu fosse ler um best-seller num curso de literatura na faculdade de letras, mas ainda bem que esse dia chegou. :)

terça-feira, 25 de outubro de 2016

100% exausta

nunca é exatamente uma delícia andar de ônibus por essa cidade cinza, mas hoje realmente a coisa se superou - negativamente falando, é claro.

pra começo de conversa, saí do conforto do meu lar nessa manhã fria e chuvosa e fui pra faculdade só pra fazer uma prova, na segunda aula. mesmo sem necessidade, fui no meu horário normal (ou seja, acordei 05h30 da manhã pra chegar na faculdade às 08h00...) porque quis usar esse tempo pra estudar. em casa eu me desconcentro muito fácil, porque tem muita coisa mais divertida pra fazer. mas sentada sozinha numa sala de estudos de outro prédio na faculdade, cercada unicamente pelo meu material, eu consigo estudar bonitinho. pois bem.

a prova começou às 10h00. como eu tinha estudado direito, li as questões e não tive problema em começar a responder quase de imediato. devolvi a prova pra professora inteiramente respondida às 10h40. o primeiro ônibus que eu pego pra voltar pra casa só passa uma vez na vida e outra na morte (ou de 30 em 30 minutos, como você preferir), então saí correndo pra chegar no ponto a tempo de pegar o ônibus das 11h. deu certo. sentei no banco, comi minhas bolachas, li meu livro (água viva - clarice lispector, caso alguém se interesse em saber) e cheguei no terminal às 11h30, o horário mais ideal possível. isso porque o horário previsto pro meu segundo ônibus sair do terminal e ir em direção à minha casinha era às 11h36. ideal, né? aí é que a gente se ilude...

essa linha de ônibus é tipo a pior do mundo inteiro, vive dando problema, mas como fazia muito tempo que eu não passava nenhum perrengue com ela, eu meio que esqueci desse detalhe e sequer cogitei a possibilidade de ficar parada no terminal por CINQUENTA MINUTOS esperando o ônibus aparecer e resolver, finalmente, me levar pra minha casa. sim, queridos, é isso mesmo que vocês leram: foram CINQUENTA MINUTOS de espera por uma porra de um ônibus em pleno terminal.

pra vocês terem uma noção, essa linha de ônibus não é uma qualquer, que passa por lugares aleatórios e, por isso, não precisa de muito carro rodando por aí. porra, os ônibus passam por um shopping, por um hospital público, por uma delegacia, por vários mercados, por pelo menos cinco escolas... sabe? e vai em direção a outro terminal, aliás. é uma puta linha importante! e é preciso dizer que o percurso entre esses dois terminais é, segundo o google maps, de uns 7 km. NÃO É LONGE, É PERTO PRA PORRA, NÃO TEM NADA QUE JUSTIFIQUE UMA HORA DE DIFERENÇA ENTRE A SAÍDA DE DOIS ÔNIBUS.

tinha uma porrada de idosos na fila do ônibus esperando essa caceta aparecer. em pé, porque o terminal não tem estrutura suficiente pra dar conta de 15 idosos sentados perto do ponto. também tinha uma porrada de gente que provavelmente se atrasou uma hora pra aparecer no trabalho, na escola, pra buscar o filho na creche, pra colar no pronto socorro do hospital, enfim. quem é que tem cinquenta minutos pra perder parado na porra de um terminal de ônibus hoje em dia? muita gente desistiu de esperar e foi atrás de outro ônibus, mesmo sem nem conseguir chegar diretamente no seu destino final, só pra não ficar plantado que nem um imbecil. eu continuei ali porque além daquele ser único ônibus que sai desse terminal e passa na avenida perto da minha casa, também tava chovendo. depois de ficar ali parada por trinta minutos, eu me recusei a fazer outro caminho e ainda tomar chuva na cara. preferi esperar até o final. 

o ônibus apareceu por volta de 12h15 e só saiu do terminal um pouquinho depois de 12h20. como tinha uma quantidade absurda de pessoas dentro dele e esperando por ele em quase todos os pontos por onde ele passa, o trajeto demorou um pouco mais que o normal e eu só cheguei em casa praticamente às 13h00.

também de acordo com o google maps, minha casa fica a mais ou menos uns 18 km de distância da minha faculdade. quando eu consigo pegar carona com o meu pai, a gente pega trânsito na marginal às 7 e pouco e, mesmo assim, demora só uns 45 minutos pra chegar. hoje eu demorei DUAS HORAS desde que entrei no ônibus depois da prova até a hora em que finalmente coloquei os pezinhos na sala de casa. AH, antes que eu me esqueça: como se não bastasse, pra coroar a história, ainda tinha uma barata dentro do ônibus. legal pra porra, né? ^^

depois os caras saem quebrando vidraça de banco, pixando patrimônio público e tacando fogo em ônibus e as pessoas insistem em dizer que não entendem os motivos pra tanto vandalismo. tem mais é que quebrar a porra toda, o bagulho já num funciona mesmo, que diferença faz? deixo aqui o meu mais sincero vai tomar no cu pra sptrans e pra essa porra de cidade mal administrada em que a gente vive. tá cada dia mais foda depender desse monte de serviço público lixo que a gente recebe. 

e por aqui eu encerro esse relato cheio de fortes emoções. beijos, boa noite e até a próxima.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

estado de alerta nonsense

eu sempre acordo antes da hora, parece que meu cérebro não consegue relaxar e eu fico em eterno estado de alerta (enquanto durmo, não necessariamente enquanto estou acordada), então às vezes eu acordo do nada, desesperada, pensando que me atrasei pra alguma coisa. na verdade não é só às vezes, é praticamente todo dia. normalmente acordo uns vinte minutos antes do despertador tocar, só pra ficar naqueles segundos de dúvida entre voltar a dormir ou não. eu sempre fecho os olhos e tento cochilar, mas o estado de alerta me impede. e se eu dormir agora e não ouvir o despertador quando ele finalmente tocar? etc e tal. (mesmo que seja feriado e ele sequer esteja programado pra tocar em horário algum.)

daí teve esse dia durante o beda em que eu acordei apavorada por volta de oito e meia da manhã pensando que não tinha nada pra postar aquele dia, nenhum texto programado, e que isso ia acabar com o meu projeto. provavelmente em pleno domingo, deitada no conforto da minha cama, ao lado do meu namorado, enrolada nas cobertas e ainda um tanto perdida de sono, e esse foi o meu primeiro pensamento. loucura, né? e a pior parte é que em vez de fechar os olhos, virar de lado, me aconchegar melhor nos braços do boy e voltar a dormir, eu peguei o celular e comecei a escrever um texto. com o brilho da tela no mínimo possível, pra não acordar meu namorado, eu inventei um assunto qualquer e inclusive programei o post pra ir ao ar num determinado horário, pra não correr o risco de esquecer de publicar.

na hora isso parecia a coisa mais óbvia e natural a se fazer, mas depois fiquei pensando no tamanho do absurdo que foi isso. é assustador o quanto a gente se deixa consumir e contaminar por umas bobagens que não fazem o menor sentido, né? pelo amor da deusa, onde é que já se viu perder o sono por causa de post pro blog. pra esse blog, que não me traz nenhum tipo de lucro, que só me dá uma satisfaçãozinha pessoal. (e que é tão inha que realmente não justificaria acordar no meio da minha soneca pra resolver esse "problema".)

a paz de espírito, meus amigos, ela é realmente desejada por aqui. queria muito toda aquela vibe brega de calma na alma e afins, mas a cada dia que passa eu sinto que estou um passinho mais longe de alcançar essa caralha.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

nova óptica

depois de tantos anos usando aquelas lentes mágicas, quase milagrosas, ele podia finalmente se ver longe delas. ao tirar seus óculos e se olhar no espelho, um arrepio lhe percorreu a espinha. era a primeira vez em uma eternidade que ele se enxergava novamente, de verdade, sem precisar da ajuda de nenhum outro utensílio além de seus próprios olhos castanhos. agora, sem os seus óculos, ele precisava se reinventar. ou melhor, precisava se redescobrir. 

aquelas lentes estavam há tanto tempo atreladas ao seu corpo, ao seu ser, que ele estava apreensivo de se ver afastado delas. será que seus olhos dariam conta de enxergar sozinhos toda a loucura que os cercava? afinal, eles estavam desacostumados a lidar com tantas informações por conta própria. parado em frente ao espelho sujo do corredor, ele chegou a pensar se aquela era mesmo a sua imagem real, se ele sempre fora daquele jeito, ou se a não-necessidade das duas ex-lentes mágicas teria modificado a sua figura. 

essa desconfiança era motivada por uma percepção diferente da realidade, já que agora a sua perspectiva não estava mais emoldurada por uma armação arredondada. antes, além de melhorarem a sua visão, os seus óculos também serviam como escudo: eram uma barreira, ainda que quase imaginária, entre ele e o resto do mundo. sem eles, o rapaz sentia-se desprotegido, desamparado, quase nu. não poder se esconder atrás das suas lentes anti-reflexo eram uma experiência nova. ele, que sempre quis se ver livre da obrigatoriedade do uso dos óculos, percebeu que se apoiava neles e nos conceitos pré-fabricados que as outras pessoas traziam quando lidavam com alguém de óculos. era uma bobagem, sim, mas ele sabia que se aproveitava disso, bem lá no fundo. agora já não dava mais pra dizer pra colega de trabalho que ele não deu oi quando cruzou com ela no mercado porque não enxergava de longe, por exemplo. também não dava pra evitar a leitura de um texto, ou qualquer outra coisa desse tipo. não havia mais a possibilidade de se esconder atrás das lentes pra fugir de certas situações.

