terça-feira, 25 de outubro de 2016

100% exausta

nunca é exatamente uma delícia andar de ônibus por essa cidade cinza, mas hoje realmente a coisa se superou - negativamente falando, é claro.

pra começo de conversa, saí do conforto do meu lar nessa manhã fria e chuvosa e fui pra faculdade só pra fazer uma prova, na segunda aula. mesmo sem necessidade, fui no meu horário normal (ou seja, acordei 05h30 da manhã pra chegar na faculdade às 08h00...) porque quis usar esse tempo pra estudar. em casa eu me desconcentro muito fácil, porque tem muita coisa mais divertida pra fazer. mas sentada sozinha numa sala de estudos de outro prédio na faculdade, cercada unicamente pelo meu material, eu consigo estudar bonitinho. pois bem.

a prova começou às 10h00. como eu tinha estudado direito, li as questões e não tive problema em começar a responder quase de imediato. devolvi a prova pra professora inteiramente respondida às 10h40. o primeiro ônibus que eu pego pra voltar pra casa só passa uma vez na vida e outra na morte (ou de 30 em 30 minutos, como você preferir), então saí correndo pra chegar no ponto a tempo de pegar o ônibus das 11h. deu certo. sentei no banco, comi minhas bolachas, li meu livro (água viva - clarice lispector, caso alguém se interesse em saber) e cheguei no terminal às 11h30, o horário mais ideal possível. isso porque o horário previsto pro meu segundo ônibus sair do terminal e ir em direção à minha casinha era às 11h36. ideal, né? aí é que a gente se ilude...

essa linha de ônibus é tipo a pior do mundo inteiro, vive dando problema, mas como fazia muito tempo que eu não passava nenhum perrengue com ela, eu meio que esqueci desse detalhe e sequer cogitei a possibilidade de ficar parada no terminal por CINQUENTA MINUTOS esperando o ônibus aparecer e resolver, finalmente, me levar pra minha casa. sim, queridos, é isso mesmo que vocês leram: foram CINQUENTA MINUTOS de espera por uma porra de um ônibus em pleno terminal.

pra vocês terem uma noção, essa linha de ônibus não é uma qualquer, que passa por lugares aleatórios e, por isso, não precisa de muito carro rodando por aí. porra, os ônibus passam por um shopping, por um hospital público, por uma delegacia, por vários mercados, por pelo menos cinco escolas... sabe? e vai em direção a outro terminal, aliás. é uma puta linha importante! e é preciso dizer que o percurso entre esses dois terminais é, segundo o google maps, de uns 7 km. NÃO É LONGE, É PERTO PRA PORRA, NÃO TEM NADA QUE JUSTIFIQUE UMA HORA DE DIFERENÇA ENTRE A SAÍDA DE DOIS ÔNIBUS.

tinha uma porrada de idosos na fila do ônibus esperando essa caceta aparecer. em pé, porque o terminal não tem estrutura suficiente pra dar conta de 15 idosos sentados perto do ponto. também tinha uma porrada de gente que provavelmente se atrasou uma hora pra aparecer no trabalho, na escola, pra buscar o filho na creche, pra colar no pronto socorro do hospital, enfim. quem é que tem cinquenta minutos pra perder parado na porra de um terminal de ônibus hoje em dia? muita gente desistiu de esperar e foi atrás de outro ônibus, mesmo sem nem conseguir chegar diretamente no seu destino final, só pra não ficar plantado que nem um imbecil. eu continuei ali porque além daquele ser único ônibus que sai desse terminal e passa na avenida perto da minha casa, também tava chovendo. depois de ficar ali parada por trinta minutos, eu me recusei a fazer outro caminho e ainda tomar chuva na cara. preferi esperar até o final. 

o ônibus apareceu por volta de 12h15 e só saiu do terminal um pouquinho depois de 12h20. como tinha uma quantidade absurda de pessoas dentro dele e esperando por ele em quase todos os pontos por onde ele passa, o trajeto demorou um pouco mais que o normal e eu só cheguei em casa praticamente às 13h00.

