numa aula sobre literatura americana, falando sobre preconceito e racismo, a professora disse que a forma do romance que nós estávamos estudando (go tell it on the mountain - james baldwin) causava um distanciamento crítico entre o leitor e a obra, pra fazer o leitor pensar e não apenas sentir. então uma aluna disse que por mais que o beloved da toni morisson também se utilizasse de um recurso formal pra causar essa distância crítica, ao ler o livro ela quase não pensou - só sentiu.
aí outra aluna disse que com ela foi a mesma coisa. ela leu, sentiu e chorou. e depois, quando parou pra pensar, chorou mais ainda. a professora disse que a ideia de "sentir-pensar" era uma boa representação do que a gente sente quando se trata de discutir opressão. se você tiver um pingo de empatia, mesmo que o preconceito não te atinja diretamente, você sente. e depois você para pra racionalizar uma coisa tão absurda e o sentimento que brota é pior ainda. por exemplo, eu que sou branca e nunca sofri preconceito algum por causa da minha cor chorei fácil lendo livros que tratam do racismo, porque é surreal que alguém se sinta melhor que outra pessoa por ter menos melanina no corpo.
daí uns dias se passaram e eu tive um belo breakdown depois de conversar sobre preconceito e homofobia. chorei e entrei em crise pensando em como é que pode alguém ter a pachorra de dizer que não aceita que duas pessoas do mesmo sexo se beijem (a conversa não era nem sobre gênero, pra não complicar as coisas). e olha que eu beijo pessoas do sexo/gênero oposto, então não sofro as consequências da homofobia, mas ainda assim esse preconceito me ofendeu.
me assusta pensar que pessoas ao meu redor não são capazes de descer do seu pedestalzinho, de se colocar no lugar do outro, de refletir a respeito do que tá acontecendo. e eu sofro quando tô em uma discussão e percebo que a outra parte não quer dialogar, não quer ouvir, só quer continuar afirmando a própria opinião, além de dizer de boca cheia que "minha opinião é essa, eu nunca vou mudar". como é que pode uma coisa dessa?
a gente tá caminhando a passos tão, mas tão lentos que às vezes eu tenho a impressão de que a gente sequer saiu do lugar.
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