seus olhos não teriam mais folga nenhuma, agora eles precisariam funcionar sozinhos o tempo inteiro. ele sempre quis essa independência, mas agora que a tinha, ficou sem saber o que fazer com ela. 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

can i get an amen?

faz uns dias que eu falei aqui sobre o fim do meu estágio, né? e disse que voltaria no meio de outubro, ao final do meu contrato, pra contar um pouquinho mais dessa experiência. o fato é que eu tô antecipando em duas semanas esse post por motivos de: já não estou trabalhando mais!!! eu ainda tinha quinze dias de recesso pra tirar, então emendei essas mini férias com o final do estágio e TCHARAMMM, já tô lindamente deitada em berço esplêndido na minha casa enquanto escrevo isso daqui :)

olha, eu acho realmente que essa antecipação foi uma recompensa do universo por eu ter aguentado todo esse tempo sem cometer nenhum crime, sem ter xingado a minha chefe, sem ter tentado explodir a empresa. enfim, por sempre ter me comportado direitinho conforme o esperado apesar da vontade de sair chutando todos os baldes pelo caminho. ^^

eu fiz um ano de estágio na área de acessibilidade da tv cultura, redigindo e revisando os roteiros de audiodescrição da grade da emissora. mesmo depois de tanto tempo eu ainda não sei explicar o que é e como funciona exatamente a AD de uma forma adulta, então deixarei aqui a definição da wikipedia: "Audiodescrição é a uma faixa narrativa adicional para os cegos e deficientes visuais consumidores de meios de comunicação visual, onde se incluem a televisão e o cinema, a dança, a ópera e as artes visuais. Consiste num narrador que fala durante a apresentação, descrevendo o que está a acontecer no ecrã durante as pausas naturais do áudio e por vezes durante diálogos, quando considerado necessário". é um negócio muito legal, de verdade. caso alguém se interesse em saber mais, vale a pena dar uma pesquisadinha nas internets ;)

não entrarei em muitos detalhes aqui pra não correr o risco de me complicar futuramente, mas preciso dizer que, mesmo que esse estágio tivesse todo o potencial do mundo pra ser o maior sucesso possível, foi bem frustrante. primeiro porque não tinha nada a ver com o meu curso, então em vez de me ajudar a colocar os meus aprendizados em prática, só servia pra me tomar tempo e me impedir de estudar. segundo porque a carga de trabalho era ínfima, já que a empresa só tá preocupada em acessibilizar o mínimo de horas de programação exigido por lei, então se você coloca cinco (!) estagiários pra dar conta de meia dúzia de programas que costumam inclusive reprisar com uma frequência meio alta, é óbvio que essas pessoas vão passar muito, mas muito tempo mesmo sem ter absolutamente nenhum trabalho pra fazer. e terceiro porque o salário, meus amigos, ele era tão pequenininho que não parecia nem real.

mas não posso só falar mal, já que esperei meu contrato acabar porque quis, então algo de bom deve ter me motivado. né? então... a empresa é super pertinho da minha casa, o que é praticamente uma raridade, e isso foi uma das coisas que mais pesou pra mim. e como eu moro com meus pais e não tenho nenhuma conta fixa pra pagar, eu não preciso de um salário absurdo de alto (gostaria muito né, sinceramente, mas precisar eu num preciso não). isso sem contar o vale refeição e o vale transporte, que livraram d+ a minha cara. e a empresa é super tranquila, os horários eram tão flexíveis que se eu quisesse chegar às 10h da manhã na segunda e as 16h da tarde na terça ninguém ia se importar, se eu quisesse ir trabalhar de chinelo e pijama também não teria problema nenhum... então é assim: realmente não era o trabalho mais motivante do mundo (muito pelo contrário), mas tinha umas vantagens que eu simplesmente não podia deixar de levar em consideração.

cumpri meu contrato da melhor maneira possível, mas recusei estender por mais um ano porque eu simplesmente não podia me obrigar a continuar sofrendo dessa forma. foi com um alívio imenso que eu disse pra minha chefe que não tava interessada em renovar o contrato não, obrigada, valeu pela oportunidade mas eu realmente vou deixar passar etc. :)

fazendo um resuminho básico, o que eu aprendi com essa experiência foi:

1) um ano passa muito rápido - por mais que os (muitos) dias sem trabalho tivessem se arrastado, os meus doze meses na empresa voaram! meu contrato acabou mais rápido do que eu esperava, por mais que eu já estivesse frustrada e querendo ir embora desde o quarto mês hahaha

2) um chefe ruim pode acabar com a saúde dos funcionários - não que minha chefe fosse daquelas horríveis que a gente vê em filme, mas ela realmente não facilitava muito a nossa vida. tenho um monte de coisa pra elogiar nela também, mas a parte ruim era meio sufocante pra mim. tinha dias que eu contava os minutos pra ela ir embora, porque parece que ficava até mais fácil de respirar depois que ela ia. era todo dia uma dor de cabeça diferente, uma sensação bem ruim mesmo :(

3) muito trabalho é melhor do que trabalho nenhum - gente, sério, confia em mim quando eu digo isso!!! eu sei que provavelmente você tá lendo isso e tá achando que eu reclamo de barriga cheia, que ter tempo livre no trabalho é o sonho de qualquer um e coisa e tal. e eu até concordo com você, desde que isso aconteça esporadicamente e não todo santo dia por um mês. porra, imagina você passar seis horas do seu dia preso numa sala fechada, sentado na frente do computador, sem absolutamente nada pra fazer ali? desperdiçando 1/4 de dia, sendo inútil por todo esse tempo, quando você poderia estar em qualquer outro lugar do mundo que isso não faria a menor diferença... soma a frustração de se sentir desnecessário com a obrigação de estar ali mesmo assim por praticamente um ano e depois me fala se num é um negócio que desgraça a cabeça da gente!!

4) faça amizade com as pessoas que trabalham com você - já que é pra ficar seis horas do lado dessas pessoas sem ter nada de útil pra fazer, então vire amigo delas pra tornar a coisa toda pelo menos um pouquinho mais divertida. e mais fácil de ser vivida, também!!

pra finalizar, dá pra dizer que apesar de ter sido uma bosta, também foi uma experiência boa! esse primeiro estágio vai ficar guardadinho num lugar especial, disso eu tenho certeza. :)

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

livrinhos de 2016 - parte III

aqui estou eu, três meses depois, pra contar quais foram as minhas leituras no terceiro trimestre do ano! se você não viu as partes anteriores, é só clicar aqui embaixo pra conferir tudinho:

* parte I e parte II :)


JULHO (5 livros)
 Ruth Rocha conta a Odisséia - Ruth Rocha (2006)
eu deveria ter lido a odisseia no primeiro ano da faculdade, pra aula de estudos clássicos. é mais do que óbvio que isso não aconteceu, convenhamos. por mais que eu goste muito de mitologia e tenha aproveitado bastante as aulas sobre a odisseia, que é um texto incrível, é impossível uma pessoa no primeiro semestre ter motivação e paciência o suficiente pra ler esse negócio... daí descobri essa versão infantil na minha casa (a estante de livros dos meus pais é d+!) e ~dei início aos trabalhos~ de leitura dess segundo semestre com ela! a edição é ilustrada, toda bonitona <3 sendo pra crianças, a história é contada de um jeito bem simples e superficial, mas sem deixar nenhum detalhe importante de fora. é bem legal pra quem quer conhecer mas não tem saco pro texto original :)

 Til - José de Alencar (1872)
mais um livro que eu deveria ter lido em algum momento da vida, mas só fui criar vergonha na cara pra fazer isso anos depois... esse era leitura obrigatória pra fuvest, né? bom, digamos que eu só tenha lido agora no meu terceiro ano de usp mesmo hahaha eu conhecia a história e achava muito legal, mas é livro do romantismo né, eu nunca tive muito saco pra esse período literário, então posterguei a leitura. até que chegamos em 2016 e eu senti necessidade de ler mais livros brasileiros, daí aproveitei que ele era curto e já tava na minha estante mesmo... bom, a história parecia mais legal antes de eu ler, mas ainda assim gostei bastante. é meio arrastado, tem descrições demais, algumas partes são meio duvidosas... mas no geral foi uma leitura boa sim!

 O conto da Ilha Desconhecida - José Saramago (1997)
esse livrinho tem umas 70 páginas no máximo e foi o meu primeiro contato com o saramago. no início eu não tava gostando muito, na real eu tava bem incomodada com a maneira como ele coloca os diálogos no texto (eles aparecem do nada, entre vírgulas e com letra maiúscula pra demarcar onde começa a frase. tipo: ela disse Você vai, Eu vou e você, Também, então eles foram. bem assim, solto no meio do texto e sem ponto de interrogação nas perguntas, uma loucura! ah, não aparece em itálico lá não, fui eu que coloquei aqui pra diferenciar o exemplo do resto hahaha). aí quando cheguei mais pro final do livro eu percebi que já tinha sido cativada pela leitura, apesar do incômodo inicial. não tem nada de muito impressionante, a história é bem bobinha até, mas achei a mensagem um amorzinho!