também de acordo com o google maps, minha casa fica a mais ou menos uns 18 km de distância da minha faculdade. quando eu consigo pegar carona com o meu pai, a gente pega trânsito na marginal às 7 e pouco e, mesmo assim, demora só uns 45 minutos pra chegar. hoje eu demorei DUAS HORAS desde que entrei no ônibus depois da prova até a hora em que finalmente coloquei os pezinhos na sala de casa. AH, antes que eu me esqueça: como se não bastasse, pra coroar a história, ainda tinha uma barata dentro do ônibus. legal pra porra, né? ^^

depois os caras saem quebrando vidraça de banco, pixando patrimônio público e tacando fogo em ônibus e as pessoas insistem em dizer que não entendem os motivos pra tanto vandalismo. tem mais é que quebrar a porra toda, o bagulho já num funciona mesmo, que diferença faz? deixo aqui o meu mais sincero vai tomar no cu pra sptrans e pra essa porra de cidade mal administrada em que a gente vive. tá cada dia mais foda depender desse monte de serviço público lixo que a gente recebe. 

e por aqui eu encerro esse relato cheio de fortes emoções. beijos, boa noite e até a próxima.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

estado de alerta nonsense

eu sempre acordo antes da hora, parece que meu cérebro não consegue relaxar e eu fico em eterno estado de alerta (enquanto durmo, não necessariamente enquanto estou acordada), então às vezes eu acordo do nada, desesperada, pensando que me atrasei pra alguma coisa. na verdade não é só às vezes, é praticamente todo dia. normalmente acordo uns vinte minutos antes do despertador tocar, só pra ficar naqueles segundos de dúvida entre voltar a dormir ou não. eu sempre fecho os olhos e tento cochilar, mas o estado de alerta me impede. e se eu dormir agora e não ouvir o despertador quando ele finalmente tocar? etc e tal. (mesmo que seja feriado e ele sequer esteja programado pra tocar em horário algum.)

daí teve esse dia durante o beda em que eu acordei apavorada por volta de oito e meia da manhã pensando que não tinha nada pra postar aquele dia, nenhum texto programado, e que isso ia acabar com o meu projeto. provavelmente em pleno domingo, deitada no conforto da minha cama, ao lado do meu namorado, enrolada nas cobertas e ainda um tanto perdida de sono, e esse foi o meu primeiro pensamento. loucura, né? e a pior parte é que em vez de fechar os olhos, virar de lado, me aconchegar melhor nos braços do boy e voltar a dormir, eu peguei o celular e comecei a escrever um texto. com o brilho da tela no mínimo possível, pra não acordar meu namorado, eu inventei um assunto qualquer e inclusive programei o post pra ir ao ar num determinado horário, pra não correr o risco de esquecer de publicar.

na hora isso parecia a coisa mais óbvia e natural a se fazer, mas depois fiquei pensando no tamanho do absurdo que foi isso. é assustador o quanto a gente se deixa consumir e contaminar por umas bobagens que não fazem o menor sentido, né? pelo amor da deusa, onde é que já se viu perder o sono por causa de post pro blog. pra esse blog, que não me traz nenhum tipo de lucro, que só me dá uma satisfaçãozinha pessoal. (e que é tão inha que realmente não justificaria acordar no meio da minha soneca pra resolver esse "problema".)

a paz de espírito, meus amigos, ela é realmente desejada por aqui. queria muito toda aquela vibe brega de calma na alma e afins, mas a cada dia que passa eu sinto que estou um passinho mais longe de alcançar essa caralha.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

nova óptica

depois de tantos anos usando aquelas lentes mágicas, quase milagrosas, ele podia finalmente se ver longe delas. ao tirar seus óculos e se olhar no espelho, um arrepio lhe percorreu a espinha. era a primeira vez em uma eternidade que ele se enxergava novamente, de verdade, sem precisar da ajuda de nenhum outro utensílio além de seus próprios olhos castanhos. agora, sem os seus óculos, ele precisava se reinventar. ou melhor, precisava se redescobrir. 

