quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

é cada uma que eu tenho que ouvir...

meu namorado é ciclista. 

já faz cinco anos que a gente tá junto e faz mais ou menos isso também que ele pedala. a bike é um pedaço tão grande da vida dele que, consequentemente, acabou entrando na minha. foi ele quem me ensinou a pedalar, inclusive (aham, eu já tinha 19 anos ^^). 

eu sou daquelas namoradas bem babonas mesmo, morro de orgulho de ver tudo que esse menino é capaz de fazer quando tá em cima de uma bicicleta. e não é pra menos, já que ele é a única pessoa que eu conheço que pode falar que já pedalou 500km em apenas 4 dias. SABE? é esse o nível do atleta.

mas como ninguém nasce expert, ele precisa treinar bastante pra fazer tudo o que faz. e isso significa que a nossa rotina enquanto casal foi obviamente afetada pela rotina dele enquanto ciclista. nós nunca dormimos juntos de sexta feira, porque aos sábados ele sai de casa as 6 da manhã pra pedalar (e eu não consigo continuar dormindo depois que ele acorda, tenho sono leve e blabla). nós raramente almoçamos juntos de sábado, porque os treinos dele são longos e ele demora pra voltar pra casa. se ele tem uma noite livre durante a semana, ele não vai ocupar esse buraco saindo comigo: ele vai usar pra pedalar. é claro que no começo isso me incomodava, mas depois de cinco anos eu já tô mais do que acostumada, né? e aprendi que a melhor forma de lidar com isso é me adaptar a essa realidade. por exemplo, tudo que eu preciso fazer, eu dou um jeito de enfiar nesse período de tempo em que ele tá treinando, assim a gente consegue aproveitar o resto do fim de semana. 

por mais que às vezes eu sinta falta de passar o sábado com ele (tem dia que a gente só consegue se ver de noite), tá bom desse jeitinho. se ele treina, ele fica feliz. se ele fica feliz, eu fico feliz. e assim a gente segue, juntinhos, fazendo as adaptações necessárias sempre que for preciso.

toda vez que eu falo pra alguém que meu namorado é ciclista e começo a contar as peripécias desse homem, as pessoas tem uma dessas duas reações:
1) ou elas ficam perplexas e falam coisas como "meu deus como ele consegue pedalar tanto assim, só de pensar eu já morri"
2) ou elas automaticamente falam do perigo que é andar de bicicleta em são paulo (ainda mais em tempos de prefeito que quer acelerar a cidade...)

mas esses dias, pela primeira vez, eu me deparei com um comentário que fugiu dessas duas respostas já esperadas. a coisa foi tão absurda que eu duvidei que tava ouvindo aquilo. no começo eu tava respondendo, mas depois eu desisti. já parei de bater palma pra maluco dançar.

a seguir, uma representação desse bendito diálogo:

eu: tem dia que o leonardo sai de casa as 6 pra pedalar e volta só de tarde
a pessoa: e você não tem ciúmes?
eu: na verdade, não (daí eu já comecei a desconfiar que a conversa ia degringolar, né...)
a pessoa: eu duvido que você não tenha ciúmes! é impossível não ter!
eu: mas não tem razão pra isso... 
a pessoa: mas não tem ninguém que pedale com ele que você desconfia? (aí eu já tava querendo me enfiar num buraco né, tava sentindo até vergonha)
eu: gente, que isso, imagina, ele só pedala com homem (sei lá, tava respondendo qualquer coisa só pra ver se o assunto acabava)
a pessoa: mas como você pode ter certeza que ele sai mesmo pra pedalar? olha bem hein, nunca se sabe. é de se estranhar um cara que sai de casa todo sábado de manhã e só volta depois do almoço...

nesse ponto eu virei pro lado e continuei conversando com outra pessoa, que me perguntou coisas coerentes com o assunto (por exemplo, "mas ele pedala em estrada também ou só na cidade?").

gente, pelo amor de deus.

QUAL A NECESSIDADE? a pessoa tem que ser muito amarga pra sugerir uma coisa dessa sem razão. foi um despropósito tão grande! imagina se eu fico desconfiada e arrumo encrenca com o menino? imagina se sugerir traição é gatilho pra mim e isso me deixa com a autoestima abalada de graça? pra que soltar um comentário maldoso desse? deus me livre e guarde.

uma das coisas que eu aprendi nessa vida e que eu faço questão de colocar em prática é: se você não tem nada de bom pra acrescentar, fica quieto. pena que nem todo mundo consegue exercitar o bom sensinho. a nossa convivência com o próximo seria tão mais fácil se as pessoas fossem capazes de colocar a mão na consciência por um minutinho...