 Cândido, ou o Otimismo - Voltaire (1759)
outro título da já velha conhecida série "era obrigatório em algum momento da vida, porém só li depois" :) esse aí eu me recusei a ler por um motivo muito simples: quem pediu foi a professora de literatura portuguesa (que é uma matéria que eu nem gosto) mas o autor é francês. ou seja, não tinha nada a ver com o curso, não entendi até hoje qual a necessidade desse livro naquelas aulas (ok, entendi o motivo, mas não precisava...). eu achei essa história tão esquisita e surreal e divertidinha que não resisti quando encontrei esse exemplar sendo vendido por módicos 11 reais. agora vem a pergunta que não quer calar: mas valeu a pena a leitura? olha... não foi ruim, mas ouvir a história sendo contada por alguém é infinitas vezes melhor. se por um acaso você estiver afim de ler algo absurdo e cheio de bizarrices e queira ler voltaire algum dia na vida, vai que é sua!

 O Assassinato de Roger Ackroyd - Agatha Christie (1926)
essa foi a minha segunda vez lendo agatha christie e eu gostei mais do que antes (falei aqui do primeiro livro dela que eu li). gosto muito desse tipo de história, fico maluca tentando desvendar o mistério antes do fim e quero ler sem parar até que tudo seja esclarecido. não sei se esse livro era realmente muito óbvio ou se meu contato com tantas séries policiais me transformou em uma boa detetive, só sei que adivinhei quem era o assassino desde o princípio, mesmo não fazendo ideia de como aquilo poderia ter acontecido. gostei de ir descobrindo o desenrolar dos fatos aos poucos e gostei de ver como as diferentes coisas se entrelaçavam na mente do detetive que desvendou o caso. fica aí a recomendação de um livrinho divertido pra fazer a mente trabalhar :)


AGOSTO (6 livros)
 O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman (2013)
eu nunca tinha lido neil gaiman, mas a mayra do all about that book vive recomendando o cara, então escolhi esse livro aleatoriamente porque achei a capa bonitinha hahaha e foi uma leitura muito feliz :) a história é tipo uma fábula, bem fantástica mesmo. você tem que se deixar entrar no universo do livro e abrir a cabeça pro que tá sendo narrado. não sei se é um livro que agradaria a todos, justamente por ter esse lado meio fantasioso, mas eu achei muito legal! senti vontade de ler no original, porque algumas coisas na forma como o texto foi construído não me agradaram tanto, mas acho que isso tem muito mais a ver com quem traduziu do que com o autor em si. de qualquer forma, gostei bastante e inclusive agarrei amor por uma das personagens, a lettie hempstock (falei um tiquinho sobre ela aqui)! 💕

 O Outro Pé da Sereia - Mia Couto (2006)
assim que eu comecei a ler já deu pra perceber que era amor. foi meu primeiro contato com esse autor e eu sinceramente só conseguia pensar "por que raios eu demorei tanto tempo pra ler algo do mia couto?" de tanto que eu gostei. o livro é incrível, tem umas cenas incríveis, os personagens são muito bons... e tem umas frases que eu queria tatuar na testa de tão absurdas! recomendo muito 💕💕

 Só Garotos - Patti Smith (2010)
peguei pra ler sem nem saber quem era a moça, pra ser bem sincera. achei a capa tão bonita que, quando minha amiga me perguntou qual livro eu ia querer de presente de aniversário, coloquei esse na lista. a princípio eu não tava curtindo, porque preciso admitir que tenho um total de 0 interesses nessa cena artística americana dos anos 60 (sorry not sorry), então eu lia com vontadinha de terminar logo pra me livrar da leitura. até que, quando eu percebi, me vi afeiçoada pelos personagens principais e acabei gostando de acompanhar a trajetória deles. aliás, por mais que eu não estivesse interessada at all em todas as informações que ela dava sobre os músicos/poetas/fotógrafos, imagino que essa seja justamente a parte legal pra maioria das pessoas que lê, né?

 O Auto da Compadecida - Ariano Suassuna (1955)
esse livro é a transcrição da peça de teatro e só não é mais amor porque eu não sou tão fã assim de ler peças, mas essa história é possivelmente uma das minhas preferidas do mundo e não tinha como não ser uma leitura absolutamente gostosa 💕💕 li em um dia, é super curtinho, recomendo bastante. mas sinceramente recomendo o filme ainda mais, por motivos de melhor filme da história do brasil ^^ 

 Anna e o Homem das Andorinhas - Gavriel Savit (2016)
escolhi aleatoriamente, também por causa da capa bonita (sou dessas sim, não nego) hahaha e foi uma surpresa muito feliz! a anna, gente, que menina mais incrível! 💕 a história é muito boa, você se envolve facilmente. mas a temática é bem pesada, apesar do nome fofinho. meu único problema com o livro foi em relação ao final, porque é daquele tipo de história que termina do nada, sem um fim propriamente dito - e eu raramente gosto disso. achei que o leitor merecia um final melhor, sabe? a menos que tenha uma continuação, aí sim aquilo seria justificável...

  Pai Rico, Pai Pobre - Robert Kiyosaki (1997)
infelizmente a gente não vive só de romance de ficção por aqui - gostaria muito! -, então um dos livros do tal projeto de leitura com o meu namorado foi esse aí (percebam que a última vez que falei desse projeto foi em abril e só voltamos agora.. hahah). mas gente, que desespero eu senti lendo esse livro. por mais que o autor realmente tenha passado alguns ensinamentos pertinentes em relação à inteligência financeira, eu quase joguei o livro longe umas 837 vezes. não sei o que eu tava esperando também né, mas não foi fácil lidar com o posicionamento desse autor que defende o capitalismo com unhas e dentes, que só faltou estampar a palavra "meritocracia" no alto de cada página.. pra não dizer que li só pra passar raiva, dá pra tirar 01 coisa de bom dessa leiturinha desgastante: a gente realmente fica mais consciente do que faz com o próprio dinheirinho, pelo menos....


SETEMBRO (6 livros e 1/5)
 Iaiá Garcia - Machado de Assis (1878)
livrinho da famigerada fase romântica do machado, antes de ele virar aquele escritor bom de vdd que a gente conhece. é super curtinho, li em uns 3 dias, mas sinceramente não me acrescentou em na-da. eita história sem graça! terminei de ler e a única coisa que eu conseguia pensar era "tá, mas qual foi o ponto desse livro???" asghdasash li pra matéria de literatura brasileira desse semestre, que é só sobre machado de assis - preparem-se pra ver muitos outros livros dele por aqui!

 Eu, Robô - Isaac Asimov (1950)
gostei tanto desse livro que não sei nem explicar!!! 💕💕 a princípio, cada capítulo foi publicado separadamente e depois um editor decidiu que seria uma boa ideia juntá-los em uma coisa só, daí o autor deu um jeitinho de ligar cada um deles e formar uma história una. eu gostei muito da escrita do asimov, gostei muito da temática do livro e achei incrível como as coisas se relacionam nessa história. o mais louco é pensar que isso foi escrito há tantos anos, quando a tecnologia tava longe de ser o que é hoje. dá até vontade de voltar no tempo só pra ser miga do autor e descobrir como foi o processo de criação desse universo hahah foi apenas um dos meus livrinhos preferidos do ano até agora :D ah, só pra constar: também é do projeto de leitura com o boy.

 Viva o Povo Brasileiro - João Ubaldo Ribeiro (1984)
é com muita dor no coração que eu preciso confessar que abandonei esse livro por volta da página 150 (o que parece muita coisa, mas não é quase nada, porque minha edição tem 790 pagininhas..) 💔 :~ o mais triste é que eu SEI que o livro é bom, porque a escrita do joão ubaldo é maravilhosa! mas acho que não era o momento certo, não rolou. eu tentei me forçar a chegar na página 200, pra ver se o livro me conquistaria, mas quando eu percebi que tava lendo 1 linha e pulando umas 7 só pra atingir a meta e poder largar de vez, eu achei mais fácil desistir logo pra não ficar sofrendo a toa. algum dia da vida eu vou dar outra chance pra essa leitura, mas não foi dessa vez :(

 Clube da Luta - Chuck Palahniuk (1996)
a maior vantagem de não ter assistido à maioria dos filmes que todo mundo já viu é que eu pude ler esse livro sem saber absolutamente nada da história (além da famigerada primeira regra do clube da luta), então foi um negócio sensacional hahaha eu li com o meu namorado e ele obviamente já tinha visto o filme (pq ele é normal hehe) então nossas experiências foram opostas. ele tava super empolgado querendo saber em que parte do livro eu tava pra saber minha reação quando o ~segredo~ da história fosse revelado e tal, foi bem legal. essa história é um absurdo e é contada de um jeito muito louco, já deu vontade de reler pra conseguir perceber melhor certos detalhes que a gente só dá atenção depois de finalmente descobrir qualé que é. achei 10/10 💕 ALIÁS, fica aqui a dica pra quem só viu o filme e gostou pra caramba: O LIVRO É MELHOR! ;)

 O Diário de Bridget Jones - Helen Fielding (1998)
esse livrinho nem tava na minha lista de próximos a serem lidos, mas 1) eu percebi que tava lendo pouca coisa de autoras mulheres 2) eu queria uma história mais leve, que não me deixasse tão desgraçada da cabeça quanto os livros anteriores, então quando me deparei com esse diarinho não fui capaz de resistir! confesso que às vezes eu ficava meio entediada de ver a contagem de calorias ingeridas pela bridget ao longo dos dias, mas de resto foi só alegria :) não foi aqueeela leitura arrebatadora, que roubou meu coração e coisa e tal, mas foi um amorzinho!