aquelas lentes estavam há tanto tempo atreladas ao seu corpo, ao seu ser, que ele estava apreensivo de se ver afastado delas. será que seus olhos dariam conta de enxergar sozinhos toda a loucura que os cercava? afinal, eles estavam desacostumados a lidar com tantas informações por conta própria. parado em frente ao espelho sujo do corredor, ele chegou a pensar se aquela era mesmo a sua imagem real, se ele sempre fora daquele jeito, ou se a não-necessidade das duas ex-lentes mágicas teria modificado a sua figura. 

essa desconfiança era motivada por uma percepção diferente da realidade, já que agora a sua perspectiva não estava mais emoldurada por uma armação arredondada. antes, além de melhorarem a sua visão, os seus óculos também serviam como escudo: eram uma barreira, ainda que quase imaginária, entre ele e o resto do mundo. sem eles, o rapaz sentia-se desprotegido, desamparado, quase nu. não poder se esconder atrás das suas lentes anti-reflexo eram uma experiência nova. ele, que sempre quis se ver livre da obrigatoriedade do uso dos óculos, percebeu que se apoiava neles e nos conceitos pré-fabricados que as outras pessoas traziam quando lidavam com alguém de óculos. era uma bobagem, sim, mas ele sabia que se aproveitava disso, bem lá no fundo. agora já não dava mais pra dizer pra colega de trabalho que ele não deu oi quando cruzou com ela no mercado porque não enxergava de longe, por exemplo. também não dava pra evitar a leitura de um texto, ou qualquer outra coisa desse tipo. não havia mais a possibilidade de se esconder atrás das lentes pra fugir de certas situações.

seus olhos não teriam mais folga nenhuma, agora eles precisariam funcionar sozinhos o tempo inteiro. ele sempre quis essa independência, mas agora que a tinha, ficou sem saber o que fazer com ela. 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

can i get an amen?

faz uns dias que eu falei aqui sobre o fim do meu estágio, né? e disse que voltaria no meio de outubro, ao final do meu contrato, pra contar um pouquinho mais dessa experiência. o fato é que eu tô antecipando em duas semanas esse post por motivos de: já não estou trabalhando mais!!! eu ainda tinha quinze dias de recesso pra tirar, então emendei essas mini férias com o final do estágio e TCHARAMMM, já tô lindamente deitada em berço esplêndido na minha casa enquanto escrevo isso daqui :)

olha, eu acho realmente que essa antecipação foi uma recompensa do universo por eu ter aguentado todo esse tempo sem cometer nenhum crime, sem ter xingado a minha chefe, sem ter tentado explodir a empresa. enfim, por sempre ter me comportado direitinho conforme o esperado apesar da vontade de sair chutando todos os baldes pelo caminho. ^^

eu fiz um ano de estágio na área de acessibilidade da tv cultura, redigindo e revisando os roteiros de audiodescrição da grade da emissora. mesmo depois de tanto tempo eu ainda não sei explicar o que é e como funciona exatamente a AD de uma forma adulta, então deixarei aqui a definição da wikipedia: "Audiodescrição é a uma faixa narrativa adicional para os cegos e deficientes visuais consumidores de meios de comunicação visual, onde se incluem a televisão e o cinema, a dança, a ópera e as artes visuais. Consiste num narrador que fala durante a apresentação, descrevendo o que está a acontecer no ecrã durante as pausas naturais do áudio e por vezes durante diálogos, quando considerado necessário". é um negócio muito legal, de verdade. caso alguém se interesse em saber mais, vale a pena dar uma pesquisadinha nas internets ;)

não entrarei em muitos detalhes aqui pra não correr o risco de me complicar futuramente, mas preciso dizer que, mesmo que esse estágio tivesse todo o potencial do mundo pra ser o maior sucesso possível, foi bem frustrante. primeiro porque não tinha nada a ver com o meu curso, então em vez de me ajudar a colocar os meus aprendizados em prática, só servia pra me tomar tempo e me impedir de estudar. segundo porque a carga de trabalho era ínfima, já que a empresa só tá preocupada em acessibilizar o mínimo de horas de programação exigido por lei, então se você coloca cinco (!) estagiários pra dar conta de meia dúzia de programas que costumam inclusive reprisar com uma frequência meio alta, é óbvio que essas pessoas vão passar muito, mas muito tempo mesmo sem ter absolutamente nenhum trabalho pra fazer. e terceiro porque o salário, meus amigos, ele era tão pequenininho que não parecia nem real.