 Fundação - Isaac Asimov (1951)
por ter gostado tanto de Eu, Robô pode ser que eu tenha vindo com muita sede a esse pote e me senti meio desiludida com essa leitura hahaha o asimov é foi um baita escritor, isso não dá pra negar nem que eu queira, mas o livro é muito confuso. a história é super legal, mas exige um grau de concentração além do que eu consigo atingir e, sendo assim, eu me perdi umas oitocentas vezes ao longo da leitura hahaha tem muito personagem, os anos passam muito rápido, acontece coisa d+.. e o leitor que não tem uma memória absurdamente boa pra decorar todas essas coisas fica tipo ~cego em tiroteio~ tentando entender como e quando tudo aquilo aconteceu hahaha bom, não é que eu tenha odiado, eu só não me empolguei. tanto é que nem vou ler os outros livros dessa série, só esse já tá muito bom pra mim ;~

 Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (1881)
pra fechar o mês (e o trimestre e o post!) escolhi essa releitura do amor!! <3 li lá em 2012, quando tava na escola, e gostei muito. agora meu professor de literatura brasileira da faculdade vai trabalhar a obra do machado com a gente e eu não podia deixar de reler pra matar a saudade que eu tava desse narrador absurdo que é o brás cubas! não preciso nem dizer que eu recomendo, né? 💕




e os resultados parciais desse trimestre são:

 livros terminados 17 x 1 livros abandonados
 literatura brasileira 6 x 12 literatura estrangeira (1 portuguesa, 3 britânica, 1 francesa, 1 moçambicana, 6 americana)
 livros lidos no kindle 10 x 8 livros físicos
 autoras mulheres 4 x 14 autores homens :(
 releituras 1 x 17 livros novos

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ela não queria ter dito sim

giovanna aceitou o convite por impulso, sem pensar muito a respeito. ou talvez tenha sido por vergonha de recusar, já que ela sempre aprendeu que não podia magoar os sentimentos dos rapazes - muito menos daqueles que se interessaram por ela. seria quase um sacrilégio dispensar um moço bonito, rico e que queria levá-la pra jantar num restaurante caro e badalado. mesmo que ela não tivesse o menor interesse de passar esse tempo com ele, o correto era dizer sim. e foi isso o que ela fez. o problema é que, por mais que uma voz chata e insistente não parasse de ressoar na sua cabeça afirmando que esse encontro era uma grande oportunidade, seu coração gritava o contrário. a cabeça dizia uma coisa, enquanto o coração entrava em colapso só de pensar em perder essa batalha. desesperado, ele batia a toda velocidade, pra ver se surtia algum efeito. e a cabeça de giovanna continuava com aquela mesma ideia torta. batendo descompassado e dificultando a respiração da menina, seu coração implorava por ser ouvido.

o convite de rafael era para dali a cinco dias. depois de dizer sim, para tentar acalmar seu coração, giovanna pensou que teria tempo suficiente pra amadurecer essa ideia e, por fim, se convencer de que era uma boa sair com esse cara. mesmo sem a menor vontade, mesmo sendo só porque todos julgavam correto ("você não pode dispensar um moço bonito, rico e que quer te levar pra jantar num restaurante caro e badalado", eles diziam).

durante os cinco dias, a menina viveu esse conflito. era uma luta árdua, já que nem cabeça e nem coração pareciam abrir mão de vencer. ambos se esforçavam ao máximo pra falar mais alto, deixando giovanna com seus nervos à flor da pele. e o rafael? você deve estar se perguntando. bom, ele continuou sua vida normalmente. sequer pensou no assunto por muito tempo, só avisou os amigos que não poderia sair com eles no sábado porque tinha marcado de jantar com "a gostosa da giovanna, aquela loira, amiga da carol". o rafael estava assim tão tranquilo porque isso, pra ele, não era nada demais. ele sempre saía com meninas bonitas, ficava com elas por um tempinho e, quando elas finalmente se envolviam, ele pulava fora. nada demais. 

tinha sido combinado que o rapaz buscaria giovanna na casa dela às 19h. no meio da tarde de sexta feira a menina estava à beira de uma sincope nervosa. por mais que a voz na sua cabeça fosse persistente e poderosa, seu coração pediu ajuda: agora seu estômago revirava e sua pele suava frio só de pensar em jantar com rafael. a comida não seria um problema, o lugar menos ainda. problema mesmo seria ficar frente a frente com aquele cara desinteressante, egocêntrico e babaca. tendo que rir das piadas dele, tendo que sorrir quando ele fizesse algum elogio a respeito da aparência dela, tendo que aguentar o encontro pelo tempo que ele quisesse, já que ela estaria de carona - e, portanto, presa ao cara até o fim da noite.

num momento de iluminação desesperada, ela mandou uma mensagem mudando ligeiramente os planos. rafael ficou um tanto desconcertado quando leu aquelas poucas palavras que chegaram do nada, sem nenhum aviso prévio, mas não foi capaz de interpretar os discretos sinais que a vida tentava lhe dar. depois de horas sem responder o que ele havia perguntado a respeito da roupa que ela usaria no encontro, giovanna simplesmente ignorou a insinuação maliciosa do rapaz e enviou a seguinte mensagem: "não precisa me buscar em casa amanhã, a gente se encontra por lá. às 19h mesmo, tá? beijos!". ela não sabia disso, mas seus dedos agora também faziam parte do time de apoio ao seu coração. quando eles perceberam o tamanho do buraco em que ela havia se enfiado, se uniram pra tentar derrotar a cabeça da menina e aquele pensamento que não era dela, mas sim das pessoas que estavam ao seu redor. 

giovanna não entendia os motivos daquele seu estado emocional. durante toda a sua vida ela ouviu que aquele era o cenário perfeito: um moço bonito, rico e que queria levá-la pra jantar num restaurante caro e badalado! mas ninguém nunca tinha falado pra ela que isso vinha acompanhado do resto. daquele jeito sem graça, daquelas piadas preconceituosas, daquela mania insuportável de arrumar o cabelo a cada dois minutos. giovanna conversava com rafael pelo celular porque, pra ela, não era nada demais. a qualquer minuto ela poderia simplesmente parar de responder, silenciar as mensagens do cara e continuar seu dia em paz. mas ela não teria essa mesma chance pessoalmente, teria?

sábado, 19h00, restaurante caro e badalado. rafael foi pontual, ele quis chegar cedo pra escolher a melhor mesa e já começar a decidir o que os dois comeriam - afinal de contas, quem melhor do que ele pra escolher qual a melhor opção daquele cardápio tão chique, cheio de comidas que quase ninguém sabia a maneira correta de pronunciar o nome? 

às 19h30, começando a se cansar daquela espera, rafael mandou uma mensagem pra giovanna, perguntando se ela ainda demoraria muito pra chegar. "o antepasto de atum selado com gergelim que eu escolhi pra gente vai esquentar se você não chegar logo", ele disse. sentada no sofá da sua casa, usando o seu pijama mais confortável, giovanna leu a mensagem e gargalhou. ela riu até chorar, colocando pra fora de seu peito toda a angústia vivida naqueles cinco dias. com a maior tranquilidade possível, ela respondeu que houve um imprevisto e que não não seria possível encontrar com ele no restaurante. depois de enviar, ela bloqueou o número do cara, voltou a prestar atenção no seu filme preferido e comeu toda a pipoca que encontrou pela frente.

sorte da giovanna que, depois de muito esforço, o coração venceu. e o rafael? você deve estar se perguntando. bom, pra não perder a viagem, ele escolheu o vinho mais caro da casa, comeu um daqueles pratos com nome que ninguém sabe pronunciar e mandou mensagem pra larissa, perguntando se podia passar na casa dela dali a duas horas. ela disse que sim.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

sem máscara não existe rosto

uma das matérias da minha grade escolar no segundo ano do colegial era psicologia. parece uma ideia muito boa né, ensinar uns conceitos básicos pra adolescentes que precisam desse tipo de direcionamento pra conseguir entender melhor como os seres humanos funcionam etc. mas todo mundo sabe que a escola sempre estraga tudo o que podia ser legal, então é óbvio que era bem mais ou menos. apesar disso, a professora era uma fofinha e eu realmente cheguei a aprender algumas das coisas que ela tentava ensinar. lembro com uma certa clareza das aulas sobre os mecanismos de defesa, porque fiquei meio descaralhada da cabeça com toda essa história de ego, freud, psicanálise e tal.

hoje em dia a minha maior defesa é sair por aí sorrindo o tempo inteiro, por todo e qualquer motivo. não sei direito em qual dos mecanismos isso se enquadra, mas funciona muito bem.

a coisa mais comum é ouvir alguém me chamando de risonha, falando que eu tô sempre com um sorriso bonito estampado no rosto. e é bem verdade mesmo, mas quem diz isso é porque me conhece o mínimo possível. é quem só tem acesso ao lado de fora e não faz ideia do que se passa no lado de dentro. é como se o que está por trás do sorriso não existisse.

não importa que por dentro eu esteja despedaçada, desesperada, gritando, sangrando, implorando por socorro ou xingando até a última geração da pessoa que está na minha frente. só o que importa é o sorrisinho. aliás, quanto maior a quantidade de dentes aparentes na hora de sorrir, melhor.

não sei quando eu desenvolvi essa técnica de fingir que tá sempre tudo ótimo, como se eu fosse a pessoa mais positiva do mundo, mas isso é o que me ajuda a enfrentar todas as situações desgastantes. as pessoas tendem a te tratar melhor se você sorri, então essa foi a melhor maneira que eu arranjei pra me proteger. se você tá mal e demonstra isso, ninguém quer te ajudar. todo mundo só quer se meter na sua vida ou por curiosidade ou pra te criticar, nunca pra realmente tentar deixas as coisas mais fáceis pra você. a partir do momento em que você demonstra que tá tudo bem, mesmo que por dentro você esteja quebrada em doze mil pedaços, todo mundo te sorri de volta.

no fim do dia dá vontade de gritar e botar pra fora tudo o que eu me esforcei pra tentar esconder, mas o máximo que eu faço é deitar a cabeça no travesseiro e derrubar meia dúzia de lagriminha silenciosa pensando no quanto de transtorno eu consegui evitar só por vestir essa máscara sorridente. é desgastante fingir ser uma coisa que você não é, mas o pior de tudo é que compensa.

sábado, 24 de setembro de 2016

talvez eu não precise falar disso

já diria machado de assis (no conto "o espelho", publicado em 1882):

"Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata."

se até machado (ou melhor, a personagem criada por ele hehe) evitava dar opinião pra não ter de discutir, imagina eu?

opinar sobre assunto polêmico é algo que eu realmente evito a qualquer custo, seja na internet, seja na vida real. não que eu não forme opiniões sobre as coisas - às vezes passo mais tempo do que deveria pensando a respeito de besteiras tipo crowdfunding pro zebeléo -, mas eu simplesmente acho que é muito mais fácil evitar a fadiga. independente do que você disser e do contexto em que a sua fala estiver inserida, alguém SEMPRE vai querer rebater. e convenhamos que não é sempre que você tá disposto a respirar fundo, fazer cara de alface e ignorar a intervenção não solicitada. na maioria dos casos, o nosso primeiro impulso é comprar uma briga imbecil só porque alguém não concorda com a nossa opinião.

pra fugir desse tipo de situação deselegante, eu mantenho meus pensamentos aqui comigo. pessoalmente eu até converso um pouquinho sobre as polemiconas da semana com os amigos ou com os meus pais (eles acabam com o meu estoque de autocontrole pra evitar as briguinhas), mas na internet eu realmente evito ao máximo. tanto é que eu sequer comento nos posts dos migos quando eles opinam sobre algo, que é pra não me envolver em confusão alheia sem necessidade. mas aí chegou o gregório fazendo declaração pra clarice. e depois o rafinha bastos (!) meteu o louco do textão de amor também. e eu fiquei me coçando pra falar bobagem sobre isso...

(um pequeno parêntese: comecei a escrever no dia que o gregório publicou o texto dele na folha, mas foi meio difícil passar pro "papel" as coisas todas que estavam dentro da minha cabeça, por isso a demora.)

vi um zilhão de pessoas comentando cada uma dessas declarações de amor, falando qual delas tinha sido a melhor, qual delas era mais verdadeira, ou qualquer coisa do tipo. eu sequer pensei sobre isso, já que qualquer demonstração de amor é mais do que válida. e né, quem sou eu pra julgar a maneira como cada um enxerga o amor e os seus relacionamentos? aliás, já pensou se eu compartilho o post do rafinha bastos na minha timeline falando se concordo/discordo e me aparece alguém pra retrucar, com uma opinião contrária? acho que eu desmaio de tanto desgosto. a única forma que eu sei de falar sobre esse tipo de assunto é, assim como o personagem do machado de assis ali de cima, contando um causo de minha vida.

juro que me vi tentada a fazer isso, a fazer textinho falando sobre ex namorado (tal qual o gregório, porque sobre o namorado atual, que nem fez o rafinha bastos, eu já escrevo com uma frequência alta até demais). mas fiz o que muita gente tem dificuldade de fazer - botei a mão na consciência! - e vi que não fazia o menor sentido falar sobre isso. por mais que às vezes eu queira, porque foi uma parte enorme da minha vida, já foi. falar sobre isso causaria transtorno unicamente pra mim mesma, então eu preferi deixar pra lá. eu definitivamente não preciso falar disso.

(mas se alguém me perguntar a respeito, não tenho nenhum problema em falar sem parar sobre esse assunto. mesmo que neste caso, dando margem pra alguém vir aqui retrucar falando bobagem, eu realmente prefira evitar.)

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

um transtorno que eu preferia evitar

a coisa que mais tem me irritado ultimamente é pegar ônibus de noite, cansada, louca pra chegar logo em casa, e entrar um grupo de adolescentes que acabaram de sair da escola. PITA QUE PARIU, que nervoso que eu sinto quando isso acontece. inclusive tô nervosa agora, só de pensar.

ônibus é meio desagradável em todos os momentos né, por infinitos motivos óbvios demais pra serem listados aqui, mas quando as pessoas que tão lá dentro junto com você são inconvenientes, o desconforto cresce uns duzentos por cento. aliás, gente inconveniente é um transtorno em qualquer situação e eu fico com vontade de cometer assassinatos sempre que elas aparecem no meu caminho, mas enfim. foquemos na questão dos adolescentes no ônibus às sete horas da noite.

adolescente é um troço sem noção mesmo, eu sei disso, eu também era (não tanto), mas me tira do sério o quanto eles cagam pro próximo. num tem respeito, não tem bom senso, não tem porra nenhuma. toda aquela vibe errada de "eu tenho 16 anos, eu faço o que eu quero e eu tô certo sim, ninguém manda em mim e ninguém tem nada a ver com a minha vida". na hora parece que isso faz todo o sentido, mas olhando de longe chega a dar um pouquinho de dó dessa ingenuidade. e raiva também, meu deus do céu, que raiva que dá!

você tá lá sentadinha no ônibus quase vazio, quase chegando em casa (faltam só 5 pontos pra você descer), lendo seu livrinho bem tranquila, quando de repente entram uns dez adolescentes gritando, falando bobagem, brigando, andando sem parar de um lado pro outro, colocando as mochilas nos bancos e ocupando o lugar de quem realmente quiser sentar. SABE? aí você tenta se concentrar no livrinho, tenta não se deixar levar pelo barulho dos xóvens, mas quando você se dá conta o ônibus tá parado ali naquele ponto há mais de cinco minutos, simplesmente porque o motorista precisou descer e dar esporro nos outros adolescentes que ficaram do lado de fora, no ponto. eles roubaram a placa do ônibus, só pela diversão. SABE?

se eu já ficava incomodada com esse tipo de atitude quando eu tinha essa mesma idade, imagina agora. (eu sempre fui meio tiazona, nunca vi graça em causar em lugar público só por motivos de sim. achava meio babaca, meio "porra, cê deve ter um vazio enorme no peito pra precisar desse tipo de coisa pra se preencher, hein? me poupe" e tal.)

nos dias da semana, a minha maior vontade sempre é voltar pra casa o mais rápido possível. o nervoso que eu sinto quando eles entram no ônibus é tão grande que eu cogito chegar mais tarde, pegando o ônibus seguinte, só pra evitar esse transtorno.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

só mais trinta dias

hoje falta exatamente um mês pro meu contrato do estágio acabar. 

percebi que, nesses longos 11 meses de trabalho, eu nunca falei nada sobre isso por aqui. mesmo passando grande parte de todos os meus dias na empresa, mesmo falando a respeito disso sem parar com as pessoas ao meu redor, mesmo xingando muito no twitter todo santo dia, por aqui eu nunca escrevi. não sei se porque eu não queria registrar nenhuma bobagem, ou se foi porque os sentimentos são muito intensos e conflitantes. só sei que hoje eu senti vontade de falar.

acabamos de voltar de uma semana sem trabalho, porque o sindicato entrou em greve e todos os estagiários da minha área foram dispensados. voltei sem vontade alguma, mas foi melhor do que eu esperava. apesar de todos os inconvenientes, foi um dia legal. legal porque finalmente eu trabalhei*, porque minha chefe foi embora cedo e o clima sempre fica muito mais leve depois que ela sai e também porque eu estava de bom humor. mas não legal o suficiente pra reconquistar o meu coração.

trabalhar nessa empresa foi uma das maiores decepções da minha vida. entrei lá com uma expectativa tão alta, achando que seria o melhor primeiro estágio do universo, mas não foi. muito pelo contrário, inclusive. tirando o dinheiro (pouquíssimo, por sinal) e os benefícios, não me acrescentou em nada. tem uns pontos positivos sim, mas nada que justificasse a renovação do contrato. aliás, minha chefe ficou chocada quando eu disse que não tinha interesse em renovar, acho que ela foi pega de surpresa. "mas por que você não quer? é muito chato aqui?", ela perguntou. senti vontade de gritar que eu não queria porque às vezes ficava tão insuportável que o único jeito de continuar lá sem matar alguém era saindo pra comprar comida e dar uma voltinha pela empresa, mas fiz a fina e respondi que "queria aproveitar pra conhecer outras áreas enquanto ainda falta tempo pra eu me formar, só isso". mal sabe ela.

daqui um mês, quando eu não estiver mais lá, eu falo mais a respeito. agora a única coisa que eu consigo pensar é que não vejo a hora desse dia chegar. pode ser que eu saia pra comemorar, só pra lavar a alma. quem sabe?


ps. vocês conhecem a história da jout jout e das empadinhas? ela disse que trabalhava num lugar e tava bem descontente, daí quando a coisa ficava muito ruim ela saía pra comprar uma empadinha, porque se você falar pra alguém que tá indo dar uma volta as pessoas te julgam, mas se falar que vai dar uma saidinha porque tá com fome todo mundo entende. quando ela percebeu, só pra fugir do trabalho, ela tava indo atrás de empadinha umas oitocentas vezes por dia. penso nessa história todas as vezes que eu chamo a minha amiga do trabalho pra ir comer alguma bobagem na lanchonete no meio do expediente só porque simplesmente não há mais condições de ficar dentro da nossa sala.