mas não posso só falar mal, já que esperei meu contrato acabar porque quis, então algo de bom deve ter me motivado. né? então... a empresa é super pertinho da minha casa, o que é praticamente uma raridade, e isso foi uma das coisas que mais pesou pra mim. e como eu moro com meus pais e não tenho nenhuma conta fixa pra pagar, eu não preciso de um salário absurdo de alto (gostaria muito né, sinceramente, mas precisar eu num preciso não). isso sem contar o vale refeição e o vale transporte, que livraram d+ a minha cara. e a empresa é super tranquila, os horários eram tão flexíveis que se eu quisesse chegar às 10h da manhã na segunda e as 16h da tarde na terça ninguém ia se importar, se eu quisesse ir trabalhar de chinelo e pijama também não teria problema nenhum... então é assim: realmente não era o trabalho mais motivante do mundo (muito pelo contrário), mas tinha umas vantagens que eu simplesmente não podia deixar de levar em consideração.

cumpri meu contrato da melhor maneira possível, mas recusei estender por mais um ano porque eu simplesmente não podia me obrigar a continuar sofrendo dessa forma. foi com um alívio imenso que eu disse pra minha chefe que não tava interessada em renovar o contrato não, obrigada, valeu pela oportunidade mas eu realmente vou deixar passar etc. :)

fazendo um resuminho básico, o que eu aprendi com essa experiência foi:

1) um ano passa muito rápido - por mais que os (muitos) dias sem trabalho tivessem se arrastado, os meus doze meses na empresa voaram! meu contrato acabou mais rápido do que eu esperava, por mais que eu já estivesse frustrada e querendo ir embora desde o quarto mês hahaha

2) um chefe ruim pode acabar com a saúde dos funcionários - não que minha chefe fosse daquelas horríveis que a gente vê em filme, mas ela realmente não facilitava muito a nossa vida. tenho um monte de coisa pra elogiar nela também, mas a parte ruim era meio sufocante pra mim. tinha dias que eu contava os minutos pra ela ir embora, porque parece que ficava até mais fácil de respirar depois que ela ia. era todo dia uma dor de cabeça diferente, uma sensação bem ruim mesmo :(

3) muito trabalho é melhor do que trabalho nenhum - gente, sério, confia em mim quando eu digo isso!!! eu sei que provavelmente você tá lendo isso e tá achando que eu reclamo de barriga cheia, que ter tempo livre no trabalho é o sonho de qualquer um e coisa e tal. e eu até concordo com você, desde que isso aconteça esporadicamente e não todo santo dia por um mês. porra, imagina você passar seis horas do seu dia preso numa sala fechada, sentado na frente do computador, sem absolutamente nada pra fazer ali? desperdiçando 1/4 de dia, sendo inútil por todo esse tempo, quando você poderia estar em qualquer outro lugar do mundo que isso não faria a menor diferença... soma a frustração de se sentir desnecessário com a obrigação de estar ali mesmo assim por praticamente um ano e depois me fala se num é um negócio que desgraça a cabeça da gente!!

4) faça amizade com as pessoas que trabalham com você - já que é pra ficar seis horas do lado dessas pessoas sem ter nada de útil pra fazer, então vire amigo delas pra tornar a coisa toda pelo menos um pouquinho mais divertida. e mais fácil de ser vivida, também!!

pra finalizar, dá pra dizer que apesar de ter sido uma bosta, também foi uma experiência boa! esse primeiro estágio vai ficar guardadinho num lugar especial, disso eu tenho certeza. :)