* eu trabalho em uma área bem ingrata. ficar sem nenhum trabalho pra fazer e passar as seis horas sentada na frente do computador matando o tempo com alguma bobagem qualquer é mais comum do que eu gostaria. foi por isso que eu me inscrevi em tanto canal de culinária no youtube, porque tenho muitas horas vazias na internet pra preencher. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

31/31: até que enfim!!!

antes de mais nada, sendo hoje um dia histórico, preciso começar esse post dizendo que: primeiramente (e eternamente) FORA TEMER.

pois bem. é com muita alegria no coração e uma sensação indescritível de alívio que eu posso finalmente dizer que chegamos ao fim do segundo beda da história deste blog. e provavelmente do último também, porque acho que já deu pra mim essa coisa de ser obrigada a subir um post por dia durante tanto tempo...

diferentemente do ano passado, dessa vez eu fiquei muito menos empolgada, muito menos focada e muito mais irritada. tinha dias que eu me sentia tão sufocada por causa do peso da obrigação que, lá no fundo, preferia excluir o blog e sumir da internet do que escrever qualquer coisa que fosse, olha que coisa absurda. e pra deixar tudo ainda mais gostosinho, agosto é justo aquele mês eterno, que demora oito décadas pra terminar, né? o ano tá voando, mas esse mês resolveu se arrastar na maior lentidão possível. que desespero!


mas pra não dizer que foi exclusivamente horrível, preciso admitir que, apesar da pressão, é muito bom terminar o projeto com sucesso, sem falhar, sem desistir. por mais que tenha sido bem difícil (afinal de contas, é desafio, né?) e por mais que, no momento, eu não queira mais fazer isso de novo, termino com um sorrisinho no rosto por ter conseguido. postei umas bobagens, mas também escrevi umas coisas que me deixaram satisfeita. o balanço foi positivo :)

pode ser que eu não dê as caras por aqui por algum tempo, pode ser que semana que vem eu volte pra falar de alguma coisa, não sabemos ainda. de qualquer forma, continuem de olho!!

terça-feira, 30 de agosto de 2016

mais um maluco pra entrar na minha lista

eu sei que já tá ficando repetitivo entrar aqui e se deparar com texto meu falando mal de professor, mas às vezes fica realmente impossível evitar. eu juro que tentei não falar sobre isso, pra terminar o beda com algum post mais legal, mas eu fiquei tão indignada com esse doido que não consegui tirar esse peso do coração de outra forma, fui obrigada a escrever pra ver se eu supero de uma vez por todas.

uma das matérias obrigatórias da grade do inglês desse semestre se chama estudos de cultura. quando você vê esse nome, cê pensa que o professor vai abordar aspectos culturais de lugares que falem a língua inglesa, certo? pois então, era essa a minha esperança em relação a essa matéria, mas eu não poderia estar mais enganada. fui procurar a ementa no site da universidade e o que tá escrito lá é:

"A disciplina visa traçar o desenvolvimento histórico do campo dos estudos culturais e apresentar aos alunos seus principais temas e abordagens. Para isso, trabalha os conceitos de Cultura, os modos de estudar as manifestações culturais e a diferença que faz a abordagem teórica dos estudos culturais na prática de análise. Seus focos são a formação dos estudos culturais, a abordagem materialista da cultura, exemplos de modos de analisar a produção cultural. A disciplina tem como objetivo fornecer um instrumental teórico que possibilite ao futuro professor ler e interpretar os fenômenos da cultura que o cerca e lhe dê condições de trabalhar com materiais de interesse e da vivência de seus alunos."

eu não entendi muito direito o que isso tudo quis dizer, mas acho difícil que seja o que o meu professor resolveu trabalhar ao longo do semestre...

pra começo de conversa, essa aula vai acontecer no prédio de outro curso, não no meu. por algum motivo que ninguém achou necessário explicar pros alunos, teremos de frequentar o prédio das ciências sociais pra ter nossa famigerada matéria obrigatória. mas enfim. a primeira aula que o bonitão deu foi dividida em 2 partes: a apresentação do programa e uma introdução, pra contextualizar os alunos. a parte da contextualização foi ótima, mas eu tava com muita vontade de morrer pra realmente conseguir aproveitar direito o que ele tava explicando.

o moço já começou falando que "essa matéria é bem aberta, o professor tem liberdade pra escolher o que ele quer trabalhar. eu particularmente optei por algo que eu gosto muito. caso vocês não gostem, paciência". no caso, ele optou por passar um semestre todinho falando unicamente sobre um filósofo alemão. novamente: numa matéria obrigatória da grade do inglês, no curso de letras, o professor vai falar sobre filosofia alemã. e vamos ter que assistir a uns filmes também, porque ele disse que se interessa mesmo é por cinema. como se não bastasse, o homem tá mais perdido que cego em tiroteio e não faz ideia de que turma é essa que ele tá lidando. estamos no terceiro ano da graduação, ele disse que ia exigir um nível alto de discussão nos nossos trabalhos porque já estamos no quinto ano, prestes a nos formar. também disse que falaria em português na aula, porque como era uma matéria optativa, pessoas de outras habilitações poderiam estar cursando e assim seria mais justo pra todo mundo. alguém avisou que na verdade a matéria era obrigatória do inglês mesmo, que ele tava equivocado, e a resposta foi basicamente isso aqui:  ¯\_(ツ)_/¯. ou seja, ele não podia se importar menos.

o método de avaliação desse professor é passar uma resenha por semana, sempre pra entregar no dia em que aquele texto será discutido - com a intenção clara de forçar todo mundo a ler o material que ele vai trabalhar na aula, claro. são 7 resenhas e cada uma delas vale 1 ponto. o trabalho final, valendo 3 pontos apenas, é a resenha de um filme. o professor disse que se a pessoa se contentar só com a nota obtida com as resenhas anteriores, não precisa nem se dar ao trabalho de entregar a última hahahaha

tudo isso já soa bastante absurdo pra mim, mas o que tá me deixando mais irritada agora é que ele não deu absolutamente nenhuma instrução sobre o que ele espera encontrar nas nossas resenhas. a única coisa que o cara disse foi "não quero que vocês copiem e colem, quero que também opinem". fim. não deu um foco, não deu uma luz, não deu um nada.

temos que entregar a primeira delas amanhã. eu fiz a minha hoje, no desespero, sabendo que não entendo nada do assunto abordado no texto e sabendo que vou entregar algo bem ruim, bem aquém do que se espera num ~nível alto~ de discussão filosófica. tomara que, em algum momento próximo, o professor caia na real e perceba que ele só pode estar bem louco se acha que essa é a melhor forma de ministrar a matéria. precisarei de muita força de vontade pra vencer esse semestre!

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

acordei, mas continuo sonhando

essa noite eu dormi um sono entrecortado de pequenos brevíssimos momentos de despertar. sono de quem divide a cama de solteiro, o único travesseiro e também a coberta. sono de quem poderia estar dormindo sozinha, mas estava aconchegada nos braços de outra pessoa. sono de quem precisava acordar constantemente pra trocar de posição, porque dividir a cama de solteiro, o travesseiro e a coberta é sinônimo de braço dormente, de frio quando a outra pessoa rouba a coberta de você, de calor quando você rouba toda a coberta dela e de socos e chutes inconscientes e inesperados.

a cada vez que eu acordava, eu abria os olhos só pra ter a certeza de que você continuava ali. só pra te ver por uns instantes e poder dormir de novo com a sua imagem fixada na minha retina. só pra aproveitar ao máximo o nosso tempo juntos. a cada vez que eu acordava, a gente se entrelaçava mais e mais. não sei se você percebia a minha movimentação e se mexia de propósito, ou se o seu corpo se movimentava involuntariamente em resposta ao meu, mas, a cada vez que eu acordava, você trocava de posição junto comigo, pra gente se ajeitar melhor.

hoje nós acordamos juntos, porque dormimos abraçadinhos em comemoração ao nosso dia. hoje nós estamos a exatamente um mês de completar três anos inteiros de namoro. hoje você levantou mais cedo do que precisava pra me fazer companhia no café da manhã e me dar tchau na porta da sua casa. hoje eu te amo mais do que nunca.



<3

domingo, 28 de agosto de 2016

viciei em anavitória

música é uma coisa de louco, né? é muito difícil, praticamente impossível, encontrar alguém que diga com todas as letras que não gosta de ouvir. música deixa o coração quentinho, enche o peito de amor. quando a gente gosta muito de alguma em específico dá até vontade de transformar o som em algo material, algo concreto, pra gente conseguir abraçar.

mas mesmo gostando muito, eu sou um tantinho relutante em relação a ouvir coisas novas. não sei porque, mas sempre fico com um pé atrás, com ~preguiça~ de dar uma chance a algo que eu nunca ouvi. sei que é bobagem, não consigo nem explicar o motivo da minha cisma, mas eu realmente sou bem resistente no que diz respeito a ouvir bandas que eu não conheço. 

sendo assim, quando eu vi uma amiga minha falando bem de anavitória, eu nem dei bola. "tá bom que duas meninas desconhecidas com esse nome meio brega valem a pena o meu esforço, viu? num vou nem tentar". mas elas valiam sim. e não foi esforço nenhum, muito pelo contrário.

tô sem palavras pra essas meninas

já que eu só ouço as mesmas coisas sempre, tem hora que enjoa, né? chega num ponto em que eu mal consigo pensar nas bandas que eu gosto, porque já tô saturada daquelas músicas, daquelas vozes. esses dias eu criei coragem vergonha na cara e foi procurar alguma coisa diferente pra ouvir. eu queria música brasileira e mais calminha, não tava afim de escutar nada ~dançante~. queria algo que fosse simplesmente gostosinho de ouvir. daí eu lembrei das duas bonitas e por algum motivo eu senti que aquela era a hora de finalmente escutar uma música delas. essa foi a melhor coisa que eu podia ter feito.

logo na primeira música eu senti que tinha acertado em cheio. ouvi o EP das meninas, assisti o vídeo de um showzinho delas e fiquei bem feliz. dias depois eu descobri que elas tinham liberado o disco novo no youtube, daí eu me animei pra ouvir novo. e desde então eu já escutei esse cd umas quatrocentas vezes, inclusive em looping. acho que não consigo mais largar, o som é amorzinho demais.

vou deixar aqui algumas das que eu mais gosto :) fora de ordem de preferência, é claro.



"me beija que eu gosto da tua textura, do teu gosto frutado, sorriso colado, o compasso acertado, o ritmo acelerado encaixado no meu..."



"é tão particular o meu encontro quando é com você, o meu sorriso quando tem o teu pra acompanhar, as minhas histórias quando você para pra escutar..."



"fiz de mim descanso pra você, te decorei, te precisei, tanto que esqueci de me querer, testemunhei o fim do que era agora..." 


bônus track:


olha esse cover!!!!!! "é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir..."


gente, sério, olha que coisa mais linda a capa desse disco!!! elas são maravilhosas, as vozes delas são a coisa mais gostosa do mundo de ouvir... a única coisa que eu consigo dizer é: pena que eu demorei tanto tempo pra descobrir essas duas <3
   

sábado, 27 de agosto de 2016

a famigerada história das mochilas - parte 2

* no post de ontem eu contei a primeira parte dessa história louca. se você não leu ainda, clica aqui e confere o começo do causo antes de ler a continuação e o desfecho ;)

bom, como eu tinha dito: a coisa descambou quando a professora da outra classe descobriu que o menino deveria estar lá, porém não estava. nós sequer pensamos no professor da outra classe quando arquitetamos o nosso plano brilhante, nossa única preocupação era o professor da nossa própria classe. por mais óbvio que isso fosse, não passou pela nossa cabeça que o problema maior estaria do lado de lá. e nós não tínhamos como saber, porque estávamos com a porta da classe fechada, mas os inspetores já estavam todos sob aviso, todos procurando o menino desaparecido.

ou seja, quando ele saiu da sala e correu em direção ao banheiro, ele sequer chegou lá. o coitado foi interceptado no meio do caminho. nós, as pessoas da minha classe, nem saímos no corredor nesse intervalo de aula, pra evitar ao máximo qualquer tipo de problema. na nossa ingênua mentalidade, dava pra escapar ileso dessa aventura. ninguém nem cogitou que o menino receberia algum tipo de punição por ter desaparecido durante uma aula. mas nós obviamente estávamos bem enganados quanto a isso...

tava todo mundo um tantinho nervoso com a situação, mas como aparentemente estava tudo sob controle, a gente seguiu em frente como se nada tivesse acontecido. até que, no meio da aula seguinte, a diretora e a coordenadora da escola apareceram. eu até prendi a respiração por alguns segundos, porque não sabia como reagir, mas mantive a pose de quem não tinha nada a esconder (como eu disse, eu sou bem cara de pau quando a situação pede).

num primeiro momento, elas entraram unicamente pra convocar dois amigos meus, que faziam parte do meu grupinho, pra ter uma conversa em particular na sala delas. foi aí que eu entrei em desespero. quando eu vi os dois saindo por aquela porta, um buraco abriu no meio do meu estômago e eu quase fui sugada lá pra dentro. mesmo sem saber exatamente o motivo deles terem sido chamados, eu sabia que era porque a culpa tinha caído sobre eles. fiquei muito nervosa, quis ir atrás, enfim, eu não conseguia acreditar que meus amigos seriam punidos por uma coisa que eu também tinha feito. o sentimento de culpa não era por ter participado dessa bobagem, era por ter permitido que os meus amigos recebessem o ~castigo~ sozinhos.

depois de um tempo eles subiram de volta pra classe e contaram pra gente que o tal do menino que cabulou a aula realmente tinha jogado a culpa em cima deles dois, mas que elas não acreditaram que aquilo tudo tinha sido feito só por duas pessoas. quando a coordenadora reapareceu, ela tava acompanhada da professora que percebeu o sumiço do menino. era a professora de português, a minha preferida. eu quase me senti arrependida quando vi a cara dela de decepção, mas no fundo eu ainda tava me sentindo muito feliz por ter conseguido distrair o professor de geografia a ponto do menino escapar da nossa classe sem impedimentos.

a professora de português perguntou quem mais tinha participado do episódio das mochilas, porque ela também não comprou a ideia de que só dois meninos fossem os responsáveis. só eu e mais duas ou três pessoas levantamos a mão. todos os outros trinta alunos, que haviam cedido as suas mochilas e se divertiram tanto quanto nós, fingiram que não sabiam de nada. a professora perguntou de novo, mas ninguém mais se manifestou. ela disse que tinha certeza absoluta que todo mundo que tava ali tinha participado, que seria impossível alguém não ter visto o que aconteceu numa sala daquele tamanho, e deu a entender que admirava nossa coragem por ter admitido. o sorriso de triunfo apareceu instantaneamente no meu rosto, mesmo sabendo que algum tipo de punição ainda estava por vir.

quando o castigo chegou, eu mal acreditei. provavelmente a coordenação deve ter sugerido algo mais rígido, mas a professora de português teve uma outra ideia (ela foi quem se sentiu pessoalmente atingida pela nossa ~traquinagem~, enquanto o professor de geografia NUNCA se manifestou a respeito). a professora pediu pra cada um daqueles que levantaram a mão escrever uma redação (!) contando como se sentiu (!) ao fazer o que nós tínhamos feito. nossa pena por ter soterrado o menino da outra sala por cinquenta minutos foi fazer um textinho sobre os nossos sentimentos. ESSE FOI O CASTIGO MAIS DE BUENAS DA MINHA VIDA TODA. pra resumir a minha redação, eu disse que tinha consciência de que foi uma atitude errada, mas que não estava arrependida, porque ninguém tinha se machucado e a gente tava só brincando. também disse que me senti feliz enquanto a coisa acontecia e que depois me senti brava pra cacete, porque o menino tava tirando o corpo fora e querendo jogar a culpa toda pra cima dos outros, como se ele não tivesse sido o centro da coisa toda.

quanto à punição do próprio menino das mochilas, ele teve que dar a aula de português que ele perdeu HAHAHAHA a professora juntou as duas classes e o coitado foi lá na frente explicar pra nós o conteúdo que ele não teve, porque infelizmente inventou de ficar escondido na sala da frente. foi apenas maravilhoso.

eu já não era muito fã desse ser humano antes do tal acontecido, mas depois disso eu peguei uma antipatia tão grande pelo rapaz que eu desviava o meu caminho só pra não precisar cruzar com ele. caso o menino não tivesse tentado ~incriminar~ os meus amigos, ele poderia finalmente ter sido incluído no nosso grupinho de uma vez por todas. como ele foi cuzão, eu nunca fui capaz de parar de sentir vontade de socar a cara dele.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

a famigerada história das mochilas - parte 1

quando eu tava escrevendo esse post aqui, fiquei lembrando do turbilhão de acontecimentos da época da escola e me deu vontade de contar uma outra história, que é absolutamente absurda e que provavelmente é uma das minhas preferidas da vida, daquelas que eu guardo com muito carinho na memória e no fundo do coração. dá um pouquinho de vergonha também, mas preciso admitir que o sentimento que prevalece é a saudade desse momento maravilhoso (sem falar do orgulho que eu ainda sinto dessa nossa imbecilidade juvenil bem sucedida).

na oitava série (que eu infelizmente já era obrigada a chamar de nono ano, pro meu desgosto), lá nos longínquos anos de 2009, eu tava 100% focada em dar risada com os meus amigos, matar aulas, fazer guerrinha de papel e comer uns salgadinhos no intervalo. prestar atenção nas aulas, estudar pras provas e tirar nota eram as menores das minhas preocupações. no caso, eu não me preocupava com essas coisas de jeito nenhum. sabia que dava pra continuar passando de ano tranquilamente, com várias notas azuis no boletim, mesmo sem realmente me esforçar pra isso. foi o ano em que eu mais fiz bobagem, o ano em que eu mais me diverti.

o dia mais emocionante foi, de longe, o dia das mochilas. o mais estapafúrdio, também, porque até hoje eu me pergunto como é que nosso plano funcionou - ou quase.

tudo começou no intervalo das aulas. meus amigos e eu estávamos sentados numa mesa na cantina, como num dia qualquer. até que tocou o sinal, indicando que tava na hora de voltar pra sala, e alguém disse que não queria ir pra aula, que queria continuar por ali. tinha um menino de outra classe que às vezes andava com a gente, mas ninguém gostava muito do cara. quando ele disse que também mataria aula, nós desistimos. numa vibe bem "se ele vai ficar, eu não quero. prefiro ver aula de geografia" (nós tínhamos 14 anos, era todo mundo meio escroto).

mesmo que a gente já tivesse se decidido a subir pra aula, mesmo que ninguém tivesse dado bola pra ele, o menino insistiu bastante, provavelmente porque queria dar uma de transgressor. pra ver se o bendito parava de encher o saco, alguém sugeriu que ele matasse aula sozinho mesmo. o menino se animou, mas pediu ajuda pra escolher um lugar pra onde ir. algum ser abençoado (talvez eu mesma, vai saber?) sugeriu que ele ficasse escondido na nossa classe (lembrando que ele era da outra) durante essa aula, porque já tinha passado um pouquinho do horário e seria difícil ele conseguir escapar dos inspetores. por incrível que pareça, ele achou que era uma boa ideia.

aí nós tínhamos um grande problema em mãos: onde esconder um menino que era de outra de outra classe? ele não podia simplesmente sentar ali no meio da gente, qualquer professor perceberia instantaneamente. não consigo lembrar quem foi o ser iluminado que surgiu com a solução, mas é uma pessoa que sinceramente merece palmas. alguém sugeriu que o menino sentasse no chão atrás de uma das carteiras e que a gente colocasse todas as nossas mochilas em cima dele, pra esconder o rapaz. E ELE ACEITOU SE SUBMETER A ISSO. não sei se a imagem ficou muito clara, mas vou tentar explicar melhor: o menino sentou no chão no vão entre duas carteiras e se encolheu ao máximo. então a gente colocou uma cacetada de mochila em cima dele, tipo umas vinte (ou mais, provavelmente) e fez tipo uma barricada, porém com ele escondido ali embaixo. era tipo isso, só que com mochilas no lugar dos sacos:

(vamos ignorar o contexto da imagem da cima e qualquer outra coisa nela que não seja a barricada em si, fazendo o favor!)

a aula tinha duração de CINQUENTA MINUTOS. e o menino ficou lá embaixo soterrado esse tempo todo. eu nunca entendi se ele realmente tava de boa, se ele tava com medo demais de sair de lá antes da hora certa e ferrar tudo, ou se ele só não queria ser o estraga prazeres da vez. de qualquer forma, o coitado ficou lá sem reclamar, sentadinho, soterrado. e às vezes dava pra ver uns fiozinhos de cabelo escapando pelo meio das mochilas, dava pra ver a barricada subindo e descendo conforme ele respirava. eu tava tão nervosa com essa situação toda que não conseguia parar de rir. mas não era uma risada gostosa, natural, de quem tá se divertindo. era aquela risada de quem tá absurdada demais com a situação pra conseguir ter outra reação, foi uma das coisas mais surreais que eu já vi na vida. 

bom, passados os infinitos cinquenta minutos, a aula acabou. aí a gente precisou dar um jeito de tirar o menino dali sem o professor perceber, o que me parecia completamente impossível, porque a sala não era tão grande assim e o professor obviamente ia ver uma pessoa saindo de dentro de uma montanha de mochilas. eu sou bem cara de pau, então fui a escolhida pra ir conversar com o professor e tentar prender a atenção do cara enquanto o coitado fugia de fininho. fui lá com a minha apostila tirar alguma dúvida qualquer, que eu inventei na hora mesmo, e o homem ficou tão feliz com o meu suposto interesse na matéria que o plano funcionou. MANO, o menino conseguiu sair da sala e correr pro banheiro sem o professor perceber absolutamente nada! eu ainda não consigo acreditar que o cara não percebeu, continuo achando que ele simplesmente preferiu evitar a fadiga de lidar com essa situação e deixou a bomba estourar na mão de outra pessoa.

o menino finalmente saiu da sala e correu na direção do banheiro, tudo conforme o plano. o problema é que a professora que estava dando aula na sala dele sabia que ele tava sumido. a mulher fez a chamada e, quando perguntou por ele e não obteve resposta, as pessoas contaram que ele não tinha voltado do intervalo. foi aí que a coisa descambou...


* como essa história é longa e esse post já tá enorme e eu preciso facilitar o meu próprio lado nesse bendito desafio de 01 texto por dia, deixo a continuação pro post de amanhã. ;)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

fotos antigas, liberdade e amor

aqui em casa tem uma caixa enorme repleta de álbuns antigos, com fotos desde a época em que meus pais eram novinhos até a minha infância. uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida é ver essas fotos. por mais que eu já tenha praticamente decorado até a ordem em que elas aparecem dentro dos álbuns, a sensação é sempre maravilhosa. me transporto pra dentro das imagens, revivo lembranças há muito esquecidas, invento histórias pros momentos que eu não vivi... me dá um calorzinho no peito, fico transbordando de sentimentos bons.

da última vez que eu olhei essas fotos, fiz isso com um carinho ainda maior: separei as mais especiais. com o meu celular, tirei fotos das minhas escolhidas. sendo assim, agora elas estão sempre comigo, ao alcance da minha mão. quando eu quiser matar as saudades, independente de onde eu estiver, mesmo que seja muito longe da caixa, elas estão pertinho de mim.

analisando esse monte de foto antiga, deu pra concluir algumas coisas a respeito da minha família: meus pais tiveram péssimos cortes de cabelo, meu pai usava umas roupas muito estilosas, minha mãe era absolutamente linda, meu irmão foi uma criança muito fofa e eu, em alguns momentos, parecia um menininho.

gente, sério, olha isso:


parece muito um rapaz, mas eu juro que sou eu. por muitos anos eu olhei pra essa foto e fiquei seriamente na dúvida. precisei da confirmação da minha mãe pra finalmente conseguir aceitar que essa criança com cara de sono e cabelo bagunçado era euzinha mesmo e não algum primo, ou outro alguém simplesmente muito parecido comigo.



aparentemente meus pais não eram desses que só podiam vestir a filha menina com roupas cor de rosa, lacinho no cabelo e vestidinho com estampa de flor. por mais que minha mãe gostasse sim dessa história de me vestir igual bonequinha (eu tinha uma chupeta de cada cor pra combinar com os meus mais variados looks ^^), meus pais tinham plena consciência de que, antes de qualquer coisa, eu era uma criança. usava boné em vez de chapéu com babadinho, ficava sem camiseta em vez de usar a parte de cima do biquíni (até porque não há a menor necessidade de uma criança de 2 anos cobrir os peitinho, né? sem contar que deve incomodar pra cacete) etc etc etc. 



daí eu cresci e quis usar um pijama comprido e listrado de azul marinho e branco, não uma camisola lilás com o desenho de alguma princesa (nada contra, inclusive gosto muito ainda hoje, só não era minha vibe na época). e eu também quis um patinete verde, mesmo que a moça da loja tenha falado que essa cor era ~de menino~, porque verde é uma das minhas cores preferidas. meu pai não tentou me convencer a comprar o vermelho cereja - o famigerado ~de menina~ - porque ele me respeitava como uma pessoinha que já podia tomar as próprias decisões sobre a cor dos brinquedos. além disso, ele sabia muito bem que uma coisa não tinha absolutamente nada a ver com a outra. se eu queria o verde, era esse que eu ia ganhar. dane-se a moça da loja e o patinete feminino.  

mesmo que eu já tenha escutado coisas como "você é menina, tem que ajudar sua mãe a arrumar a mesa", aqui em casa as coisas sempre foram bem equilibradas. meu irmão tinha que lavar a louça todo dia, não se safou dessa tarefa só porque era homem. apesar de tudo, cresci num ambiente em que sempre me senti muito a vontade pra falar, fazer e usar o tipo de roupa que eu quisesse. minha família tá longe de ser perfeita, mas seria absurdamente maravilhoso se mais pais por aí fossem iguais aos meus. vendo essas fotos antigas eu percebi o quanto eu sou privilegiada por sempre ter sido tão amada e respeitada por esses dois, que sempre me deram toda a liberdade possível pra ser quem eu sou. por mais clichê que isso seja, não dá pra negar que eu devo a eles tudo o que eu sou hoje.